Paz artificial

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Ainda bem que as crianças eram pequenas demais para cogitarem abandona-lo. Elas traziam um tipo de propósito que não conseguia explicar.

E, além disso, noites recheadas por inúmeros rostos e nomes, que nunca tentou guardar em suas memórias, também traziam alguma sensação de estabilidade.

Um sentimento mais sujo e corrompido, mas que fornecia um prazer egocêntrico e o divertia por alguns instantes. Saber como era capaz de fazer pessoas se fascinarem por suas piores facetas se tornou importante.

Esse era o nível do quão mal estavam. Satoru passou a querer ouvir estranhos implorarem por ele e Kioku não se importou, ao contrário, o invejou.

Não parecia certo que se considerassem donos um do outro quando uma parte essencial da dinâmica que amavam se perdeu. Eles não suportavam pensar naquilo que tinham antes quando isso apenas os lembrava de que nunca mais seria a mesma coisa.

Haviam falhado como unidade e isso era inaceitável.

Então Gojo explorava a idolatria humana, jogando com sentimentos de conquista e frustração enquanto Uyara mergulhava no dever como nunca havia feito antes. Coisas que conseguiam distrai-los ao mesmo tempo em que os consumia lentamente.

Patético.

Essa noite, em específico, poderia ter sido uma repetição das anteriores em que encontrou tempo para algo que não fosse a sua carga de responsabilidades como feiticeiro mais forte e o gastou extravasando um de seus lados terríveis, porém decidiu se dedicar a outras coisas importantes.

Usar Tsumiki para atrair Megumi não era um bom indício de caráter, mas se convencia de que era o melhor que podia fazer, considerando que o menino não parecia muito ansioso em passar tempo com ele, mesmo que gostasse disso.

Satoru sabia que todo o receio dos dois estava ligado ao fato de que eles tinham medo de se apegar, de confiarem tanto em alguém de novo e de se estabelecem com a fé de estarem seguros, apenas para serem abandonados outra vez. Os entendia mais nesse aspecto do que em qualquer outro.

Era por isso que deixou os dois em sua casa para uma noite de filmes e jogos e foi adquirir coisas essenciais para anima-los. O que se consistia de doces, aperitivos e bebidas, já que a menina tendia a sempre alimentar o irmão muito corretamente e alguém precisava ser a figura responsável por estraga-lo.

Tudo deu certo com essa parte do planejamento, já estava até voltando para incomoda-los, mas foi nesse momento em que ele viu a solução para acabar a carranca de raiva constante do Fushiguro mais novo.

Havia esse gatinho branco muito peludo escondido no final de um beco. Uma coisinha magrela, imunda e possivelmente sarnenta, mas que olhava para o mundo com seus grandes olhos azuis como se fosse o dono dele.

Alguma coisa o conquistou imediatamente nesse bichinho.

Portanto, considerando que o menino era apaixonado por animais, não hesitou em reivindicar o filhote e leva-lo consigo.

O gato não pareceu muito feliz com um estranho o agarrando pela nuca e fazendo mágica para aparecer em outro lugar, se seus miados e garras o atacando fossem algum indício. Mas ele logo percebeu que estava nas mãos de um predador muito maior e ficou quieto, apesar de resmungar baixinho.

Gojo estava se auto parabenizando pela ideia genial quando apareceu na porta de sua residência. Ele poderia aparecer do lado dos pirralhos para assusta-los, como sempre fazia? Sim, mas estava tentando ser legal aqui!

Nada poderia estragar sua noite, certo?

Errado.

Tinha alguma coisa diferente ali. Algo sutil, quase imperceptível, uma presença que quase conseguia se esconder completamente dos seus sentidos. Uma energia que não deixou rastros, porém que definitivamente não era como a característica da espécie humana.

Jujutsu Kaisen - Orbitando um buraco negroOnde histórias criam vida. Descubra agora