Miados silenciosos

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    Admirado, observa a linda gata sentada no telhado, sozinha, esperando por um parceiro em sua noite pacata e silenciosa. Mesmo sem consciência sobre horário, já sentia que era tarde, a lua exibia seu brilho noturno no céu, estrelas enfeitando a imensidão negra que se estendia por onde quer que olhasse. A bela felina tem uma pelagem branca, enfeitada com alguns pedaços marrons, mesclados em harmonia e perfeição. Seus grandes olhos azuis permaneciam inertes olhando o céu, sem sequer ter alguma noção dos olhos verdes que a observavam. O pequeno observador se trata de outro felino, pequeno, meio magro e de um pelo misto com muitas cores. Mas mesmo que fosse bonito, o gatinho era muito inseguro.

    O que não deveria passar de instinto para outros, pro pequeno era impossível; não conseguia de forma alguma chamar à atenção da gata, por mais que tentasse. Normalmente os gatos miam de uma maneira mais alta quando chamam pra acasalar, mas mesmo que abrisse sua boca, os sons simplesmente não saiam, apenas um miado fraco e sem vida.  O multicolorido tentou, tentou de novo, por muitas e muitas vezes, mas de nada foi capaz. Sempre parecia que podia conseguir, mas na última hora, um estranho sentimento de vergonha tomava conta, travando o miado na garganta.

    Se sentia insuficiente para a linda gata, como se não a merecesse, como se não fosse digno de dirigir um único miado a ela. O sentimento cresceu, dando lugar a uma insegurança interna que atacou novamente; não era a primeira vez que aquilo acontecia, o pequeno animal constantemente se via impossibilitado de fazer qualquer coisa que não olhar e desejar de longe, qualquer coisa que não se colocar no próprio lugar. Nunca poderia chegar até aquela gata, nem a qualquer outra.

    Observou com seus grandes olhos outro gato se aproximar, tomando uma iniciativa e miando alto. Era um belo siamês de pelo brilhoso e olhar confiante. O pequeno se sentiu ainda mais acuado, mesmo sem ter sido visto, sentia como se aquele outro gato olhasse para ele, julgando-no patético com seu olhar esnobe. Um estranho aperto encobriu o peito do gato, uma dor que parecia real, mas não era física. Algo que não conseguia entender. Aumentou quando a bela gata foi até o siamês.

    Se pudesse, o gato estaria fazendo aquilo que os humanos chamam de chorar, enquanto mais e mais miados silenciosos escapam de sua garganta, como pequenos sussurros de dor chorosos.

O gato inseguroWhere stories live. Discover now