𝘾𝙖𝙥𝙞𝙩𝙪𝙡𝙤 𝙊𝙞𝙩𝙤

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— O que seus irmãos tem?

— Arthur e John são um pouco supersticiosos e já deve saber o que se fala de você em Small Heath...

— Na verdade não, mas sei que o senhor Kimber jamais me trataria dessa maldita forma — piscou várias vezes se reclinando em sua cadeira — Seus irmãos me trazem aqui como se eu fosse a porra de um cachorro com sarna, me empurram e me enchem de terra, para me trazer a uma imunda reunião junto a droga de um canal cheio de mofo

— Me desculpo novamente...

— Coloca as cartas na mesa ou me leva para a minha caravana de uma maldita vez — sentenciou voltando a aspirar o cigarro, seus olhos azuis se moveu observando cada centímetro do cabelo negro ondulado dela

— Deixa seus negócios com Kimber e trabalha pra mim

— Eu trabalho para ninguém senhor Shelby, trabalho COM alguém — sorriu assentindo com suavidade

— Então trabalhe comigo

— Em troca de que?

— O que você quer? O que Kimber te dava?








Thomas Shelby

Minha pergunta fez ela colocar um sorriso nos lábios, o rosto de mel salpicado de sardas, olhos cinzas com manchinhas verdes, a bruxa cigana de Small Heath não era tão temível como todos asseguravam, aspirou o cigarro nos lábios carnudos

— Kimber me dá nada — respondeu cuspindo a fumaça — mantêm comida na minha mesa, lenha em minha lareira, afasta os caras como vocês da minha caravana e só isso

— Não quer sair da caravana?

— Não sou uma cigana de casa senhor Shelby — me acomodei na cadeira observando-a atentamente, a pele parecia brilhar com a lua

— A convido a passar um tempo na minha e ver o que acontece — sorriu

Agora entendia perfeitamente porque Billy Kimber estava tão obcecado com a famosa bruxa de Small Heath, ela passeou pelo casarão observando e analisando cada cantinho. Se livrou da roupa como se a incomodasse usa-la, fez tudo diante de mim, não podia deixar de vê-la, era como uma visão que desapareceria e apareceria nublando minha visão. Feiticeira, quem diria que me arrastaria a um abismo irreversível 

Tudo tinha saído perfeitamente, uma atuação impecável, tal e como eu tinha pensado, o rumor de que a bruxa tinha sido sequestrada chegou rapidamente no Kimber

Não tinha policiais nas ruas, só os homens de Kimber se aproximando desde o beco do Garrison. Ada apareceu do nada balançando o carrinho entre o meio de ambos os bandos

— Quem se vestiria de preto por vocês?

— Sabe? Tem razão, por que deveriam morrer vocês? Deveriam morrer os responsáveis — sacou a arma disparando direto no meu braço, segundos depois Dani caiu no chão enquanto os outros tentavam tirar Ada do meio, tudo passou em câmera lenta, só o barulho dos saltos no barro se aproximando, levantei o olhar pra ver o olhar de Kimber confuso, ofuscado e logo atravesado na testa por uma bala que parou tudo

— Já chega! — sua voz se ergueu por cima dos murmúrios fazendo que os homens de Kimber baixassem as armas de imediato ante ela, subi meus olhos até ela, o cabelo desembaraçando com o vento, enquanto segurava o chapéu

— Senhorita Moreau...

— Levem ele — ordenou avançando até eles pra se virar e me olhar —  você vai ficar bem — sussurrou piscando um olho enquanto seguia os outros pra se perder pelo beco

— Arabia! Arabia! — ela tinha me usado?




Me mantive em silêncio enquanto Polly e Ada extraiam a bala e suturavam e vendavam a ferida que o disparo de Kimber tinha deixado, estava furioso, tinha sido um peão em seu jogo perfeito de xadrez, tinha me usado pra que matasse seu chefe e pra que assim ela pudesse ser liberada. O que aconteceria agora? Polly tinha me avisado, tinha me avisado do quão perigosa poderia ser uma bruxa como ela. Esfreguei o rosto enquanto aspirava o cigarro

— Fica quieto Thommy

— Que merda você estava pensava ao se meter no meio Ada?

— Não é comigo com quem você está furioso — respondeu apertando mais a venda pra levantar-se e jogou seu olhar pra Polly - todo seu Polly

— Tinha razão

— Você ainda não sabe o que é que realmente acontece com ela — se apressou a responder servindo-me um pouco de whisky 

— A defende?

— Só Deus sabe o que esse maldito fez pra bruxa — a observei esquivando meu olhar enquanto passeava pelo quarto organizando o desastre

— O que esta me escondendo Polly?

— Fui vê-la — soltou deixando outro copo sobre a mesa — fui vê-la no bosque

— Por que fez isso?

— Porque queria ter certeza de que ela não tinha te enfeitiçado, ou amaldiçoado, precisava saber que estava a salvo indo com ela — a observei por um bom tempo sorrindo quando Polly deixou evidente seu profundo amor e preocupação — espera só um pouco, algo acontecerá

Os dias passaram fazendo-me sentir cada vez mais imbecil, mais usado, mais distraído, caminhei pelo bosque centenas de vezes esperando que os corvos chegassem em minha procura, mas não acontecia. A casa da bruxa tinha desaparecido do pântano e não tinha rastro dela por nenhuma parte, nem na pista de corrida, nem no bosque, lagos, caravanas, ninguém sabia dela. Então compreendi quando Johnny Dogs achou a casa, achou ela porque ela nos permitiu, me permitiu entrar em sua vida, ver seus rituais, conhecer seus desejos e logo... desapareceu

𝘾𝙪𝙥𝙞𝙙𝙤 𝙢𝙚 𝙛𝙡𝙚𝙘𝙝𝙤𝙪 - ᴛʜᴏᴍᴀs sʜᴇʟʙʏ x ᴏᴄ ✓Where stories live. Discover now