Serva predestinada

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São nove da manhã quando o despertador toca.

Me levanto preguiçosa rumo ao banho.

Não há ninguém em casa. Como sempre.

Hoje não tem aula. Marquei de sair com uma amiga, Violeta. Minha única amiga.

Hoje é aniversário dela. Vamos à uma loja de fantasias e depois encontrar uns amigos dela.

Vick está decidida a arranjar um namorado para mim. Como se eu me interessasse por essas coisas.

Saí de casa às 9:40.

Enquanto percorria às ruas rumo a loja me sentia solitária. Apesar de Vick ser como uma irmã para mim eu me sentia sozinha. Um vazio tomava conta de mim.

Quando senti que ia chorar respirei fundo e sorri.

Está tudo bem.

--Cecília! --Ouvir alguém me chamar assim que entrei na loja.

Era Violeta.

Vick assim como eu tinha 16 anos. Mas era muito mais bonita. Com seus olhos verdes e cabelos ruivos. Corpo com curvas invejadas e desejadas.

Eu? Meu corpo não tinha tantas curvas, mas eu era forte. Bem forte.

Meu cabelo marrom caía e ondas sobre minhas costas, meus olhos castanhos eram grandes.

--Bom dia. --Falei quando me aproximei dela.

--Bom dia. Já sabe que fantasia vai usar?

--Hm... ainda não pensei.

--Bom, temos muitas opções aqui. Mas acho que as fantasias mais masculinas combinam com você. --Ela riu.

Sim. Eu não sou feminina.

Sou forte e boa de briga.

Gosto de roupas com traços masculinos. Raramente uso vestido ou saia.

Dei uma olhada pela loja até encontrar uma perfeita.

Era diferente das normais mas me encantei logo de cara.

Ela parecia brilhar pra mim. Não pude me concentrar em nenhuma outra.

Peguei e fui experimentar.

Quando me olhei no espelho levei um susto.

Cabia perfeitamente.

A short preto não ficava muito curto e destacava minhas pernas recém bronzeadas. A regata verde musgo fazia meus seios parecerem maiores e redondos. Eu não estava vulgar. Estava bonita.

A capa preta cobria minhas costas, abaixei o capuz e deixei meus cachos soltos. As botas pretas de cano longo pareciam ter sido feitas pra mim.

Na perna direita havia uma adaga amarrada em uma faixa branca. E em minhas costas uma espada prata.

--Uau. Ficou perfeito Ceci!-- Vick exclamou ao me ver.

Meus olhos vidraram nela. Vick usava um vestido de princesa rosa com uma pequena coroa no alto da cabeça. Seu cabelo liso estava preso em uma trança. Ela estava incrível.

Me senti feia.

Não como fantasiada. Mas como mulher.

Eu nunca ficaria bonita em uma roupa daquela.

--Eu vou levar esse. --Ela exclamou.

--Acho que levarei esse também. -- Bom, melhor do que nada.

Entrei no vestiário cabisbaixa.

"Alguns nascem com a realeza dentro de si, outros se fantasiam."

Ouvi alguém dizer. Olhei para as cabines vizinhas. Não havia ninguém.

--Estranho...

Estava prestes a tirar o short quando senti algo dentro do bolso.

Não estava aqui antes...

Meti a mão no bolso e tirei o objeto. Era um colar.

O medalhão era um círculo com uma cruz no seu interior. Do lado superior esquerdo da cruz havia um ponto. Uma forte corda preta segurava o medalhão. Não era muito pequeno nem muito grande. Cabia dentro de minha mão fechada. Havia algo escrito atrás do medalhão:

--"Sou aquele que foi invocado pelo primogênito do Rei do fogo. A ele devo lealdade e respeito. Faço de mim seu... servo."

Senti um tremor quando terminei de ler. As luzes começaram a falhar. Gritei por Vick mas ela não veio.

O chão sumiu e fui sugada pelo espelho.

Então apaguei.

Amor entre mundos (Readaptação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora