— Não? — perguntei, como se fosse algo óbvio.

— Nada é mais intenso do que a velocidade. — disse meu pai — te faz sentir verdadeiramente VIVO.

A última palavra. Eu me perguntei se meu pai sabia sobre meus últimos dias. Não, não era isso. Ele queria me animar mais. E conseguiu.

Meu corpo ardia de animação. Tomamos café da manhã correndo e fomos até a garagem. Lá estava ela, bonita e bem cuidada. Era um "xodó" do meu pai. Nunca pensei que andaria nela.

— Pode subir. — disse meu pai, apontando para o assento de trás.

— Ok, só vou pegar o capac...

— Não, sem capacete. — falou, enquanto bloqueava minha passagem até o capacete. — Você vai entender no caminho.

Sem mais palavras, subi na moto, um tanto confuso, mas animado. Queria entender aquela sensação. Estava realmente ansioso.

Meu pai se despediu de minha mãe, montou no assento da frente e apertou alguma coisa do lado direito, que fez toda a moto tremer, fazendo um barulho verdadeiramente alto.

— Pronto? — indagou, olhando para trás.

— Com certeza! — confirmei, com os olhos brilhando minha ansiedade.

Acelerou, e saímos a toda pelo bairro. O barulho do motor, das rodas, as risadas do meu pai, o vento batendo no meu cabelo com violência, tudo aquilo era fantástico! Agora entendia a necessidade de sair sem o capacete, por mais perigoso que fosse, era maravilhoso!

Meu cabelo balançava pelo ar gelado pelo frio da manhã. Eu não percebi, mas estava sorrindo, o vento balançando meus lábios com força. A adrenalina mantinha meu corpo quente, por mais gelado que estivesse. Eu não sei explicar a sensação, mas é literalmente estar vivo.

Rodamos algumas vezes pelo bairro, acelerando e desacelerando, dando 'tchauzinhos' para as pessoas, até chegar à porta da escola. Não percebi, mas chamava uma tremenda atenção.

O barulho do motor estava absurdamente alto, não me sentia incomodado, mas parecia espantar os outros estudantes. Naquela hora, todos da entrada olhavam, com espanto e curiosidade, para mim. E eu estava me sentindo o máximo.

— Depois me ensina como lidar com a fama — brincou meu pai, acelerando e saindo à toda.

Alonguei meus braços e dei um grande bocejo. Nem o sono afetaria o quão bem eu estava me sentindo.

— E agora você é um bad boy? Todo dia me surpreendendo, não é cabeçudo? — uma voz feminina atrás de mim sussurrava no meu ouvido.

— CRENDEUSPAI — gritei, enquanto pulava para frente — que susto cacete! Bom dia pra você também, Let!

— Let? Ainda não aprendeu meu nome? — questionou com um olhar furioso.

— "Dona Let rainha do meu viver" — disse em tom de deboche, por mais que eu amasse falar aquilo.

— Agora sim — disse com um sorriso de lado e um olhar amoroso — Por que todo esse ânimo às 6 da manhã? Foram as Spice Girls? — perguntou enquanto balançava o quadril, cantarolando "Wannabe".

–Elas ajudam sim, mas eu estava bem animado para ver essa carinha feia! — POR QUE EU FALEI ISSO?

— Olha ele todo ousadinho. — disse enquanto seu rosto corava.

— Como foi seu encontro amoroso ontem? Achou o seu príncipe encantado? — debochei. Não sei porque disse isso, de novo, mas parecia o certo a se falar. Por mais horrível que eu me sentiria com a resposta, eu tinha de saber, para poder fazer melhor!

12 dias até minha morteWhere stories live. Discover now