7- 𝙀𝙪 𝙣𝙖̃𝙤 𝙨𝙤𝙪 𝙪𝙢 𝙚𝙨𝙩𝙧𝙖𝙣𝙝𝙤.

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Era segunda-feira e Jian Yi saia de sua casa para apanhar o comboio.

Ouvia música pelo caminho e tirava os fones quando avistava as passadeiras por onde atravessava para a estação. Sentou-se num banco à espera e quando chegou ao seu destino às oito horas em ponto o comboio parou na sua frente levando-o à estação mais perto da escola.

Levava-lhe cinco meros minutos de caminho. Sabia que até nesses mínimos minutos era observado. Tal como a sua rotina matinal, também já se tinha habituado a esse facto. Facto esse que se esquecia na presença do melhor amigo.

Este esperava-o à frente da escola encostado de braços cruzados a um poste cheio de publicidades de limpa chaminés e de antigos posters de eleições agora abandonados ao acaso onde ninguém lhes liga e nunca ligou, mas onde o moreno dormia incrivelmente em pé.

A vontade de Jian Yi era descruzar aqueles braços e correr dali para fora com ele. Nessa ocasião iria contar tudo, até o que sentia e que encobria dele. Com sorte, o outro dar-lhe-ia um beijo e diria que sentia o mesmo. Com sorte... Porém, era tudo uma fantasia.

Caminhou mais alguns passos e deu-lhe com o seu dedo direito na testa.

-Bom dia. -Abriu um sorriso de orelha a orelha quando o outro semicerrou o seu olho esquerdo expondo o seu bonito e desejável azul-turquesa.

Como resposta nada houve se não um "hm" repleto de preguiça. Sabia melhor que ninguém que de manhã não se devia aventurar a falar muito para o de cabelos castanhos. Se a paciência para o aturar durante um dia já era pouca, não podia imaginar como ele o aguentara durante anos até ali. Conhecia Zhan Zheng Xi desde o infantário. Era o seu único amigo. Eram "irmãos" com pais e casas diferentes. Também personificava outras coisas na imaginação do loiro, que ele não iria referir em alto som. Não queria que o moreno soubesse.

Nem o seu pai. Nem a sua nação.

Depois de algum tempo a divagar pela escola, a falar sobre o quanto não queria ter a aula da manhã e que "queria morrer" enquanto juntava umas expressões em inglês às suas falas por achar esse hábito importante para o seu intelecto, a campainha tocou e ambos foram para a sua sala devida.

Estavam ambos na mesma desde o oitavo ano, o que fazia Jian Yi se achar sortudo ou 'lucky'- como ele dizia- por o ter sempre debaixo do olho.

Dois passos à frente encontrava-se Mo, que se escondia na esquina daquele corredor. Era fácil descobrir o porquê... Naquele dia havia outro trabalho de grupo. Não queria ir à primeira aula. Com esse seu plano achava que She Li tinha de encontrar outro par que não ele.

As atitudes do albino desagradavam ao ponto de fugir dele e faltar a uma aula se fosse o caso. Mas para sua sorte, se bem que até agora não tenha sido nenhuma, o outro rapaz decidiu entrar pelas portas das traseiras e ir por aquele corredor.

Ao chegar perto do ruivo, que de costas observava o outro corredor à espera que ele entrasse na sala, tocou-lhe no ombro.

Mo queria seriamente se desfazer em lágrimas naquele momento. Mesmo não tendo ainda olhado para o sujeito que estava atrás de si, era óbvio que aquela força e respiração pesada o fazia reconhecer o indivíduo atrás de si, além de que o seu perfume também era marcante e forte o suficiente para se cheirar a alguns metros de distância. Por vezes, conseguia perceber que o albino estivera com alguém quando aquele cheiro amadeirado acompanhava-lhes as suas roupas.

Então a voz do outro ecoou pelo corredor quase vazio permitindo uma lágrima escapar dos olhos cor de amêndoa.

-Eu sabia que ias fazer isto.

-Deixa-me em paz, por favor. -Esquivando-se da mão do albino Mo encostou-se ainda mais à parede e rapidamente limpou a lágrima que teimava em correr livre na sua bochecha.

"𝙇𝙞𝙫𝙞𝙣𝙜 𝙄𝙨𝙣'𝙩 𝙁𝙪𝙘𝙠𝙞𝙣𝙜 𝙀𝙖𝙨𝙮" - ᵗⁱᵃⁿˢʰᵃⁿ 19ᵈᵃʸˢWhere stories live. Discover now