O Sequestro. O Resgate.

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A garota correu... Ela correu, se escondeu, fugiu novamente enquanto escutava ele se aproximando enquanto a ameaçava. As penas caiam no chão assim como o sangue e as lágrimas. Os espinhos que ficavam presos em seus pés enquanto corria não doíam mais do que o medo que a assombrava naquele momento. Ambos, pai e mãe foram atacados, ambos foram mortos e ela sequer sabiam onde os dois estavam, mas segundo as palavras cruéis do homem de máscara de corvo: "Estão frios e não voltarão nunca mais para te ver, pombinha".

O medo fazia suas pernas tremerem e as vezes ela quase caia, mas a vontade de viver não a deixava parar de correr e nem cair no chão... Infelizmente o homem de máscara foi mais esperto e rápido do que a garota. Ele a alcançou com facilidade e a puxou pelo capuz da blusa de frio.

— Um passarinho que não sabe voar, mas que ainda assim foge rápido como um coelho... Se não fosse tão teimosa poderia viver bem sobre minhas ordens, pagaria bem por tudo que seus pais não pagaram, mas você é insuportável e corre para longe... — As palavras frias saiam de sua boca coberta pela máscara de corvo enquanto seus olhos a encaravam e a mão agarrou o pulso dela, a puxando para longe.

Ela esperneou! Gritou por socorro, levou um tapa no rosto, mas não desistiu ou se calou! Continuou gritando e tentando se soltar do forte aperto da luva branca em seu pulso. Ela continuou implorando por alguém que a salvasse, por alguém que a tirasse das mãos daquele maníaco. A garota conseguiu se soltar, mas o cabelo longo foi agarrado e o corpo arrastado pelo chão.

Em mais alguns poucos passos, o som de água corrente pode ser escutado e não demorou muito para a garota, que esperneava e tentava se soltar a todo custo, fosse arremessada de um penhasco e caísse num rio com brutalidade.

— Nem todos os pássaros são bons nadadores... Mas você é péssima nisso, pombinha... — Ele deu as costas sem pensar duas vezes ao ver a garota se debatendo na água e gritando por socorro enquanto se afogava e era levada pela correnteza do rio.

A água entrava em suas narinas e em sua boca, sufocando-a lentamente e dolorosamente. A voz começava ficar rouca e foi quando sua mente começou a aceitar o fato de que ela se juntaria aos seus pais. O corpo se entregou a água gélida e a correnteza forte, os olhos se fecharam e ela começou a afundar enquanto sentia a dor, a ardência, o frio e a tristeza a dominarem.

A garota morreria ali mesmo e apenas aquele homem cruel sabia quem ela era e para onde ela ia... Se a achariam algum dia? Ela sabia que demoraria ao menos uma semana...

Um mergulho intenso e desesperado e um par de mãos fortes agarraram o corpo desacordado e submerso. A garota não sentiu o couro frio e molhado agarrar seu corpo com força e a tirar da água. Não sentiu o vento frio bater em sua pele e o mesmo não causou nenhuma reação em seu corpo. Estava inconsciente, pálida, a respiração cessou lentamente enquanto afundava, estava quase morta.

— Vamos, acorde!! Eu não mergulhei na droga de um rio para você morrer agora!! — A voz preocupada de um homem quase gritou com o corpo desacordado da garota enquanto a colocava no chão.

As mãos foram pressionadas contra o peito da garota repetidamente. Nada aconteceu. Um beijo, um processo desajeitado e inexperiente de respiração boca-a-boca, e ainda assim nada. O processo foi repetido algumas vezes, respiração boca-a-boca e ressuscitação, até que uma boa quantidade de água foi cuspida e os olhos azuis se abriram lentamente.

What...? — A voz rouca e baixa questionou enquanto tentava visualizar quem era a figura sobre si.

— Ainda bem... Não cheguei tão tarde. Você tá horrível, garota... Onde estão seus pais? E como foi que você caiu lá dentro? — Ele perguntou, mas não recebeu resposta alguma.

Grandes asas vermelhas iluminadas pela lua cheia, cabelo loiro mel e roupas pretas, foi tudo que a garota conseguiu ver com toda a sua visão embaçada e confusa.

Are you... An angel? — A garota perguntou esticando o braço, mas desmaiou antes de conseguir tocar o rosto do homem que havia a salvado.

Ela acordou, estava quente e claro, mas seu corpo doía por inteiro e seus movimentos estavam lentos.

