Corpo seco

1 0 0
                                    

O dia passou sem muita coisa acontecer, conseguiram água num poço que estava praticamente seco, mas deu pra abastecer os cantís, também conseguiram folhas de Palmas, alguma carne de calango e carne de sol que traziam consigo para fazer um feijão para o bando se alimentar.
— Tá estranho isso aí – começou Morcego — não chegô nenhum cabra o dia inteiro, nenhum batedô....
Andava em círculos enquanto batia a poeira do couro das calças.
— já já anoitece de novo — continuou — eu acredito que a noite eles vem, só que eles não sabe que a noite nois é muito mais perigoso.
Pernilongo aquiesceu, estava amolando o facão, a arma que ele mais gostava, a que mais salvou seu rabo nos últimos anos.
— deixa eles vir, tô contando com isso Morcego.
O sol colocou-se a deitar no horizonte, avermelhado, bonito, levando embora parte do calor infernal que fizera durante o dia, embora a noite parecesse tranquila, um clima de apreensão percorria todo o bando, alguma.coisa iria acontecer e eles estariam preparados.
— Ei cambada, todo mundo quieto — chamou atenção o Mosca — olha lá, tá vindo alguém à cavalo.
O cavaleiro vinha a todo galope, enquanto os homens apontavam as armas pra ele, apenas levantou as mãos  se rendendo.
— Alto lá — Gritou um dos homens do bando
— Preciso de ajuda! — gritou o cavaleiro
— Macaco ocê não é... Então pode falar o que que há home?
— não sei como explicar direito, mas tem alguma coisa acontecendo, preciso de um pouco de água, a garganta tá seca.
Pernilongo se aproximou e deu um gole de água pro homem.
— pronto agora pode falar.
— Os mortos, eles estão se levantando dos caixão e atacando o povo.
— Para de graça home — falou pela primeira vez o cangaceiro conhecido como padin — Eu já fui quase padre, sei que não existem essas coisas aí não, tá tentando enganar a gente, não é inteligente da sua parte, tá com os macaco é? Tá tentando enganar a gente?
— Eu nunca faria isso, olha a única coisa que eu sei é que quem morreu tá voltando e tá atacando quem tá perto. E não vai demorar muito, tem um monte vindo pra cá, por isso que eu fugi, nessa vila aqui morava um cabra que vivia falando desses folclore aí de corpo seco, morto que anda, achei que ele ia saber como matar, já que nem tiro tá resolvendo, só na cabeça e olhe lá.
— a gente chegou aqui a vila tava vazia já, mas entra aí, se for isso mesmo que você tá falando logo a gente vai descobrir né e se preocupa não, arma e mira pra acertar na cabeça a gente tem — falou Morcego.

O Cheiro Da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora