—não sentiram vontade de fugir no dia que se conheceram?—tenho tantas perguntas.

—no nosso primeiro encontro sua mãe fechou a cara para mim, me deixou falando sozinho no jardim da casa da sua avó, mamãe a chamou de mal criada e suas duas avós discutiram—papai está segurando a mão de mamãe e erguendo-a, beijando com cuidado cada um de seus dedos—mas veja ela, veja o que me tornei graças a ela? Ainda é teimosa, ainda é mal criada, suas avós discutem nas celebrações de fim de Ciclo, mas eu aprendi a enxergar nela algo muito além.

Mamãe fica toda derretida, raramente eu a vejo assim.

—sabe que nós faríamos tudo para que se sinta feliz e confortável minha Hielena—mamãe estende a mão e toca a minha face—por isto eu reivindiquei o direito ao não casamento, mas você sabe que isto é algo que não está sob nosso controle, não sabe?

—não estou pronta para me casar, contava com estes meses mamãe—replico quase suplicando.

—nós também não estávamos prontos querida—papai argumenta—mas tenha calma, ainda terão dois meses, todo este período é importante para que se conheçam, para que nossas famílias se habituem e para que escolham onde querem morar.

Papai ficou honrado, mamãe está mais com receio, nunca em toda a história de nossa prole ou desde a instauração da lei, alguém se casa com uma pessoa de outro estado ou prole, é algo muito raro, ao menos pelo que eu soube desde que a lei foi instaurada nunca houve casamento de alguém do Norte que seja relojoeiro com um Ministro.

—sabemos como se sente e hoje a noite terá a oportunidade de se expressar enquanto conversa com a Anciã—mamãe diz—o Ministro Virgo levará folhas de chá e cobertores, a Anciã pediu que você vá descalça.

—o que acontece nesse primeiro contato com a Anciã?—pergunto.

Papai e mamãe se entre olham e eu o vejo ficar muito vermelho.

—cada um tem um ritual diferente—mamãe está visivelmente constrangida.

—porque estão tão constrangidos?—pergunto ainda cheia de curiosidade.

—melhor você tomar um banho e vestir algo tradicional—mamãe corta e se levanta—nós levaremos você e ainda hoje poderá começar a conversar com seu futuro noivo.

Faço uma careta, papai também se levanta, não faço ideia do porque desconversaram, mas imagino que para ela não querer responder tenha sido algo que os deixa desconfortáveis.

—usará o vestido de sua bisavó, de tecido, o mesmo que usei e suas irmãs usaram—mamãe determina—venha, eu mesma irei ajuda-la com os adornos e com o vestido.

Usamos vestidos raramente, é algo do qual eu me recordo de ter usado poucas vezes, muito menos de tecido de pano, mas os mais antigos ainda chegaram a época em que criávamos animais para o abate e para usar o couro como roupas.

Infelizmente muitas espécies foram extintas por causa da guerra, Nos restaram poucos animais de nossa terra natal, alguns geradores estudam nos dias atuais nas terras altas e fazem pesquisas com amostras de DNA para trazer algumas espécies de volta, mas apenas para que não se percam mais nossas origens.

Não consumimos carne animal a cerca de cem anos, nos alimentamos de frutíferas, Verduras e leguminosos que cultivamos em nossos quintais, as sementes são distribuídas pelo Estado Marjoritário uma vez ao mês para cada família em sua proporção exata por pessoa, para que nada se desperdice, meus pais tem uma incubadora subterrânea onde cultiva muitas hortaliças e frutas, inclusive da qual cuidei boa parte de minha infância, nos dias atuais, papai leva meus alimentos até minha casa nos meus dias de folga ou eu venho até aqui e pego, ou algum sobrinho meu leva, porque eu não tenho condições de cuidar de uma incubadora sozinha e minha residência por ser concedida pelo estado majoritário, não tem muito espaço quanto eu desejaria.

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