— Vou revelar que não estou surpresa, entende? Eu meio que já desconfiava, mas uma mulher sem chifres, é uma mulher indefesa. – Ela pegou o cookie enfeitiçado e mordeu. Era realmente intrigante o modo como Izzie sempre parecia fazer piada com seu estado, independente da situação. Sempre foi assim. É muito fácil pensar que ela está lidando bem com as coisas, mas quando se conhece a Izabel que eu tenho a sorte de conhecer, é notável que esse jeito marrento e divertido é apenas a forma que ela encontrou para se blindar em momentos difíceis.
— Bom, qualquer coisa que precisar, estamos de portas abertas. Nesses momentos é bom distrair a cabeça... — Fui interrompida pelos passos fortes de Ellie pela casa. Ela voltou para perto da bancada da cozinha com um pergaminho na mão e uma caneta trouxa da Unimed. Ela sacudiu o objeto e apertou o botão em sua ponta superior, de maneira ansiosa, antes de começar a escrever com sangue nos olhos.
— Querida... Abigail... Ouvi dizer que você tem medo de lobo... – A menina quase rasgava a folha a cada palavra que escrevia, ditando pausadamente para si mesma todas as palavras e fazendo pequenas pausas para não se perder. Olhei sem reação, mas Izzie cuidou da situação sozinha, à medida que se levantou e puxou o papel garranchado da mesa, para que a amiga não pudesse escrever mais. Não tardou para que Ellie pegasse outro pergaminho e começasse a refazer o que havia sido tomado dela. — QUERIDA ABIGAIL... OUVI DIZER... QUE VOCÊ TEM MEDO DE LOBO...
Então Izzie pegou o papel de novo, fazendo com que a ruiva a olhasse com um olhar mortal.
— É sério, isso só vai piorar as coisas, tanto para mim quanto para você, entendeu? — A morena disse de maneira responsável, embora também quisesse voltar ao espírito escolar e pregar uma "peça" em Abby.
Nesse meio tempo, Sabine, que estava naquela época trabalhando como curandeira no St. Mungus, veio até mim e lançou um feitiço breve para curar minha mão. Ela sorriu de maneira carinhosa e eu me sentei com ela no sofá enquanto Ellie e Izzie conversavam sobre a situação, tendo a menina dos cabelos cacheados insistindo em uma vingança. Não prestei atenção no diálogo entre as duas, mas ele terminou em um abraço e risadas. Fomos nos sentar no tapete para conversar mais um pouco no tempo que ainda tínhamos.
— Olha só, não queria me convidar, nem nada, mas acho que vocês querem que eu durma aqui. – Izabel disse para mim e para Ellie com um sorrisinho maroto. — E a Sabine também quer ficar, consigo ver nos olhos dela.
— Só se não for incomodo, claro. — Bine riu e deu um cutucão na amiga.
— Vocês nunca são incomodo, claro que podem ficar. – Respondi prontamente, notando uma expressão um pouco desconfortável de Ellie. As duas chocaram as palmas de suas mãos uma contra a da outra, sorrindo. — Trouxeram suas coisas?
Em um movimento rápido, ao erguer a varinha, uma pequena malinha veio até as mãos de Izzie com um feitiço não verbal. Ela piscou um olho só e, também com magia, ajeitei uma caminha no sofá, que era espaçoso o suficiente para as duas. Von Schweetz se deitou e Carson fez o mesmo, abraçando a cintura da garota, talvez por causa do álcool ou quem sabe usando-o como desculpa para fazer algo que queria a bastante tempo. Troquei olhares com Ellie para confirmar que eu não estava doida e aquilo realmente havia acontecido e, como de esperado, foi recíproco.
Sem dizer nada, fui até meu quarto e me despi, procurando um pijama para vestir. Lancaster parou na porta com um sorriso suspeito, se aproximando um tempo depois. Sem aviso, ganhei um abraço por trás e uma série de beijos no pescoço, mas não passou disso, afinal havia visitas em casa. Coloquei um moletom quente e longo, muito maior do que as minhas outras roupas e, sem cerimônia, vesti shorts de malha listrados em preto e branco e um par de meias felpudas. Fui para o banheiro lavar meu rosto e então voltei para a sala.
— Tudo bem por aí? – Perguntei para as meninas no sofá sem notar que Carson já dormia enquanto ganhava cafuné.
— Tudo ótimo. Qualquer coisa é só chamar, ok? — Sabine me respondeu baixo e eu concordei com a cabeça. Em seguida vi Ellie virada para a bancada da cozinha como se escondesse algo, o que fez com que eu caminhasse até ela.
— Ei, o que você tá fazendo? – Perguntei com carinho.
— Han... Café? – Ela respondeu sem graça e com um sorriso quadrado no rosto, mostrando aos poucos a cafeteira que falhava em esconder com seu próprio corpo. — Azha, eu prometi que ficaria acordada. Não quero te colocar em risco. E agora ainda mais, não quero colocar elas em risco também.
— Ellie, faltam dois dias ainda. Você não precisa fazer isso... – Mesmo depois de tanto tempo, ela não havia superado o momento em seu excesso de curiosidade havia a levado rumo à licantropia. Era um assunto complicado e eu sempre tentava me mostrar compreensiva, mas ela tinha medo de dormir na véspera de lua cheia e acabar virando Lobisomem durante a noite, fenômeno que era totalmente impossível.
— Você não sabe como é essa sensação, eu não quero dormir, só essa ideia já me deixa apavorada. Consegue entender isso? Eu tenho medo de acordar e não te ver mais ali. E de saber que foi tudo culpa minha, Azha, você consegue entender? – Pelo seu tom de voz, eu conseguia captar seu desespero.
— Eu entendo. Vou ficar acordada com você e se tentar me convencer de fazer o contrário, vai acabar me mantendo acordada discutindo, então você não tem escolha. – Ela ia começar a falar, mas ficou sem saída, desarmou a postura em meio a um suspiro e começou a virar um copo de café puro.
— Nem entendi o que você falou.
— Vamos ver na prática, então. Mas você sabe que no fim das contas eu vou acabar ficando acordada. – Ela revirou os olhos e concordou com a cabeça. Fomos para o quarto.
Eu já tinha um certo costume de virar a noite acordada por causa dos meus pais. Era um trauma que me deixava com noites de sono curtas e conturbadas mesmo sem café. Ellie se deitou com o rosto em meu colo e tirou a blusa para que eu pudesse tirar os curativos de suas costas. Mesmo que já tivesse se passado um mês desde a última lua cheia, nós duas insistíamos em cuidar dos machucados até o último segundo possível. Mesmo que eu fizesse aquilo como forma de carinho, para ela era algo muito necessário.
No fim das contas, já que a ruiva havia passado a noite anterior sem dormir, nessa madrugada ela cochilou em alguns momentos, acordando assustada a cada cinco minutos. Não muito tempo depois do quinto cochilo, ela acabou adormecendo de vez enquanto eu fiquei ali acordada, aproveitando minha madrugada de aniversário ao lado de uma pessoa pela qual eu daria a vida.
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b • r • e • a • t • h • e
Teen FictionQuando Azha se lembra de suas origens e do que realmente fez com que ela fosse quem ela é hoje.
• tidings •
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