Parte I - Capítulo 02 - MARE ACIDALIUM

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Sedna estava com medo.

Ela se agarrava com todas as suas forças à sua mãe que aflita a abraçava de volta enquanto segurava com a outra mão a pequena Éris no colo. Elas corriam desesperadas galpão adentro e iguais a elas centenas de outras famílias faziam o mesmo. Houve aglomeração, pânico, pessoas pisoteadas, gritos, choros, crianças perdidas clamando pelos pais, pais desesperados chamando pelos filhos. E neste ínterim, tiros, soldados, mais gritos e bombas davam a ideia de que ali era uma sucursal do inferno.

A adolescente sentia cheiro de sangue, gosto de ferrugem na boca e estava bastante difícil respirar. Ela buscava o ar com sofreguidão, mas infelizmente não conseguia. A jovem não tinha mais fôlego. Antes que fossem pisoteadas, com o que lhe sobrou de forças, ela puxou sua mãe para junto da parede e viu a massa de desesperados caírem uns sobre os outros como peças derrubadas de um jogo de dominó enfileiradas. A cena era aterradora. Ela buscou avidamente informações visuais, alguma coisa que lhe permitisse tomar decisões rápidas. Não havia nada de familiar naquele lugar até que ela viu pelos cartazes de propaganda militar nas paredes e pela bandeira que teimosamente permanecia hasteada em uma quina do lugar que elas ainda estavam na colônia de Ophyr em Ophir Chasma. Eram refugiadas de guerra e passariam pela triagem, e por questões alheias às suas vontades, seus destinos seriam traçados em definitivo em poucos minutos. Seu coração parecia querer sair pela boca, já que ela sabia o que estaria por vir.

Já era de conhecimento de todos que mais da metade daqueles desesperados e famintos que se acotovelavam junto delas por um espaço naquele bunker estariam mortos até o fim do dia.

A triagem iria começar. A vida ou a morte seria definida pela fila em que elas fossem colocadas.

Aquele poderia ser o último dia de vida dela, mas antes de temer pela própria vida ela temia pela vida de sua irmãzinha de colo chamada Éris. Sua mãe fingia estar calma, ela segurava o choro e o próprio desespero para não contaminar a filha mais velha. Ela queria tentar passar a ideia de segurança e de que tudo estava sob controle. De que logo elas estariam a salvo.

Mas a mãe falhou miseravelmente nesse intento. Elas se abraçaram e decidiram deixar que as lágrimas rolassem.

— Eu te amo mãe, quero que saiba que... — Começou a se despedir Sedna.

— Não fale nada Sedna, minha querida... não vamos nos despedir, isso não é o fim. — A mulher censurou a jovem garota. — Vamos conseguir, continue acreditando. Não desista. Promete?

A garota se resumiu a concordar balançando a cabeça para cima e para baixo.

Um novo soldado entrou no recinto depois da algazarra e trazia consigo formulários para serem preenchidos em uma espécie de programa de computador projetado em realidade ampliada. Ele era apenas um burocrata.

O pobre coitado tentou chamar a atenção de todos, mas sem sucesso, até que decidiu subir em uma velha cadeira dobrável de metal e com um megafone fazer perguntas para a massa afoita de maltrapilhos.

— Atenção, quero a atenção de todos. — Ele falou ao megafone.

Sem sucesso, a balbúrdia continuava.

Ele fez um sinal com a cabeça para que outro soldado fizesse algo a respeito.

Sem pensar duas vezes o soldado atirou para cima pedindo ordem.

Dessa vez o silêncio foi conquistado. Todos olharam preocupados para o homem sob a cadeira.

— Agora respondam todos vocês: levantem as mãos quem teve a casa, agrupamento ou seu assentamento destruído nos bombardeios? — Gritou o burocrata.

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⏰ Última actualización: Jun 01, 2020 ⏰

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