Capítulo 6

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A festa estava ótima. Todo mundo estava bêbado. Em algum momento rolou o sorteio do beijo, mas não sei bem como se desenvolveu, pois estava ocupado assistindo minha namorada perder nos jogos e ficar gradualmente embriagada. Katy era extremamente fraca para bebidas, a mulher não aguentava nada. 

Eu não me sentia bem, muito menos confortável. Trocaria esse casulo de fumaça e álcool pela tarde de fofocas sobre os vizinhos com a minha mãe. Se não fosse pelo pedido de Katy, eu teria ido visitar minha velha. Nessa hora,  estaríamos assistindo algum filme muito ruim e eu dormiria naquele meu quarto pequeno, mas que fomentou minha adolescência. 

Olho Katy derramando mais um shot. Mesmo a levando para jantar antes da festa, com o método de ingestão que ela estava usando, o efeito da bebida chegaria mais rápido ainda. Tony provavelmente já estava desaparecido entre os corpos dançantes. Ele fazia o que tinha de fazer, quando via que sua responsabilidade não era mais necessária se esbanjava na diversão. As vezes eu tinha inveja dele, de sua alma livre e espontânea, como ele conseguia criar laços válidos e sinceros com pessoas desconhecidas em menos de cinco minutos. Esse era um talento que eu não tinha, apesar de ter uma personalidade cativante. 

- Porra, isso é sexy. - Um rapaz ao meu lado grita em meu ouvido. 

Não adiantaria reclamar dele, então sigo seus olhos. O pior da imagem a poucos centímetros de mim era que eu não estava surpreso. 

Katy beijava mais duas meninas num estranho e desajustado beijo triplo. Parecia estar bom porque elas começaram a se agarrar. Os caras bêbados ao redor visivelmente excitados e isso me enojou. 

Katy não ficava, usualmente, bêbada comigo. E o motivo primeiro era porque ela ficava sem noção de seus atos e sempre terminava beijando alguma menina. Eram sempre meninas. Eu deveria me incomodar com isso ? Talvez. Eu me incomodo ? Não tanto. Talvez passar esses anos com ela me fez flexibilizar meus pensamentos acerca de relacionamentos. Seja como for, não me sentia confortável a vendo beijar aquelas garotas agora. 

Minha mãe chamaria aquilo de: cultura da traição sob a fachada de modernização. 

Não me considerava um namorado ciumento, mas também não me forço a borrar meus próprios limites. E essa festa já deu para mim. 

Sabia que havia um terraço, Tony me havia me levado lá para cima quando cheguei. Disse que eu poderia ficar ali quando enjoasse da festa. Ele realmente me conhecia e sabia bem que hoje não era um dos meus melhores dias. 

Não demorei para chegar no terraço. O vento gelado da noite me recebe simpático. Me aproximo da beirada junto a pilastra, um muro alto separava a segurança do abismo. Encontro Patrick sentado em um dos bancos de madeira encostados no canto. Fumando quietamente. 

- Não sabia que você fuma. - Apoio meus cotovelos no peitoral da varanda.

- De vez em quando. - Assume. Encaro seus longos dedos com os anéis de prata. Hoje ele também usava uma pulseira de couro preta. Todo esse estilo despojado ornava com ele. 

- Quis fugir de sua própria festa ? - Patrick solta um estalo. - A vencedora beijava mal ?

- Não foi uma mulher, foi uma cara. E não, ele não beijava mal. - No início quando nos encontrávamos pela casa e éramos forçados a interagir para não criarmos uma má impressão um do outro, esse tom quase isento de emoções dele me incomodava. Principalmente porque eu não conseguia lê-lo. Era um código de difícil decodificação. Mas com o passar do tempo eu percebi que Patrick era assim. Na maior parte do tempo, ele não expressava nada. 

O que somava a minha teoria dele ser um experimento social, tipo um robô. Porque não fazia sentido existir alguém tão bonito, talentoso e inteligente assim. 

Beije-me da forma como quer ser amado (EM BREVE NA AMAZON)Where stories live. Discover now