extra: sobre seungchan

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As vezes eu acho que o Christopher e eu somos como duas crianças. De verdade.

Quer dizer, não é segredo pra ninguém que ele é um crianção, mas... EU? Sério?

Sempre me considerei maduro demais pra minha idade. Sempre.
Desde que descobri que a minha irmã mais velha tinha leucemia, eu tive que ser o pilar emocional da minha família — eu tinha que ser a esperança deles.

Nunca me dei ao luxo de ter relacionamentos sérios (de amizade ou romanticos); nunca me dei ao luxo de pensar em ter alguém com quem compartilhar tudo que eu sempre tive que aguentar calado. Eu não sou egoísta ao ponto de querer que uma pessoa passe pelo que eu passei.

E... não me entenda mal, não é culpa dos meus pais. Eu acho que eles nem percebiam que eu me colocava nessa situação.
Eu escolhi isso. Eu escolhi ser a força deles. Eu quis deixar a minha infância e parte da minha adolescência pra trás pra dar esperança a eles.

Sempre fui um garoto muito tímido e introvertido.
Eu não falava com quase ninguém na escola, não achava que merecia isso, até conhecer Felix.

Felix, com toda certeza, foi o meu primeiro amor. Eu nunca vou lhe tirar os créditos por isso.
Nunca mesmo.

Ele foi meu primeiro melhor amigo e a principal razão pela qual eu quis desistir daquela ideia maluca de deixar meus sonhos de lado e não fazer faculdade.

Minha irmã morreu naquele mesmo ano... Ela não conseguiu um transplante e a doença já havia se alastrado muito, seria um milagre se ela se salvasse.

Por fora, eu não demonstrei nada. Não podia, precisava ser forte.
Mas por dentro, eu só queria gritar e chorar até perder a voz.

Minha irmã sempre foi minha melhor amiga e ver sua vida escorrendo pelos meus dedos, me quebrou.

E, quando eu não tinha mais ninguém ali; quando me vi desamparado e sozinho em um mundo em que eu precisava ser o protagonista perfeito — mesmo não tendo psicológico pra isso —, ele apareceu.

Felix me fez tão bem. Tão bem.
Eu me apaixonei por ele, mas não queria. Eu não podia, eu não queria, eu não conseguia.

Eu estava muito mal comigo mesmo naquela época e não conseguia fazer isso com ele, eu seria idiota demais se arrastasse Felix para o mesmo buraco em que estava.

Então... mais uma vez, me vi sozinho. Sozinho e desamparado.

Mas agora com uma motivação.

Uma semana depois que... bem, aquilo aconteceu com a minha irmã... nós fomos retirar as coisas dela do hospital. Muita burocracia.

Eu estava com vontade de chorar, mas não ia fazer isso perto dos meus pais.

Então eu consegui entrar no quarto sem ninguem ver.
Sentei naquela maca enorme em que ela passou os últimos dias de sua vida, sorrindo triste ao perceber que seu cheiro ainda estava ali: misturado com o de remédios e aquele odor horrível de hospital. Mas ainda era o cheiro dela.

Sorri, lembrando de seu sorriso.
Sorri com o pensamento de que Felix iria amar conhecê-la. Eles seriam ótimos amigos.

Soltei uma risadinha fraca, que soou como um soluço, quando eu percebi que estava chorando.

Deus, Yeeun... eu sinto sua falta. Eu sinto tanto a sua falta.

Resolvi já ir pegando suas coisas, pra facilitar as coisas para os meus pais, eles não mareciam passar por tudo aquilo de novo.

Limpei meu rosto com a palma das mãos, mas ainda estavam meio encharcados.

Depois de quase tudo pego, só faltavam alguns papeis que estavam em uma gaveta do fundo.

meu livro de fetiches. 📚 - MINSUNG.Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz