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Aquele infarto que estavam tentando evitar quase aconteceu quando Wasuke voltou carregando malas de viagem e encontrou seu neto conversando animadamente com os dois estranhos enquanto servia chá com biscoitos.

A criança falava baixinho, como se extravasar sua empolgação pudesse trazer algum tipo de incomodo e os feiticeiros mantiveram-se no mesmo tom, portanto suas presenças não foram percebidas até aquele exato momento.

- YUUJI! - O Itadori mais velho gritou angustiado, tentando se aproximar para se colocar entre o de cabelo rosa e os outros dois, mas Uyara estava parada no seu caminho, o que parecia ser impedimento suficiente para considerar a ação como uma batalha perdida.  

- Ojii-san! - O menino olhou para ele com tanta alegria que, por um instante, conseguiu desarmar a preocupação do mais velho. - Esses são Gojo-sama e Kioku-sama! Eles são bruxos muito poderosos e trabalham escondidos para nos proteger do mal, não é incrível? -  Suas palavras vieram aceleradas, sua voz se tornou mais aguda conforme falava e ele gesticulava para tentar explicar melhor. Os referenciados se entreolharam, achando graça do tratamento muito respeitoso. - Vieram falar com o senhor. - Acrescentou tardiamente, quando começou a murchar por perceber que o avô não compartilhava de seu entusiasmo. 

Wasuke olhou para os dois com um tipo de frieza dura, típica de traumas deixados por seus arrependimentos passados. Ele parecia dividido entre arriscar uma fuga suicida, ou permanecer preso entre as patas dos predadores maiores, rezando por qualquer tipo de misericórdia em seus corações.

Por fim, pareceu que sua conclusão foi que obviamente não conseguiria sair dali com o garoto e escolheu ficar. Sentando-se a mesa e reivindicando um pouco de chá para aparentar uma calma inexistente. Incomodava-o que os estranhos não tenham tentando demonstrar o mínimo de interesse em civilidade e estivessem sentados, desleixada e despreocupadamente, longe do zabuton*. O observando como se fosse um animal acuado.

- O xamanismo pode ter um papel importante e uma boa ideologia, mas está repleto de cobras bonitas, convencidas demais pelo poder em suas veias e com um gosto cruel em agir como deuses, brincando com a vida dos outros. - Ele olhou para os feiticeiros, criticamente. - Vocês não são bem vindos na minha casa. Minha família já pagou demais por acreditar nos sonhos falsos que vocês oferecem.

Eles não podiam exatamente dizer que o homem estava errado em sua convicção, o Itadori estava perfeitamente correto em desconfiar das suas figuras amedrontadoras que dividiam o espaço de sua cozinha.

Os seis olhos expostos pareciam deixar o idoso ainda mais ansioso, como se isso o oferecesse a desconfiança de que, talvez, o albino possuísse algum mérito para poder agir com a superioridade de uma divindade. Foi pelo medo racional que isso implicava que Uyara sutilmente pediu, na privacidade de sua mente, que saísse da visão do homem e que levasse o menino consigo.

- Neeh, Yuuji-kun, porque não deixamos esses dois chatos aqui e você me mostra aquelas histórias incríveis da qual estava falando? - Ele sorriu para o pequeno e demonstrou um interesse animado na voz, o que não era algo atípico de sua personalidade, mas que pareceu significar o mundo para o outro.

- Hai! - A coisinha de cabelo rosa respondeu antes que pudesse se conter, com suas bochechas ganhando um tom de vergonha ainda mais forte que suas madeixas em seguida. - Por aqui!

Parecia que sua alegria superava a sua timidez, porque logo depois ele agarrou sua mão estendida e começou a puxa-lo na direção do que deveria ser o seu quarto. Em toda a movimentação, olhos caramelizados se mantiveram cuidadosamente longe do avô, como se temesse ser impedido ou censurado com uma única expressão do mais velho.

Jujutsu Kaisen - Orbitando um buraco negroKde žijí příběhy. Začni objevovat