E sei que eu me afastar deles não foi culpa do victor, até porque ele nem havia retornado na casa da sua mãe ainda. Isso aconteceu quando eu comecei a ficar mais próxima das pessoas que apenas algumas semanas atrás se mostraram ser as amizades erradas. Pelo menos pra mim.

Mas não os culpo por eu me distanciar dos meus pais, porque fui eu que permiti isso, eu que me deixei ser levada para longe deles, por absolutamente motivo nenhum.

Olho para o espelho na minha frente, para mim. Será que as coisas ficaram mais claras agora? Será que meus olhos foram abertas depois de tanto tempo? Será que a queda fez tudo fazer abeiro novamente?

Olho para baixo e vejo meu colar que ficou enterrado no alto do morro por tanto tempo. Ele, principalmente agora, significava muita coisa para mim, mas não são coisas que podem ser explicadas, são apenas sentimentos, Sentimentos únicos.

O deixo de lado e me apresso para me arrumar.

Quando vou para a escola, escondo meu rosto com uma blusa cinza duas vezes o meu tamanho e um boné preto. Algo completamente diferente do que eu normalmente visto, mas quem se importa com moda nestas condições.

Hoje eu tinha apenas uma prova, mas mal consegui responde-la porque meus pais, a taina e o Victor não saiam da minha cabeça.

Fiquei o tempo todo pensando se Victor estava certo sobre o que fez, ou o motivo dele ter feito isso.

Ele falou que nosso relacionamento estava nos machucando de novo, mas eu não acho que seja isso. Acho que eram as mudanças que estavam nos machucando, não nosso relacionamento. Mudanças podem ser dolorosas demais as vezes, principalmente para pessoas como eu, que não sou acostumada à elas.

Talvez ele estivesse certo sobre ser errado eu achar felicidade apenas nele, mas onde mais poderia encontrar felicidade se eu estava afastada de todo mundo a não ser dele?

Aquilo não devia ter terminado. Não devia.

Victor abriu meus olhos para muitas coisas, mas as vezes acho que nos dois ainda estamos cegos para muitas outras mais.

Tenho inúmeras joias na minha vida, mas as vezes eu apenas não sei como aprecia-las, e talvez deva ser porque eu as coloquei em uma caixa assim como Victor fez, as afastei de mim achando que ia melhorar as coisas, quando o que fez foi apenas me deixar mais infeliz.

E agora eu tinha a taina, que era incrível, era a minha amiga e se importava comigo assim como eu me importava com ela. Taina é o tipo de amiga que eu deveria guardar pela vida inteira, a pessoa que eu queria ter conhecido antes. Mas talvez eu tenha a afastado mais do que devia ou gostaria, e agora não vou mais permitir que isso aconteça.

Já que as coisas mudaram, devo mudar com elas, devo aceitar. Talvez até mesmo perdoar, mesmo que isso seja extremamente dificil. Fiquei tempo demais achando que o mundo era sempre o mesmo, e agora vi que não é, agora vi que eu mudei e não devo buscar por o que era antigo.

Mas de uma coisa eu tenho certeza, eu quero mudar longe dele, eu quero mudar com ele.

Não quero supera-lo.

Meu tempo para pensar termina quando vejo o professor recolher as provas da mesa dos alunos. Vejo que respondi apenas metade da prova e me apresso para responder o resto, mas quando vejo que não daria mais tempo de ler tudo e como a prova era inteiramente de marcar, eu chuto o resto.

Essa havia sido a minha última aula depois do almoço, então encontro meu caminho até o refeitório, mas alguém chama meu nome pelo corredor.

Olho para trás e procuro quem me chamou, então vejo o senhor Wilson, meu professor de literatura, se aproximar de mim.

"Babi," ele suspira cansado. "Puxa, como você anda rápido."

"Costume." Levanto um pouco o boné para conseguir vê-lo direito.

"Enfim..." ele coloca a mão no coração e tenta acalmar a respiração cansada. "Eu estava organizando meu escritório lá em casa, algo que minha mulher insiste que eu faça pelo uma duas vezes por ano," ele revira os olhos. "E eu achei aquele poema que você me pediu para te entregar há algumas semanas. Olha, preciso confessar, quando você pediu de volta, achei que nunca mais iria achar, mas graças a minha mulher, ele está aqui."

Depois de procurá-lo pela sua maleta por alguns segundos, o prof. Wilson me entrega um papel dobrado e um pouco amassado. Quase não acredito quando vejo que ele está me entregando o poema do victor depois de todo esse tempo.

Acho que esse é o pior momento para eu receber este poema, já que o que eu deveria fazer agora é seguir em frente, mas estou curiosa demais para recusar. Ainda mais depois de todo o trabalho que o prof. Wilson aparentemente teve para encontrar isso pra mim.

"Eu nem lembrava mais disso," comento, completamente focado no pedaço de papel mal cuidado.

"Pra falar a verdade, nem eu."

"Muito obrigada, professor"

"Por nada." Ele então se afasta e eu fico completamente dividida.

O que eu mais quero fazer agora é abrir este poema. Mas de apenas saber que foi Victor que escreveu faz meu coração saltitar.

O barulho do corredor era grande demais para eu lidar com este poema agora, então eu vou pra um lugar mais afastado para abrir, porque sei que não vou aguentar té-lo em minhas mãos e não o ver em nenhum momento.

Vou para o campo-que agora está completamente vazio porque é horário de almoço-e me sento na arquibancada mais afastada das pessoas e do barulho.

Sinto meu corpo arrepiar e meu coração acelerar então começo a ler:

Meus dedos
Sujos
de fumaça
Manchados
De cigarros
Que escondem
Minhas mais profundas
Cicatrizes

Meu nome
Secreto
Escondido
Não pronunciado
Por todos

Eu sou eu
Preciso de mim
Para respirar
A fumaça
Que sai
das pontas
Dos meus dedos

Você é você
Preciso de você
Que me faz esquecer
a fumaça
E me traz ar
Você
Que diz meu nome
O pronuncia
Como se fosse seu
Eu preciso
Do ar
Que me tiraram

Você
Que me da ar
Para que eu possa respirar
Novamente
Você
Que me ajuda a sair da fumaça
Para que eu me desperte
E siga com a vida
Me faça esquecer
Reviver
Renascer
Apenas você
Que me olha
Através da Cortina
Até quando
eu não olho
De volta

Então
Por favor
diga meu nome
Apenas diga
O pronuncie
Como se fosse seu
Apenas uma vez

Apenas o diga
Como ninguém mais disse
Ou aceitou
Apenas diga
Para eu ficar livre
Apenas o diga
Como você sempre diz
Diga
Diga meu nome

Seguro o papel com tanta força nas minhas mãos que sinto que vou rasgá-lo. Eu quero rasgá-lo.

Estou apenas... confusa. Não sei o que ele quer, não entendo. Ele quer que eu o liberte? Quer que eu fique? Eu dou o ar para ele, mas não sou o ar? Ele precisa ouvir seu nome para ficar livre?

Tudo o que fica no meu cérebro e confusão, e não sei se quero entender o significado.

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Autora se encontra acabada...
87/89
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𝙳𝚒𝚐𝚊 𝙼𝚎𝚞 𝙽𝚘𝚖𝚎┊ᵃᵈᵃᵖᵗᵃᶜ̧ᵃᵒ ᵇᵃᵇⁱᶜᵗᵒʳ ♡Onde histórias criam vida. Descubra agora