Redescobrindo o Amor aos 40

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Maldição, eu nem mesmo podia ouvir o jogo direito com aquela chuva infeliz fazendo um estardalhaço como se o mundo fosse desabar. Quem me dera ter a sorte de ver tudo ruir. Mas apesar de concordar que a humanidade destrói cada vez mais o planeta, não acredito que isso vá ocorrer nas próximas décadas, infelizmente.

Fui dormir mais cedo e quando a escuridão pareceu pronta para me envolver, escutei ao longe o cantar de algum galo infeliz. Levantei e atravessei a sala até a cozinha, parando ao escutar um som estridente e persistente. Fui até a porta, identificando o tipo de som e começando a suar frio. Ninguém viria me visitar. Todos da minha família me odiavam e eu a eles, não havia ninguém para estar ali com aquele barulho específico. No entanto, meu choque fora ainda maior ao me deparar com um cesto, contendo um pequenino ser humano, seu manto, brinquedinhos básicos e um pequeno bilhete.

"Por favor, cuide bem dele. Me desculpe largar tamanha responsabilidade em suas mãos, mas não tenho escolha. Preciso fugir do meu marido e com o bebê em segurança, sinto que posso cuidar disso sozinha. Muito obrigada.
Com amor, Gisele."

Naquele instante, fiquei enfurecido, sai olhando ao redor, em busca de alguém. Mas morava afastado, a casa mais próxima era a pelo menos dois quilômetros e não tinha qualquer sinal de humanos, apenas mato, terras e montanhas. Entrei dentro de casa, deixando o cesto do lado de fora. Mas o barulho não mudou, ao contrário, apenas aumentou. O frio perdurou e aumentou sua intensidade, eu podia ser tudo, mas não tão cruel a ponto de deixar uma criança passar a noite no relento. Peguei o cesto e coloquei no meio da mesa da cozinha. Havia parado de chorar. Tinha olhos tão inocentes e escuros. Respirei fundo, passei a mão em meus cabelos grisalhos e sentei na cadeira, olhando para aquele ser no cesto. Não tinha a menor ideia de como cuidar de uma criança, do que fazer quando ela sentisse fome, ou precisasse trocar as fraldas.

Nem mesmo tinha fraldas aqui!

Ah, merda. Em que porra de situação aquela mulher tinha me metido? Inferno. Eu estava tão bem sozinho, na minha casa, saindo apenas uma ou duas vezes ao mês para fazer compras e conferir meu pequeno negócio na cidade.

Para minha sorte, a do bebê na verdade, eu tinha um conhecido que trabalhava em uma farmácia e certamente poderia ajudar mandando trazer algumas fraldas para essa coisinha pequena. Liguei para Jacinto, que se espantou com meu pedido, porém o atendeu mesmo assim. Um motoboy veio entregar a encomenda.
Quando o homem chegou, parecia ter trinta e poucos anos, o que notei por ser uma coisa difícil na profissão e naquela região. A maioria dos moto-boy que tinha visto não chegava na casa dos trinta.

Ele era robusto, e tinha um sorriso fácil.

— Olá, senhor Júlio.

O cumprimentei rapidamente, segurando o bebê com uma mão, e pela quantidade de coisas, seria difícil carregar tudo aquilo. Então mesmo sem ser solicitado, ele ajudou a carregar as sacolas e foi entrando. Um cavalheiro de verdade.

— Sabe, o Jacinto ficou surpreso quando o senhor fez esses pedidos todos. Eu não costumo julgar ou me intrometer, mas ele falou que o senhor sempre viveu sozinho e raramente recebe visitas. Fiquei curioso com o que ele me contou.

— É, aconteceu algo inesperado e tomei essa responsabilidade temporária para mim. 

Ele colocou as coisas ao lado da cesta e olhou para mim, depois pra criança e por fim pro cesto.

— É o que estou pensando?

Dei de ombros, deixando o bebê dentro do cesto.

— Essa criança foi deixada aqui?

— Sim.

— Sabe quem é a mãe?

— Se eu soubesse pode ter certeza que a teria caçado até o inferno para devolver seu pacote.

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⏰ Última atualização: Jun 14, 2021 ⏰

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