Isso significava que qualquer contato por obrigação com Harry Ryder acabava em poucas semanas.

— Ainda é estranho saber que a Jules é sobrinha desses figurões. — Ele cochichou atrás de mim e eu fingi não o escutar, mas me encolhi para a verdade de suas palavras. Tudo ali parecia um episódio de The Real Housewives

Estávamos no almoço de aniversário de Jules, todos usavam vestidos caros e até chapéus. Seus tios, Raymond e Donna Tredici, que haviam criado minha melhor amiga na falta de seus pais, eram os donos de uma rede de hotéis de luxo por toda a costa do país e tinham gentilmente cedido sua mansão para o almoço familiar de aniversário.

Por mais que eu não fosse dizer em voz alta, eu tinha que concordar com o idiota. Era estranho pensar que Jules tinha nascido em um lugar como aquele. Jul se encaixava ali fisicamente, seu vestido esmeralda a deixava elegante como qualquer uma das ricaças e o cabelo loiro solto em ondas lhe conferia status de princesa.

Mesmo assim, mesmo que pudesse deixar uma modelo da Victoria's Secrets no chinelo, ela era humilde e simpática. David também se encaixava bem, os óculos de grau classudo, a pele negra retinta, o terno claro e a nítida habilidade de saber calcular um imposto de renda. Juntos eles eram um par dos sonhos.

Tínhamos quase uma década de convivência. Eu conhecia Jules desde a faculdade, e até seu pedido de demissão, trabalhávamos no mesmo andar no MetroNews 1 desde a época do estágio, onde ela como a brilhante correspondente dos esportes e eu na editoria de Ciência e Tecnologia. David era também uma presença constante, meu melhor amigo desde que tinha aparecido na vida de Jul. O casal era o mais próximo que eu tinha de uma família de verdade. Era difícil pensar que não estariam por perto por um período longo de tempo.

Do outro lado do jardim enfeitado, minha melhor amiga assistiu Harry e eu entrarmos e nos deu um sorriso confiante antes de David abraçar sua cintura e eles trocarem um sorriso cúmplice.

— Atenção... — Jules chamou e todas as senhorinhas ricas olharam sorridentes para a sobrinha. — David e eu temos um... anúncio. — Meu cenho se franziu. O que estava acontecendo ali?

— Vinte dólares que ela está grávida. — Harry sussurrou em meu ouvido e eu estremeci. Por que ele tinha que estar tão perto? Sua voz rouca causou um arrepio indesejado em minha coluna. Como era possível que uma palavra inocente como grávida soasse... daquele jeito?

— Cala a boca, Harry. — Eu praticamente rosnei enfiando meu cotovelo em suas costelas e ele deu uma risadinha.

— Como vocês sabem David e eu estamos prestes a fazer a viagem das nossas vidas pelo continente africano. — Eles trocaram um olhar apaixonado e um suspiro doce e coletivo tomou o jardim ensolarado. — É um grande passo e queremos fazer isso... da maneira certa. — Ela se encolheu e meus olhos se arregalaram.

— O que Jules quer dizer é que...

— Vamos nos casar! — Jules irrompeu em um sorriso amoroso apoiando a mão esquerda no peito de David onde, mesmo do outro lado do jardim, vimos o diamante reluzir.

O jardim foi tomado por aplausos e felicitações. Eu acompanhei tudo empolgada demais para aplaudir de uma maneira educada, eu quase dava pulinhos. Mal podia acreditar que meus melhores amigos estavam prestes a se casar. Senti lágrimas aparecerem em meus olhos.

Me lembrei emocionada da primeira vez que ficamos nós duas acordadas durante a madrugada para que ela me contasse sobre o quão apaixonada estava. Desde a primeira vez que se viram Jules sabia que David era o certo e o homem a venerava. Era lindo de se admirar.

— Queremos fazer isso antes da viagem, então vai ser uma cerimônia pequena, só a família e os amigos mais próximos. Linda e Michael, os pais de David e Kevin, o irmão mais velho, já sabem, e agora vocês. — Assisti todas as tias ricaças da família praticamente murcharem para as palavras "só a família e os amigos mais próximos". — Vai ser algo simples só para oficializar.

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