CAPÍTULO QUATRO.

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- E qual vai ser o processo hoje?

- Primeiro, eu quero que você se sente em posição confortável.

Assim faço, sento-me de pernas cruzadas no meu sofá encostando bem as minhas costas.

- Assim?

- Perfeito. Agora quero que feche os olhos.
Sebastian se levanta e vai apagando as luzes da casa, deixando apenas a iluminação cinza e natural que o tempo nublado trazia.

- Agora eu quero você se lembre do exato momento em que entrou naquele carro.

- Você quer mesmo que eu faça isso? - Digo já em pânico.

- Você confia em mim? - Bill se senta a minha frente e segura minhas mãos.

- Confio.

- Então faça. Trave sua memória no momento em que entrou no carro, e fique nela.

Era uma madrugada de verão, estávamos saindo de uma noitada, depois de tantas e tantas doses de tequila, havíamos dançado a noite toda, lembro até que peguei o número de um garoto que havia beijado aquela noite, eu e Emma saímos do estabelecimento segurando nossos copos que até então estavam vazios mas que ficaram cheios a noite toda. Eu usava um vestido preto curto e aberto nas costas, Emma vestia uma saia curta branca e um cropped preto, estávamos sem dúvida nos sentindo as mulheres mais lindas aquela noite, Peter e Nick haviam bebido tanto que caiam pela rua, Emma e eu riamos tantos... Peter se levanta e diz que é o dono do mundo, tira sua camiseta e rodopia ao vento dizendo que era a melhor noite de sua vida, mas era comum Peter dizer isso, sempre que bebíamos juntos ele falava a mesma coisa. Nick estava com dificuldade de achar o carro e enquanto quebrava a cabeça tentando encontrá-lo eu e Emma cantávamos Katy Perry dançando descalças nas ruas, eu jogava meu enorme cabelo loiro pelo vento e Emma seu cabelo preto e curto em um ritmo. Estamos felizes.
Quando Nick achou o carro achei que seria responsável ir na frente caso algo acontecesse, e aconteceu, mas não fiz nada.

Ao lembrar de tudo isso como um filme na minha cabeça me movimento para frente e solto um grito.

- Está tudo bem, está tudo bem, Lea está tudo bem. - Diz Sebastian apertando minha mão.

Não me contenho e choro, gritando incansavelmente.

- Por que fez isso? Porque você quer que eu faça isso? Seu babaca. - Tento levantar-me daquele sofá e partir pra cima de Sebastian mas ele me segura, sua força é surreal.

- Porque quero que você supere isso! Quero que você se lembre que isso não foi culpa sua, Lea.

- Vai embora.

- Não.

- VAI EMBORA OU EU CHAMO A POLÍCIA.

- E o que? Vão me prender por estar fazendo meu trabalho? Sente-se aí e cale a boca Lea, você já não é mais uma criança, aprenda a lidar com os seus problemas como adulta.

Fico perplexa encarando-o e me aquieto novamente na posição em que eu estava.

- Você pode falar o que quiser, eu tive culpa.

- Quero que se concentre.

Sebastian sobe seus dedos sobre meus braços em movimento de sobe e desce, como uma massagem, enquanto fecho meus olhos e repito aquela cena inúmeras vezes.

- Eu quero que você se lembre dos seus momentos felizes com cada um deles. Quero que você deixe de lado o fato de que seu amigo estava bebado, quero que você se lembre da garota que estava com você e o quanto vocês sorriam quando estavam juntas, mas principalmente Lea, quero que você se lembre do previlégio que você teve aquela noite.

Me desfaço em lágrimas, choro alto como criança em cada palavra que Sebastian diz a mim, ele conseguiu tocar tão profundamente que eu não me contive.

- Eu amava viver com eles..

- Eu sei Lea, eu sei. - Sebastian parte para um abraço apertado e eu já estava ficando mal acostumada, ele sabia onde estava doendo e sempre me mostrava o quanto aquilo podia ser superável, ele era tão leve, tão preciso, e aquele abraço? Eu me entregava sem medo.

- Não posso me apaixonar por você.

Sebastian solta uma risada.

- Talvez o clichê mais tosco do mundo seja uma paciente se apaixonar pelo seu terapeuta. - Diz ele. - Mas se acontecer, se permita sentir, eu deixo.

85 ∂ıαs cσм ѵσcє. Onde histórias criam vida. Descubra agora