Capítulo 16

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HARRY

Hoje é um dia daqueles. No mau sentido.

Na noite passada, tive pesadelos seguidos, a dor na perna foi insuportável e não consegui dormir.

Estou evitando Louis ao máximo. Digo a mim mesmo que é porque não o quero por perto. Mas, na verdade, ele tem o hábito irritante de espantar o meu mau humor. Isso me assusta pra caralho.

Ainda falta um pouco para amanhecer, e normalmente iria encontrá-lo para nossa corrida/caminhada diária. Hoje, no entanto, vou deixá-lo ir sozinho. É um desses dias em que sinto que não mereço estar vivo, muito menos aproveitar o dia ao lado de um garoto lindo. Não quando meus amigos estão mortos. Não quando Amanda Skinner dorme várias noites na cadeira de um hospital para acompanhar sua filha, que fica deitada na cama conectada a uma porção de tubos.

Da janela do escritório, vejo que Louis procura por mim. Espero que comece a correr sozinho, mas ele não faz isso. Só fica parado ali, me esperando. Até sinto um pouco de vontade de ir encontrá-lo. Quero que me convença a caminhar ou, como tem feito recentemente, me desafie a dar alguns passos sem a bengala.

Giro meu corpo dando as costas para a janela, virando distraidamente as páginas do livro até que ele vai embora.

Eu me dirijo até a academia antes que ele volte. Na maior parte dos dias, vamos juntos. Criamos uma rotina. Eu aceito fazer os exercícios idiotas para a perna, e ele me conta alguma coisa sobre si mesmo. Em geral, eu gosto, embora suas respostas pouco comprometedoras me cansem um pouco. Até agora, ele não me disse absolutamente nada sobre o verdadeiro Louis Tomlinson.

Hoje, no entanto, quero continuar mal-humorado. Ultimamente, tenho esquecido quem eu sou com certa frequência. Tenho voltado a ser o velho Harry, aquele que paquerava e ria na frente dos garotos. Preciso de um dia para lembrar quem é o novo Harry, que deveria ter morrido com os outros caras naquela porra de caixa de areia.

Depois da academia, é fácil evitar Louis pelo resto do dia. Quando são quatro horas, no entanto, eu hesito. De toda a rotina que estabelecemos, é da parte da leitura diante da lareira que eu mais gosto. E é por esse motivo que eu me forço a trancar a porta e ligo a música no volume máximo, de modo que não seja possível ouvi-lo bater ou girar a maçaneta.

Uma hora passa, depois outra, e eu me perco no livro. Mas, quando meu estômago ronca, percebo meu erro: estou com fome.

Achei que Louis deixaria uma bandeja do lado de fora do quarto, quando me chamou para o almoço e não respondi. Foi inocência minha. A mensagem era bem clara: se quiser passar o tempo sozinho emburrado, vai ficar sem comida.

Não foi um problema no café. Nem no almoço. Mas agora eu estou morrendo de fome, e meu estômago não consegue ignorar o cheiro de carne apimentada vindo da cozinha.

Como esperado, Louis está lá, só que não está usando um avental fofo nem parece atrapalhado jogando ingredientes numa panela. Ele está vestindo calça jeans preta, um tênis Gucci e uma camiseta de uma marca que não conheço, mas parece bem cara, daquelas que não são feitas para ficarem casa à toa.

Esse não é o Louis caseiro. É o Louis pronto para sair.

—Vai a algum lugar? - pergunto, desviando os olhos da sua bunda.

Ele se volta para mim, abrindo a boca como quem vai perguntar onde estive o dia todo, mas interrompe logo esse movimento e dá um sorriso vago.

—Oi. Espero que goste de chili -  ele diz. —Está um pouco apimentado, mas o cheddar em cima deve compensar.

—Sem problema -  garanto, notando que ele estava mais bonito do que de costume. 

—Tem um encontro? - pergunto, tentando tirar alguma coisa dele.

—É - ele confirma com uma careta. — Conheci tantas pessoas ótimas desde que estou preso aqui nesta casa. Do tipo hospitaleiras e receptivas.

Tento me aproximar com a desculpa de olhar a panela no forno, mas ele se afasta antes que eu chegue mais perto. Garoto esperto.

Ele pega sua carteira sobre o balcão.

—Aonde você vai? - Eu me odeio por perguntar. Por me importar.

Louis coloca sua carteira no bolso de trás  da sua calça. 

—Lindy disse que tem um bar não muito longe daqui que pode me agradar. E que você conhecia uma garota que trabalha lá.

—Kali Shepherd -  digo, automaticamente. —E pra que você vai lá?

Eu estou com ciúmes?

—Tenho duas noites e um dia livres por semana - Louis retruca. —Finalmente vou aproveitar.

—E por que não aproveitou até agora?

—Porque sempre pude conversar com Lindy ou Mick enquanto você estava em um dos seus surtos infantis.

—Não são surtos. Tenho o direito de ter um tempo pra mim.

—Bom, então você entende por que preciso sair desta casa. Eu preciso dar um tempo. De você. 

Ele abre um sorrisinho condescendente e se aproxima como se fosse dar um tapinha na minha bochecha. Pego seu pulso e aperto. Forte.

—Não. Me. Toca - eu aviso, entredentes. Nunca.

Eu o solto com tanta força que ele quase cai para trás. Xingo e estico a mão para ajudá-lo, mas Louis dá um passo para trás, evitando o meu toque. Deixo minha mão cair ao lado do corpo. Não posso culpá-lo por se afastar, mas odeio isso mesmo assim. Sou um babaca.

— Louis...

—Não - ele diz, baixo. —Eu não devia ter feito isso. Desculpa.

Ele se abaixa para alcançar as chaves que caiu no chão. 

—Mick disse que eu podia pegar um dos carros. Não vou demorar, mas estou com o celular se precisar de alguma coisa.

 Ele se dirige para a porta.

—Espera - falo, me aproximando.

Louis para e me olha por cima do ombro. 

—O que foi?

—Eu...

Não tenho ideia do que estou tentando dizer. Não sei se quero pedir pra que fique em casa, pra que se divirta no bar ou algo mais terrível e inimaginável, pra que me leve junto. Me leva pra sair numa sexta à noite, pra ficar em meio às pessoas, à cerveja, às risadas, à música péssima e à minha velha amiga Kali.

Mas não falo nada disso, muito menos a última parte.

Eu não saio mais.

—Obrigado pelo jantar - solto, de modo brusco.

Dessa vez ele nem se vira. 

—Só estou fazendo meu trabalho, Styles.

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Em Pedaços ( Larry Stylinson)Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora