PART I - Pat: entre cores e nomes

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Não sabia exatamente o que queria encontrar quando decidi a galeria Hyundai como a primeira parada naquela manhã — e o primeiro ponto turístico desde que cheguei na Coreia, dois dias atrás. A arte moderna nunca foi exatamente a minha praia, principalmente a abstrata, já que para mim era difícil entender todo o conceito por trás daquelas pinturas, mas algo dentro de mim disse que eu precisava estar ali naquele dia.

E, se existe algo em que eu aprendi a confiar nos últimos anos, era minha intuição.

Quando entrei no edifício moderno um suspiro de satisfação escapou de meus lábios, o local estava quentinho, contrariando o vento e a neve do lado de fora. Retirei o grosso casaco que me protegia e sorri enquanto caminhava, a galeria praticamente vazia naquele horário da manhã, fazendo com que o solado de minhas botas ecoassem pelo salão amplo.

Confirmando o que eu já esperava, cores e formas se espalhavam numa espiral de sentimentos e emoções, as quais eu nunca havia entendido muito bem, mas que não deixavam de ser belas. Ao contrário da escrita, que sempre fora algo muito sólido e real para mim, a arte pintada sempre foi um mistério reservado apenas a minha mãe.

Ainda mais depois de tudo o que aconteceu e que me afastou ainda mais daquele mundo.

Mergulhei em algumas lembranças agridoces enquanto caminhava em meio aos quadros, lembrando das palavras, do carinho e do cuidado, mas também da tristeza e da perda. Um quadro em especial chamou minha atenção, cheio de cores vibrantes e ondas fortes, me trazendo uma sensação gostosa no coração, contrariando aquelas que surgiram anteriormente. Parei em frente a ele e sorri, havia anos que não me sentia daquela forma vendo uma pintura.

— Muito bonito, não é? — Uma voz masculina disse ao meu lado, me assustando levemente.

Estava tão absorta naquele quadro que sequer havia percebido quando ele parou ao meu lado.

— Sim, me traz uma sensação gostosa de casa. — Respondi, completamente tímida e com receio do meu coreano de internet. Olhei rapidamente para o estranho e senti meu rosto queimar.

É lógico que ele seria lindo de morrer, aparentemente todos os coreanos eram assim. Porém, havia algo nele que acendeu uma luz no meu cérebro, como se já tivéssemos nos encontrado antes, ou pelo menos que eu já o conhecesse de algum lugar.

"Talvez ele seja algum famoso." Pensei, encarando o rosto bonito, apesar de estar morrendo de vergonha de estar fazendo aquilo.

— De casa? De onde você é? — Ele perguntou, curioso, inclinando a cabeça para o lado.

Talvez curioso até demais senhor coreano bonitão.

— Brasil.

O sorriso que ele deu com minha resposta foi tão grande que poderia facilmente competir com o brilho do sol.

— Dá pra entender porque te lembra de lá, as cores que o artista usou são quentes e acolhedoras, exatamente como eu imagino que o Brasil seja.

— Às vezes quentes até demais. — Brinquei e nós dois rimos de leve.

— Um pouco de calor iria muito bem no lugar de toda essa neve.

— Isso eu não posso discordar, é sempre assim por aqui? — Não é como se eu detestasse o frio, mas ele em excesso era tão ruim quanto o calor absurdo que fazia no Brasil na maior parte do tempo.

E sim, falar de condições meteorológicas era a minha forma de quebrar o gelo e não morrer de vergonha. Flertar? Não. Falar do quanto o dia estava frio? Muito melhor!

— Nessa época do ano? Sim, às vezes até pior

— Vou precisar comprar roupas mais quentes então. — Murmurei para mim mesma e voltei meu rosto para o quadro, mas soube que ele havia ouvido pois escutei a risada baixa.

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