Messias

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Heitor dedica sua vida nisso, disponibilizando a cura para erradicar a maior parte das doenças do planeta inteiro. Ele dorme nas ruas, pedindo um pouco de alimento, ali por perto havia um garoto daltônico que gentilmente lhe entrega um prato de comida. Aparentemente, o menino não era jovem, nem teria chegado à fase pré-adolescente.

-Muito obrigado, rapaz. Irá lhe fazer falta?
-Não. Minha mãe briga comigo quando digo que não quero comer e diz que vai dar para um mendigo, as vezes... Eu... Sem querer respondo ela, dizendo que ela pode dar a comida pra quem precisa.
-É. Você tem um coração de ouro, mas tente não responder sua mãe de mal jeito.
-Claro.

O messias termina sua refeição após poucos minutos conversando com o rapaz.

-Moço, como é enxergar o céu azul?
-É lindo, toda a natureza por si só é maravilhosa.
-Por que o céu é dessa cor?
-Nossa atmosfera é rica em moléculas gasosas que refletem essa cor. Essa é a explicação.
-Por que elas refletem justamente essa cor?
-"Geralmente", caso exista algum tipo de exceção que eu não saiba, moléculas apenas refletem sua própria cor luminosa.
-Por que?
-Eu não sei.
-Eu jurava que você seria mais inteligente.
-Ser inteligente também significa admitir que não sabe a resposta, ao invés de fingir saber de tudo. Não há nenhuma vergonha em admitir isso. - Ele se levanta e aproxima-se do garoto. -Obrigado por tudo, teria como me dar um copo de água?
-Sim, eu já volto.

Em menos de um minuto, o garoto tinha voltado.

-Mais uma vez, obrigado por tudo. Qual é o seu nome?
-Eu não posso dizer meu nome para estranhos.
-Tudo bem, ao menos seus pais te educaram bem.
-Eu... Sou adotado... Meu pai disse que o único jeito para vir me visitar, teria que ser um milagre... Estou esperando esse milagre à quatro anos.
-Nossa. Desculpe o mal jeito, mas, tenho de ir embora, tem algo que eu possa ajudar?
-Não... Eu acho... Os meus olhos não conseguem enxergar o azul, tenho que comprar lentes e não sei, ou melhor, não consigo achar lugares que vendem justo a que preciso.

Então, o mendigo de blazer, bermudas e palitó, coloca sua mão sobre a testa do menino.

-Abra e feche os olhos lentamente.

O menino ficou estranhando, Heitor parecia ter colocado um filtro de edição de computador nos olhos do rapaz, a imagem melhorou, mas...

-Eu não consigo ver nada azul.
-Essas são as minhas cores, menino. Olhe para o céu.

O menino inclinou sua cabeça e se surpreendeu, antes a sua vista era cinza, agora ele consegue enxergar tanto azul que logo recuperou sua fé em milagres.

-Eu consigo ver! É incrível! Como eu pude viver amaldiçoado ao ponto de não conseguir ver isso? É tão... Lindo...

Quando percebeu, o homem já tinha saído do local. Alguns dias depois... Ele vê uma fila de pessoas com terno e gravata se candidatando à um evento... Para sua surpresa, o evento se trata dele mesmo, um concurso para decidir quem se parece mais com o messias. Logo, ele percebeu que seria fácil ganhar o prêmio em dinheiro... PORÉM, A VIDA É UMA CAIXINHA DE SURPRESAS! Ele fica em vigésimo terceiro lugar, infiltrado entre seus cinquenta sósias e os juízes nem souberam que ele estava ali.

-As pessoas hoje em dia são tão complicadas... Dependendo delas, eu não sirvo nem para ser eu mesmo.

Foi então que com o pouco dinheiro que havia ganhado, ele entra em uma loja... E convenientemente, ele tem o azar de entrar numa loja que estava sendo assaltada por um bandido com uma pistola. Foi então que ele, entrou em ação, aproximando-se do bandido.

-Amigo... Não faça isso, não percebe o que está transformando a si mesmo? Abaixe a arma, vamos resolver no diálogo.
-Eu não vou abaixar a arma.
-Por que está fazendo isso?
-Não é óbvio? Eu não estaria assaltando se eu já tivesse dinheiro.
-E pra isso você está assaltando o pobre coitado? - Disse educadamente. -Seja honesto consigo mesmo, peça para o próximo alguma ajuda, a humanidade ainda é boa.

ChefãoWhere stories live. Discover now