Duas vezes.

Ela estava na U.A há quase cinco meses. Para ser exato, ela ainda tinha mais 1 mês e 12 dias antes de voltar para seu país de origem, família e amigos sem saber que deixou para trás um garoto com uma festa de borboletas na barriga e palavras presas na garganta.

Quando o segundo ano da escola de heróis começou, Tamaki não imaginava que no primeiro dia de aula seria surpreendido com a presença dela. Não que ele não estivesse habituado com transferências ou coisas do tipo, na verdade ele estava. Só não imaginava que fosse perder o ar quando a viu pela primeira vez.

Sinceramente, pensou que fosse morrer.

Levou um tempo até que ele pudesse entender o que estava acontecendo em seu peito, e foi pior quando a ficha caiu, estava apaixonado. Estar apaixonado para Tamaki por si só já era uma ideia perturbadora demais, agora estar apaixonado por uma garota que ele provavelmente nunca mais verá. Bom, isso para ele é como pular de um avião sem paraquedas.

- Bem, se eles estão treinando nós deveríamos ir ver. É sempre tão legal. – a garota disse animada. – Você sabe onde eles estão?

Tamaki assentiu brevemente e logo foi puxado pela amiga que então começou a tagarelar sobre um milhão de coisas das quais ele não conseguiria acompanhar nem se quisesse ou tentasse. Tamaki não queria ver o treino, não gostava de estar muito perto da garota por quem ele era apaixonado porque na presença dela seu coração batia tão forte a ponto dela notar, não metaforicamente falando, ela literalmente seria capaz de escutar o coração dele acelerar, tanto que ela mesma já perguntou algumas vezes se ele estava passando mal.

Aquilo tudo era uma grande porcaria e ele se sentia incrivelmente patético dentro daquela situação.

Já próximo ao campo de treinamento ele começou a escutar os sons de concreto rachando e coisas quebrando, e assim que cruzaram a porta principal, Mirio foi arremessado na parede ao lado. Ela era muito rápida, foi uma das primeiras coisas que Tamaki percebeu nela. Ela conseguia ser rápida o suficiente para deixar Mirio sem tempo para ativar a própria quirk.

- Tudo bem, acho que por mim já deu por hoje. – escutou o amigo falar enquanto se erguia com um pouco de dificuldade.

- Desculpa Mirio, mas você tá ficando mais ágil, acabei chutando com força demais.

Assim que a voz dela chegou aos seus ouvidos Tamaki controlou a respiração para tentar normalizar as batidas do próprio coração. Ele mirou o chão e contou as pedrinhas soltas que estavam ali somente porque parte do concreto da arena havia sido arrebentada. Tentou desviar o foco, não queria ficar nervoso na frente dela.

De novo.

- Oi Nejire, Tamaki... – escutou o som dos passos dela e sua voz ficando cada vez mais próxima. – Vieram treinar também?

Por sorte Nejire respondeu pelos dois poupando-o de gaguejar na frente dela.

De novo.

Tamaki respirou fundo sentindo o coração ameaçar acelerar e deu alguns passos para trás até que suas costas encontrassem a parede de concreto. Queria fundir-se ali. Logo Mirio estava totalmente recuperado e conversando sobre algo animadamente, até vê-lo ali.

Ele estranhou um pouco quando Mirio se afastou das duas que ainda conversavam e se acomodou ao lado de Tamaki em silêncio, ele parecia pensativo e encarava Tamaki de um jeito estranho.

Tamaki não gostava muito da situação, há alguns meses Mirio havia começado a agir de forma esquisita, às vezes fazia perguntas ou falava coisas estranhas, muitas sem pé nem cabeça. Aquilo assustava Amajiki com certa frequência.

- Se machucou? – Tamaki perguntou para o amigo.

Mirio apenas negou com a cabeça enquanto encarava Lilith conversando com Nejire.

- Sabe... Seria bom se você viesse treinar também. Poderia melhorar sua precisão com os tentáculos se lutasse contra Lilith.

Ele sabia daquilo, já havia visto a colega de turma lutando e ela se movimentava muito bem, o que obrigaria Tamaki a melhorar até conseguir acompanha-la. Seria ótimo, mas somente a presença dela o desconcertava, ele certamente não conseguiria nunca lutar contra a garota.

- A-acho melhor não. – ele murmurou.

Pelo canto do olho ele percebeu que Lilith o observava com atenção e sem conseguir mais controlar sentiu o coração disparar e o rosto queimar como brasa.

- Quero te perguntar uma coisa. – Mirio voltou a falar, mas Tamaki foi mais rápido.

- A-agora não dá, t-tenho que ir pra casa.

Então ele fugiu, de novo.

Estava preso naquela porcaria de ciclo. Não conseguia ficar perto dela, mas sempre a observava quando tinha a mínima oportunidade. Não tentava se aproximar, mas somente a ideia de que em breve ela irá partir o deixa sem sono. Ele não conseguia encara-la nos olhos, mas vez ou outra ele olhava só por que gostava de como eram vivos os olhos âmbares, e também gostava um pouco da sensação quando ela percebia e olhava de volta.

Sinceramente às vezes ele só queria ser como uma borboleta que se envolve dentro do próprio casulo e espera sua versão final melhorada, deixando toda a mediocridade para trás.

Mas pessoas não são borboletas e ele sabia bem disso.

Mas pessoas não são borboletas e ele sabia bem disso

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ALEXITIMIA - Tamaki AmajikiWhere stories live. Discover now