Ecos do passado

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Pryia fazia a contagem regressiva deste dia desde que avistou as nuvens carregadas e cinzentas que convidaram o navio Marie III ao fundo do mar.

Ela estava há uma semana de distância da cidade de Realmar, onde assuntos urgentes aguardavam por ela.

Pryia tinha marcado o encontro inadiável da lâmina da sua faca com o coração do canalha que havia partido o seu. Provavelmente, três anos depois poderia parecer tarde demais para acertar essa dívida. Possivelmente Leonardo haveria sofrido a mesma sina, pelo mesmo motivo, mas pelas mãos de outra mulher.

Apenas o povo que pertence a terra e escolhe a vida no mar compreende o que um naufrágio tira de um marinheiro. 

Você perde o seu barco. Sua tripulação. Seu destino. 

E principalmente, você perde o nome que conquistou enquanto cruzava os mares.

Pryia orgulhava-se de ser Pryia North. Ela fora batizada quando se tornou primeira imediata do capitão North.

Também conhecido como: Mastro do Norte, Terror das Orlas, Domador de sereias.

Leonardo.

Leo.

Maldito.

Canalha.

Desgraçado.

Miserável!

Pryia se orgulhava por ter criado uma lista de xingamentos consideravelmente maior do que os títulos que ele havia ganhado enquanto construia sua reputação como pirata.

O canalha não hesitava quando avistava terra firme, calculando uma rota para fincar seu mastro. E assim, ofereceu a Pryia sua confiança e uma posição de prestígio dentre a tripulação.

Não demorou para que conquistasse sua boca. Depois sua confiança. E finalmente, roubou o que ela tinha de mais precioso.

E quem dera que tivesse sido o seu coração.

Mas agora, vivo ou morto ela o encontraria.

Recuperaria único mapa de tesouro verdadeiro que ela já havia visto em todo a sua vida. 

A única herança de uma menina órfã de mãe. A forma como o objeto chegou às suas mãos era sua ironia favorita. Sua sorte, é que Pryia era única capaz de decifrar as coordenadas codificadas ali. Graças a uma antiga melodia que aprendeu ainda criança. Um segredo que pertencia apenas a ela e ao seu pai. Que o mar o tenha em suas brumas.

Eram tantas as lembranças que a assombrava.

Infelizmente, sua memória pregava muitos truques, e ela não conseguia reproduzir o desenho do mapa, por mais que tentasse. Mas assim como todo pirata que se preze, ela conhecia a lenda do Baú de Tesouro do Povo Submerso.

Sabia que lá você poderia encontrar muito mais do que ouro e joias. Mas também o elixir que tornava um simples humano capaz de se comunicar com as criaturas marítimas. Diziam que poderia torná-lo capaz de controlar os ventos e as marés.

Talvez, pudesse até mesmo conferir o status de Deus para um mero mortal. Um presente, pela audácia de chegar até ali. Isso mostraria que tal mortal era digno de tal poder.

Pryia era digna de tal poder.

Não Leonardo.

Não aquele bastardo traidor.

Ainda assim, tão perto de finalmente deixar este maldito Porto, ela sentiu um certo vazio.

Agora no horizonte ela avistava uma embarcação modesta de suprimentos chegando, certamente com marujos dispostos a pagar qualquer moeda por alguns minutos desfrutando da atenção plena de Pryia. Embasbacados enquanto a jovem falava com eles distribuindo sorrisos, olhares, e elogios que eles não mereciam.

A falsificadora de mapasWhere stories live. Discover now