Meu estigma (RETIRADA DIA 22/07)

Recomeçando

— Vim me desculpar pelas merdas que fiz. Não posso jogar a culpa toda no Oberdan, quando eu mesma sabia do perigo que corria. Eu jamais imaginaria que ele estaria lidando com aqueles homens, mas mesmo assim não desistiria do meu propósito. —Digo sinceramente.

— Vejo que vamos ser sinceros nessa conversa, não é? —Pergunta e eu aceno que sim. — Pois bem... Você está certa, O Oberdan não foi o único errado, claro que ele leva a maior fatia desse bolo, mas não foi o único. O que fez foi de longe o maior erro que poderia cometer. Quando eu te falei que estava fora do caso por estar ligada emocionalmente com a vítima, não foi por duvidar da sua capacidade como policial, por que eu sei a profissional incrível que você era. Te afastei sim, mas por me preocupar com você, por justamente saber onde sua cabeça estaria. A vingança nunca é uma boa aliada Vivian e você sabe disso.

— Eu sei e me arrependo muito. Eu vi aquela menina nascer Duran, vi como os meus amigos ficaram, em minha cabeça eu era a única capaz de fazer justiça pelos meus amigos que estavam sofrendo. Oberdan me ludibriou sim e isso só fez com que a minha ideia ganhasse força, respaldo e não vi o que ele tinha planejado.

— E sabe a maior merda? Ele simplesmente te virou as costas, proibiu qualquer um aqui de salvar a sua bunda, tive que ouvir o maior sermão do Roger, tive minha bunda chutada pelo Álvaro como se eu fosse um moleque, porra! Olha... —Ele para e respira fundo antes de continuar. — Eu sei que você lutou muito para chegar até aqui, sei que perdeu muito também por seguir por esse caminho, mas não dá mais Vivian. Nenhum dos seus antigos companheiros confiam em você, eu não confio em você.

— O que você quer dizer com isso Duran?

— Você está fora Vivian. Não tem como adoçar essa pílula e para ser sincero, nem quero. O que fez foi muito grave e só corroborou para essa decisão, tivemos uma reunião sobre seu caso e a decisão foi unanime.

Essa foi a ultima pá de terra que faltava para enterrar tudo o que construí durante longos anos. Hoje sou e estou sozinha literalmente; sem família, sem amigos e sem trabalho. Eu não falei nada, não retruquei a decisão mesmo que por dentro eu estivesse gritando revoltada. Um sentimento de insubmissão, de impotência e muita revolta giravam dentro de mim, mas o cansaço mental não me deixou proferir nenhuma contestação. Só peguei minha bolsa e sai, deixando a ultima coisa que me restava. Não atendi nenhuma ligação dos meus antigos parceiros, do Álvaro, do próprio Duran, simplesmente não queria ouvir nada muito menos falar alguma coisa. Eu estava cansada mentalmente e isso começou a resvalar fisicamente. Enxaquecas monstruosas, cólicas horríveis, febre e até mesmo vômitos. Isso estava me deixando um lixo, mais ainda do que estava me sentindo.

Uma semana após fugir da delegacia e cansada de me sentir impotente, procurei um médico e após contar todos os sintomas que estava sentindo, ele me disse que eu poderia estar passando por uma grande carga de estresse e que por isso estava somatizando tudo.

— Está parecendo que você é Psicossomática, Vivian. Você está sentindo os efeitos do estresse pós-traumático tardio, mas vamos fazer alguns exames para investigar melhor e descartar algum problema após seu incidente.

Depois dessa nossa conversa e de ter feito todos os exames que ele pediu, no dia seguinte procurei ajuda profissional. Precisava fazer algo por mim mesmo, precisava desapegar dessas coisas ruins que passavam pela minha cabeça. Percebi que era essencial me perdoar ou jamais conseguiria seguir em frente. Em apenas uma consulta eu descobri que não adianta pedir perdão para os outros antes de eu me perdoar primeiro, pois não adiantaria de nada pedi perdão se eu continuasse me punindo pelas coisas que eu fiz.

Como minha conversa com a Hope...uma pessoa totalmente inocente, que acabei magoando por conta das minhas merdas. Eu não entendia como ela pode me desculpar e isso a psicóloga me fez enxergar.