Um bebê em meu caminho (DEGUSTAÇÃO)

CAPÍTULO 1

Dias atuais

Campinas – São Paulo

Chá de bebê do Luca

Eu estava muito feliz por ser tio novamente. Adorava meus sobrinhos, Aimée e Toni, e me considerava um bom tio para ambos. Ao menos, eles adoravam passar algum tempo comigo. Então, estava aguardando o nascimento de Luca num misto de ansiedade e alegria.

Gostava bastante da minha nova cunhada, principalmente pelo bem que fez ao meu irmão mais velho, que depois da morte daquela falsa da Jacqueline parecia que havia se enterrado junto com ela. A baixinha arretada devolveu Nico à vida e o estava fazendo sorrir tanto que tenho certeza de que ele terminava o dia com dor no maxilar.

E somente por isso é que tinha comparecido ao chá de bebê do meu sobrinho sem reclamar. Porque, convenhamos, esse tipo de evento agradava muito mais à parcela feminina da família.

Isto ficou muito claro quando os caras se reuniram numa rodinha próxima ao suprimento de cervejas, vulgo perto do freezer, no salão de festas do prédio do chefe de Madá e padrinho do meu sobrinho, Gaspar. Mamãe, minha gêmea e as outras mulheres se distraíam tirando mil e uma fotos, e fazendo as brincadeiras tão comuns nesses chás de fralda.

Só parávamos de conversar para ver Nico passar vexame em alguma brincadeira da qual era intimado a participar.

É claro que eu também mantinha "um olho na missa e outro no padre": volta e meia, desviava meu olhar para a morena marrenta que povoava meus pensamentos. Nos últimos quatro meses, a sorte parecia estar contra mim, pois não nos encontramos "por acaso" em nenhum barzinho, e nas poucas vezes que tive oportunidade de vê-la, não tivemos chance de conversar, quem dirá rolar algo mais além disto.

Kika tinha deixado bem claro, se não com palavras, mas com seus atos, de que nosso envolvimento seria algo de momento, então tratei de seguir minha vida, sem me preocupar. Só que faltou meu pau e meu cérebro absorverem a mensagem. Várias noites acordei todo suado depois de sonhar que estávamos transando novamente. E pior: saí com outras mulheres e me peguei pensando nela bem na hora H.

Mas de hoje, não passaria. Já tinha decidido que até o final do dia, eu a pegaria de jeito. Acontece que até este exato momento, não tinha conseguido abertura nem para me aproximar, quanto mais para fazer qualquer proposta indecorosa.

Estava gargalhando de uma piada idiota que Dante acabara de contar, quando senti um puxão no meu ombro e me vi girado com força por uma Kika furiosíssima. Ela empurrou para cima de mim umas coisas que pareciam uns termômetros e gritou em uma altura que ninguém naquele salão deixaria de ouvir, mesmo com a música que estava tocando:

— Isso aqui é CULPA SUA!

Segurando a latinha de cerveja numa mão e as coisas que ela me empurrou na outra, vi a morena revirar os olhos e começar a cair, como se estivesse tudo em câmera lenta.