Capítulo 12: Ás de Espadas

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      O rosto de Nidaly se contorceu, era uma visão assustadora na penumbra.

– Lidney, isso é pó negro! Não foi para destruir um castelo que lhe ensinei. – Uma risada de escárnio incrédulo tomou o rosto da tengu.

     Não há inocentes em Awen, Lidney dissera certa vez.

     Pousou a mão sobre a mulher.

– A distração que criei vai mantê-lo ocupados, deve ter cães a solta no raio de uma légua. A maior parte das pessoas está do outro lado do palacete. Vamos ficar bem se formos agora!

     Lidney arregalou os olhos.

– Que merda você fez?

      A criatura peluda deu uma risada debochada, reverberando na escuridão da adega. Não pode precisar se era macho ou fêmea, apenas um escárnio traiçoeiro quando falou:

– Agora, eu matava.

    As duas o ignoraram.

– Eu trouxe Destino. – O mais certo seria: perdeu, mas achou um detalhe trivial, por hora. –Vamos encontrar ela e Kervan, sair daqui. Nada mais! A morte de Elawan não pode valer sua vida, sua família.

     Lidney tirou sua mão.

– O que você sabe sobre família?!

      O ar cortou a garganta da tengu. A boca entreaberta sem resposta nos lábios.

– Sõjobõ não lhe ensinou que nenhuma vitória é garantida até o inimigo estar incapaz? É tão ingênua a ponto de pensar que um dia, ele iria simplesmente nos deixar para trás? Uma das únicas coisas que pode destruí-lo?! É sobre poder, menina. Nessa luta, o mundo queima enquanto dançam com suas espadas e mentiras. Somos um risco para ele, caçados por quase vinte anos. Acha que meus filhos foram os únicos a morrer? Nem perto disso. Banquete Cinza, eles chamam. Gritavam em agonia enquanto os onis os estripavam, comiam... e aquele mestiço sorria...

     Ela engoliu seco, usando os dedos para secar as lágrimas que se recusava a ceder.

– Ao longo dos anos, Elawan e aquela puta feérica mandaram outros tantos caçadores à nossa procura. Por causa dele meus filhos mais novos nunca tiveram um lar. As coisas que o senhor meu marido sabia... Quando a vitória é tudo o que importa, também vou jogar com as regras deles.

      A humana se manteve imóvel, uma expressão dura no rosto.

     Kervan não estava de acordo, a tengu tinha certeza, era um homem benevolente, paciente. Um homem de luto. É um jeito respeitoso de dizer que raiva se contorce, até muito depois da tristeza ser chamada de saudade. Ele e sua esposa uma vez plantaram sementes e esperaram as árvores crescerem, mas não há mais árvores, apenas mortalhas e lembranças, porque isso era tudo que eram; sentiam falta da vida que tiveram. Nunca planejaram voltar para casa, às Montanhas, para os filhos. Cada respiração uma prece para livrá-los da dor.

      Não vou desistir só porque fizeram.

     Tinha que ser diferente. Mas Lidney também não parecia disposta a abandonar seu plano, sua vingança. Sua justiça.

      Nidaly chutou o barril mais próximo.

– Eu protegi sua mente contra a branah, a de Kervan! Sõjobõ mandou que enfiasse uma faca na minha garganta por isso. E você mentiu para mim, por quê?

– Kervan está morto!

       A garganta de Nidaly ficou seca como osso e igualmente tesa. Morto, ecoou como uma pedra atirada em um lago. Não, estava errada. Haveria um julgamento, a tengu chegara antes. Cruzou as montanhas em alguns dias, não dormiu por dois. Trazia Encontro com o Destino, a espada consagrada pela própria divindade ancestral. Senti o cheiro dele nos canis...

Entre Damas e EspadasWhere stories live. Discover now