Acordo

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Eu não podia reclamar da vida que levava, seria ingrato de minha parte caso o fizesse. Uma família que apoiava minha orientação sexual e meus gostos peculiares — como trocar a cor do cabelo sem motivo aparente —, bons amigos e um relacionamento tranquilo de dois anos com Seo Youngho e digo tranquilo porque começamos a namorar apenas aos 15 anos de idade!

Porém, tudo estava sossegado demais para um simples adolescente em seu último ano no colégio — faltando poucos meses para o baile de formatura — como eu. Alguma coisa tinha que desandar e começou por Youngho, infelizmente, ou não tão infelizmente assim.

Pois bem, deixe-me contar exatamente como foi que meu último ano quase virou de cabeça para baixo.

Como anteriormente citado, ter um namoro que dure dois anos iniciado quando se está somente no primeiro ano, pode ser considerado um evento praticamente inédito. Eu, Lee Taeyong, nunca fui de ter uma coleção de pessoas ao meu redor ou de procurar me enturmar com todo mundo. Obviamente, não quer dizer que eu era antissocial, não! Assim como também nunca fui amado ou popular entre o sexo feminino.

— Se você não tivesse se assumido, certeza que uma fila de garotas estaria te aguardando! — Kim Jungwoo, meu melhor amigo desde a infância que estuda na mesma sala que eu, disse uma vez.

            Desde a puberdade, já tinha noção do meu gosto por pessoas do mesmo sexo. As cartinhas que as meninas escreviam e colocavam em minha mochila logo pararam de aparecer quando me assumi. Minha sorte, e acredito que sorte de outras pessoas também, foi que o colégio particular o qual sempre estudei é regido por uma família que ainda prega o respeito entre gostos e escolhas diferentes — algo muito raro, mas que vem crescendo em Seul. Todavia, diariamente recebo olhares estranhos e não é todo mundo que quer ser meu amigo.

            Como se me importasse muito.

            Enfim, retornando, Seo Youngho chegou como um forasteiro em minha classe, pois, além de ser aluno novo, também veio dos Estados Unidos. É um tanto claro que virou o assunto por todo o colégio e os estudantes sempre tentavam chamar sua atenção para escutá-lo falar o que sabia em inglês ou contar sobre o mundo no ocidente.  Meu pequeno grupo de amigos, daquela época, não havia falado muito com ele, apenas coisas recorrentes em sala de aula.

— Acho que deveríamos chamar o Youngho para lanchar uma vez! — Chittaphon Leechaiyapornkul, um dos meus amigos, o Ten, um apelido que ele mesmo escolheu, ofereceu certo dia.

— Não sei, as pessoas comentam sobre a gente e pode ser que ele até recuse. — Busquei o olhar de meu melhor amigo para saber o que ele pensava, nós três tínhamos acabado de chegar ao pátio da escola. — Jungwoo, o que acha? — Ele piscou um par de vezes, como se estivesse focado em outra coisa, ou melhor, em outra pessoa.

Falarei do crush dele em outro momento.

            — Pode até ser, assim como também pode ser que ele tenha escutado sobre o quão maravilhoso eu sou e sobre seu cabelo estar quase caindo de tanto pintar! — Ten apontou dando de ombros, arrancando risos de mim e do Kim.

            Nós três sempre fomos muito diferentes. Enquanto Jungwoo era controlado, sorridente e animado, doce e sensível — daqueles que se preocupam com os animais e com a natureza —, Ten era muito extrovertido e inteligente, que gosta de atenção, ao contrário de mim, que apesar de também ser bem comunicativo e, de acordo com o Kim, sarcástico, ainda porto um gênio mais fechado e forte, ou seja, me irrito facilmente.

— Você quem deu a ideia, você quem chama. — Meu melhor amigo disse, assim que escolhemos nossa mesa, dando a Ten um sorriso bonito o qual, na verdade, significava “caso alguma coisa dê errado, a ideia foi sua”.

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