viii. ruptura

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o primeiro indício havia sido uma pequena fenda naquela parede imaculada, tão aparentemente inofensiva que sequer lhe deram a atenção devida que ela merecia. afinal, qual risco um buraquinho tão minúsculo poderia oferecer?

vendas foram postas sobre seus olhos, tudo fora feito para que todos ignorassem aquela rachadura, então ele também não se importou com ela. acontece que rompimentos como aquele nunca permanecem de um tamanho tão singular, e progressivamente foi se tornando cada vez mais visível.

uma ruptura.

ao passarem por aquela parede, muitos notavam que aquela fenda pendia para desmoronar sobre o habitante por trás dela. entretanto, pensavam que, se ele — quem morava ali —, não parecia ser perturbado pela fresta que se tornara tão gigantesca, que razão teriam para se importarem também?

fingiram não notar, passando por eles — sua ruptura e ele — como se sequer existissem, e o homem por trás dela se encolheu em si mesmo aguardando o fatídico momento em que sua rachadura desmoronaria e acabaria com ele.

ele se sentia desgastado em observar algo que outrora fora tão decoroso se transformar em uma flor prestes a perder suas últimas pétalas, contudo lhe faltaram forças para erguer-se e reconstruir o que havia se degenerado continuamente.

o homem pôs-se, portanto, na linha de espera, sentado em uma poltrona puída com um suspiro exausto lhe escapando dos lábios, aspirando pelo instante em que alguém perceberia que ele precisava de auxílio para construir novamente aquilo que se havia destruído. ou talvez ele só estivesse ansiando que a ruptura viesse sobre ele para sempre.

minha alma se despeOnde histórias criam vida. Descubra agora