A luz forte queimou seus olhos e ela cobriu os olhos com palma da mão... Havia algo nas costas de sua mão esquerda que a incomodava, assim como também havia algo em seu nariz e sua garganta queimava e todo o seu corpo doía. Ela se sentou com calma e piscou algumas vezes até se acostumar com a claridade do ambiente.

Olhou ao redor e reconheceu que estava em um hospital, deitada numa maca. Haviam dois cateteres nas costas de sua mão esquerda e no seu pulso, que levavam soro e sangue, e em seu nariz havia um tubo de oxigênio.

— Acordou? — Uma voz masculina ecoou e o olhar confuso se direcionou a poltrona um pouco afastada da maca.

Não tinha asas e nem cabelo loiro mel... Era apenas um médico. Um homem de meia idade com cabelos negros, olhos de cor violeta e jaleco branco.

— Você recebeu visita enquanto esteve em coma. Seu tio veio te ver, assim como você pediu quando chegou, se lembra? Ele está conversando com a polícia agora, mas vai voltar em breve para te ver. — Ele se aproximou da garota, que o encarou confusa. — Não entende o que eu digo? - O homem perguntou surpreso.

What... Aconteceu...? — A voz fraca se fez pressente e misturou ambas as línguas sem saber muito bem o que dizer ou como dizer.

— Oh. É inglesa? Entendo... — O homem riu. Ele não fez questão de continuar uma conversa usando a língua que a garota não sabia utilizar e então se apresentou em inglês para ela.

Com uma conversa rápida e alguns vários goles de água para que a garota limpasse a garganta, o médico descobriu nome, idade e um pouco do que aconteceu na noite em que ela chegou no hospital.

A garota se chamava Yume Aizawa, tinha 14 anos, provavelmente teve os pais mortos pelas mãos de algum membro de um grupo baderneiro da Yakuza e foi salva por um herói iniciante. Sua individualidade era manipular as penas de suas asas e parte de seu esqueleto e corpo, os transformando em platina, mas ela não tinha controle total sobre sua individualidade ainda e as vezes se machucava com as próprias penas.

O médico explicou sua situação com calma e clareza. Suas asas foram incapacitadas devido ao corte exagerado das penas, mas o esqueleto se manteve intacto, mesmo assim, ela não conseguiria voar ou sequer planar durante um ano inteiro, ou talvez mais. O estado de saúde também não era bom, estava com muitos ferimentos internos e externos que poderiam infeccionar com facilidade e a respiração continuava muito fraca mesmo com ajuda de aparelhos. Com o devido tratamento e muita sorte, ela sairia do hospital em um ou dois meses, mas Yume não parecia ser o tipo de garota sortuda.

Mas você teve sorte. Hawks-san fez o procedimento certo e tirou boa parte da água dos seus pulmões, depois ele te trouxe voando para cá.

Hawks? Então foram pássaros? — A garota questionou. — Foram falcões que me salvaram? — Yume perguntou confusa e o médico se surpreendeu.

Não, você entendeu errado. Hawks é- — A fala do homem foi interrompida.

I'm your hero, little bird. — Um homem loiro disse sorrindo da porta.

Grandes asas vermelhas, cabelo bagunçado de cor loiro mel, olhos de cor castanho claro, uma camisa branca, jaqueta de couro marrom escuro e uma calça jeans preta. Ele era o mesmo homem que havia a salvado, sem dúvida alguma, era aquele homem parado na porta.

Yume se perdeu em seus pensamentos com facilidade enquanto encarava o homem na porta. Seria ele mesmo seu "anjo da guarda"? Um homem que a salvaria de todos os perigos? Ele era o tal falcão que a salvou? Hawks era o nome do seu anjo?

— Hey, garotinha. — Ele estalou os dedos na frente do rosto dela. Estavam sozinhos no quarto agora.

Você é... Um anjo? Você tem asas também, então... Você sabe como voar? — A voz calma e curiosa de Yume fez um sorriso surgir no rosto de Hawks.

Não sou um anjo, garota... Sou um herói. — Ele disse sorrindo e a garota o olhou confusa. Ele sabia falar sua língua, sabia falar inglês assim como ela e a pronúncia dele era incrível. — Mas se me chamar de "anjo" te deixa feliz, eu não vou te impedir.

I'm Your Angel, BabeWhere stories live. Discover now