38- SOFFOCATO (Sufocada)

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Me cortava o peito ver minha irmã empolgada com o mínimo, me sentia tão culpada por não ter encontrado uma saída para ela mais cedo. Se, talvez, tivesse feito mais... Me martirizava todos os dias por não ter dado a primeira infância que a ragazza merecia. Fiz tudo ao meu alcance, porém não parecia ser o suficiente. Questionei se não é melhor deixá-la viver longe de mim. É egoísmo da minha parte a arrastar para esse maldito mundo.

- Isso é ótimo, principessa! - Engoli as frustrações e forjei um sorriso. Só quero que ela fique bem.

- Tem tantas coisas que quero te contar, irmã. - Falava rápido e risonha.

- Graziela. - Ri condolente e a garota desmanchou o sorriso. - Sabe que eu te amo, não é? Que adoraria passar a tarde inteira conversando sobre as suas aventuras, mas não podemos correr o risco. Essa é a primeira e última ligação que me faz, capisce? Até Saveiro estar neutralizado é imprudente demais. - Ela apenas concordou com a cabeça, compreensiva.

- Va bene. Ti amo! - Desligou desapontada.

Sustive o celular próximo ao meu peito e senti minha garganta apertar, meus olhos ardiam e foi quase impossível segurar o choro. Era mais uma despedida sem previsão de reencontro. A inquietação me tirou do quarto e nem notei quando e como cheguei no corredor. Mantive o passo acelerado e logo abeirei o jardim, precisava urgentemente de ar fresco.

Escondida atrás de uma pilastra da varanda, consegui distinguir aquelas costas largas e a bunda bem desenhada. Pensei em me aproximar dele, todavia optei por observá-lo. No meu estado, abalada, eu não era a melhor companhia.

Meus olhos duplicaram de tamanho assim que identifiquei o objeto que ele possuía. Piero movia bem devagar a ponta da katana na grama, com movimentos aleatórios e sem precisão. Naquele instante um enorme desespero me abateu, minha respiração se tornou descompassada, o chão me faltou. O mundo parecia me esmagar, senti meu corpo ser comprimido pela angústia que me cercava. Cazzo!

- Não... não...não... não pode ser a mesma espada. - Murmurava, totalmente apavorada.

Torcia para que fosse só a minha mente me pregando uma peça de mau gosto, mas não era. Quando Piero empunhou a espada, o sol reverberou na pavorosa lâmina e vi nitidamente a arma branca. A mesma que carrega o sangue do meu avô incrustado na sua superfície metálica, a responsável por vários dos meus pesadelos. Perdi as contas de quantas vezes revivi o momento da morte de Nonno na minha cabeça.

Não podia controlar as lembranças ruins, elas só continuavam vindo, como uma enxurrada de melancolia e sentimentos inóspitos, um tsunami de tristeza e asco. Quanto mais eu lutava para permanecer na superfície mais afundava.

Um nó se formou no peito junto com a dor lancinante de ter que encarar aquele instrumento de novo. Doía olhar para o moreno, admirar os seus músculos definidos cobertos apenas por uma fina camisa de malha era uma tortura.

Não podia desejar o homem que carregava a desgraça da minha família nas costas. Não posso!

Minha cabeça se tornou uma verdadeira bagunça naquele instante, ela pesava sobre os meus ombros. Não conseguia separar a imagem do velho Martinelli da de Piero, com a maldita espada na mão era quase impossível diferenciá-los. Ignorei totalmente os momentos bons com o meu marido, não o enxergava mais. O filho de Vicenzo Martinelli, era só isso que via, mesmo sabendo que ele é muito melhor do que o cruel carrasco que conheci.

Apesar de consciente, a razão não me alcançava. O meu estômago revirava, impaciente, o conteúdo gástrico travava a minha goela. A qualquer segundo o almoço poderia voltar. Para completar o meu padecimento, Piero ergueu a peça metálica e cortou o ar de modo certeiro, seu rosto se iluminou, os olhos dele brilhavam e quase saltou de alegria.

Vendetta di Lucrézia (Vingança de Lucrézia) - 01 [Danatto Sangue]Where stories live. Discover now