− Eu vou parar de ser esquisito, – ele disse –, se for todos os dias ao jardim. Há mágica lá, você sabe disso, Mary. Eu tenho certeza que há.

− Eu também tenho. – disse Mary.

− Mesmo que não seja uma Mágica real... – Colin disse. −...podemos fingir que é. Há algo lá. Algo!

− É mágica. – disse Mary. – Mas não negra. É branca como a neve.

Eles passaram a chamar aquilo de mágica, e, de fato, começou a parecer mais e mais nos meses seguintes, aqueles meses maravilhosos, meses radiantes, os mais incríveis.

Oh! As coisas que aconteceram naquele jardim! Se você nunca teve um jardim, não poderá compreender, e se já teve um jardim, sabe que levaria um livro inteiro para descrever tudo que se passa em um. A princípio, parecia que coisas verdes não iriam parar de abrir seu caminho pela terra, na grama, nos leitos, até mesmo pelas fendas das paredes. Então as coisinhas verdes começaram a mostrar botões, e os botões começaram a desfraldar e mostrar cores, em todos os tons de azul, púrpura, em cada matiz e tonalidade de vermelho.

Em dias felizes, flores eram arrumadas em cada centímetro, buraco e canto. Ben Weatherstaff percebeu tudo aquilo e raspou a argamassa entre os tijolos, colocando bolsões de terra para que as coisas bonitas agarradas ali pudessem crescer. Iris e Lírios brancos saíam da grama em feixes, e as alcovas verdes encheram-se com surpreendentes exércitos de lanças de flores azuis e brancas, altos Delfínios, Colombinas ou Campânulas.

− Ela gostava principalmente deles. Gostava mesmo. – disse Ben Weatherstaff. – Ela gostava deles como se fossem encantos apontando para o céu azul. Era o que ela costumava dizê. Não que ela não fosse um encanto também enquanto olhava para a terra, ela era. Ela apenas os amava e dizia que os encantos do azul do céu pareciam mais alegres.

As sementes que Dickon e Mary haviam plantado cresciam como se fadas as tocassem. Papoulas acetinadas, de todas as cores, dançavam com a brisa; flores alegres e desafiadoras, que já viviam no jardim por anos − e isso deve ser confessado – pareciam se perguntar como tantas pessoas novas haviam aparecido ali. E as rosas! As rosas! Elevando-se para fora da relva, emaranhadas em volta do relógio de sol, coroando os troncos de árvores e suspendendo seus ramos, escalando as paredes e espalhando-se por elas com longas guirlandas caindo em cascatas. Elas tornavam-se vivas dia após dia, hora após hora. Belas folhas frescas, e botões e mais botões, minúsculos a princípio, mas começando a inchar e a prover Magia até estourarem e se desenrolarem em taças cheirosas que delicadamente derramavam-se por suas abas, misturando-se ao ar do jardim.

Colin testemunhou tudo isso, observando cada mudança que tomava seu lugar. Cada manhã ele era levado para fora, e cada hora de cada dia, quando não chovia, era passada no jardim. Mesmo os dias cinzentos o agradavam. Ele deitava na grama "observando coisas crescerem" , ele dizia. Se você observasse por tempo suficiente, ele declarou, era possível ver botões desembainhando-se.

Você também podia fazer o reconhecimento de insetos estranhos correndo, ocupados com várias incumbências desconhecidas, mas evidentemente importantes, às vezes carregando mínimos pedaços de palha, pena ou alimentos, ou subindo nas folhas da grama como se fossem árvores das quais se pode explorar o país ao subir em seu topo. Uma toupeira se erguia de um monte no final de sua toca e fazia seu caminho para fora desta com as patas de unhas longas, que mais pareciam mãos de elfos. Tudo aquilo absorvera Colin durante toda a manhã. Caminhos de formigas, caminhos de besouros, caminhos de abelhas, caminhos de sapos, caminhos de pássaros e caminhos de plantas lhe deram um novo mundo para explorar, e foi Dickon que os revelou, ainda adicionando caminhos de raposas, caminhos de lontras, caminhos de furões, caminhos de esquilos, trutas e caminhos de ratos e texugos. Não havia limite para as coisas a se conversar e pensar.

O jardim secreto (1911)حيث تعيش القصص. اكتشف الآن