Tentativa

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"A doação de órgãos é muito importante, se alguém faleceu não tem porque deixar apodrecer ao invés de doar para alguém que está precisando para viver ou reviver, a fila é gigante e é exencial a conscientização sobre o assunto."

Raissa...

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Alguns meses de passaram e mais alguns atrasos seguidos de frustrações vieram, a ansiedade só aumentava e o médico dizia que era ainda mais difícil engravidar assim. Mas eu não podia evitar. Era como se eu dependesse disso para viver.

Edu também estava ansioso. Era tão estranha a nossa necessidade. Não era tão urgente assim antes, mas agora doía a cada  teste negativo.

Acordei cedo, haviam duas semanas que eu  havia feito o último teste negativo. Tomei banho, me vesti, e como de costume, deixei meu filho na casa da minha mãe. Meu chefe havia me pedido para entrar uma hora antes do meu horário, pois hoje era dia de fechamento, e Thais, a outra operadora de caixa, estava de atestado. Então eu teria que fazer o fechamento sozinha.
Cheguei por volta das seis e agradei alguns minutos até o gerente chegar.

Comecei a sangria e, ao contrário do que imaginei, meu chefe me ajudou. Fizemos a maior parte pela manhã, teríamos apenas o faturamento do dia para fazer na parte da tarde.

Era quase meio dia e eu estava prestes a ir para o almoço. Haviam três pessoas na fila, todas conhecidas obviamente.
Atendi as duas primeiras e então veio dona Ruth, toda sorridente.

- Bom dia dona Ruth.
- Bom dia menina. Como está o seu menino?
- Está perfeitamente bem, graças a Deus.
- Que bom. E o marido?
- Está no trabalho. Esta muito bem também.

Passei as compras dela, e ela foi colocando na sacola.

- São 34,72, dona Ruth.
- Aqui está.

Ela me deu uma nota de cinquenta e eu peguei o seu troco, quando fui entregar, ela segurou minha mão.

- Aquilo que você tanto quer vai vir. Vai ser um presente que Deus vai te enviar. Uma jóia pra você cuidar. Seja forte.

Fiquei muda.

Ela pegou suas sacolas, virou as costas e saiu. Fechei meu caixa e fui almoçar.
Passei o resto do dia pensando no que ela havia dito. Mas logo caiu no esquecimento. Mas eu me lembraria. Me lembraria quando estivesse grávida.

A semana toda se arrastou, parecia longa demais. Edu precisou fazer uma viagem a trabalho e eu estava sentindo a falta dele.
Passei a semana na casa da minha mãe com meu filho. Não queria ficar sozinha em casa. Me sentia esquisita sem meu marido lá. Ele nunca havia viajado. Nunca havíamos ficado tanto tempo separados.

Quando cheguei do trabalho, minha  mãe preparava o jantar, eu adorava a comida dela. Não importava o que fosse, eu comia um pratão.
Ela havia dito que faria macarrão a bolonhesa, era mais rápido e muito bom.
Assim que abri a porta, o cheiro me atingiu, revirando meu estômago. Era fome. Com certeza era. Eu não havia almoçado e estava faminta.
Corri para o quarto e tomei um banho. Fiz o meu prato e o do meu filho e sentei para comer.
Na primeira garfada senti meu estômago revirar de novo, mas insisti em comer. Eu não havia comido nada. Comi todo o conteúdo do prato, mesmo sentindo meu estômago revirar. Um grande erro. Terminei e não fui capaz de chegar até o banheiro. Coloquei tudo para fora ali mesmo.
Minha mãe se assustou e correu para limpar a bagunça, enquanto eu me recompunha.

- Passando mal com a minha comida agora?
- Acho que foi porque passei o dia todo sem comer nada.
- Acho que você está é grávida.
- Fiz exame tem poucos dias mãe. Não estou não.
- Vá se deitar Luana. Descanse e se passar mal de novo me avisa.
- Tá bom.

Fui para meu quarto e me deitei. Após alguns minutos, Vitor se juntou a mim.
Eu o abracei e juntos pegamos no sono.

" Eu caminhava devagar, eu conhecia aquele lugar como a palma da minha mão, mas não corria. Andava pé ante pé. Como se procurasse alguém. Caminhei mais um pouco, sentindo a grama alta nos meus pés descalços, até que cheguei a uma porta. Ela estava entreaberta e eu empurrei devagar. Era um quarto infantil, não havia como identificar se era de menino ou menina, haviam corações pendurados por todos os lados. E no berço, um bebê agitava os braços. Não pude ver nitidamente seu rosto, mas ainda assim vi que sorriu para mim. Eu sorri de volta.

Acordei com uma sensação esquisita. Aquele sonho parecia tão real. Decidi que minha mãe poderia estar certa e eu estar grávida. Eu faria um novo teste.

Me levantei e fui até a sala. Minha mãe dormia sentada no sofá, em frente a televisão que chiava. Desliguei o aparelho e fui até ela.

- Mãe... mãe?
- Hum?
- Vá para a cama, já é tarde.

Ela se levantou e foi, sem ao menos me desejar boa noite. Ela estava dormindo em pé.

Voltei para o quarto e sem sono peguei o celular. Haviam várias ligações do meu marido. Retornei.

Chamou uma, duas, três, quatro vezes e caiu na caixa de mensagens. Quando eu ia tentar de novo ele ligou.

- Oi amor. O que houve?
- Já cheguei querida.
- Faz tempo?
- Uma hora mais ou menos, te liguei para avisar que vinha, mas você não atendeu. Aí cheguei tarde e não quis incomodar aí na sua mãe.
- Vou para aí.
- Não precisa. Dorme, amanhã nos vemos.
- Não. Eu tô...com saudades. Vou deixar o Vitor aqui e escrever um bilhete para minha mãe.
- Tá bom.

Escrevi o bilhete e em dez minutos estava em casa. Não era longe, era apenas do outro lado da rua. Edu me aguardava na porta.

Eu sentia uma necessidade latente de estar com ele. Dei-lhe um beijo e entramos. Matamos as saudades e dormimos abraçados.

Acordei por volta da sete, eu havia ganhado  uma folga extra porque cobri a garota que estava de atestado por vários dias. Então não iria ao trabalho naquele dia.
Não contei ao meu marido sobre o mal estar e nem sobre o sonho. Não queria deixar Edu ansioso de novo.

Ele ainda dormia e eu aproveitei para ir na farmácia. Comprei mais um teste.

Corri para o banheiro antes que ele acordasse. Abri o pacotinho trêmula. Peguei o potinho e fiz xixi. Coloquei o palitinho dentro.
Os minutos pareciam mais uma vez se arrastar.

- Que raio de exame demorado.

Tic...tac...tic....tac....

Olhei. O resultado saiu.

Negativo.

De novo.

Uma Nova Chance (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora