30 de novembro de 2017

Bắt đầu từ đầu
                                    

Sentiu o vento outra vez e desejou que pudesse sentir os cheiros que ele trazia consigo. Sorriu ao lembrar de como Amelia reclamava do cheiro de cemitério toda vez que visitava o túmulo da avó — aquele mesmo em que ela estava enterrada —, dizendo que as flores enfeitando as lápides não eram suficientes para disfarçar o cheiro da morte.

Jean não sabia qual era o cheiro da morte. Pelo menos, não sabia mais. Há muito tempo não sentia cheiro algum, privado para a eternidade daquele sentido tão inebriante. Seria certo que perdesse o sorriso ao pensar nesse tom mórbido, mas o pequeno sorriso apenas aumentou com a nova lembrança.

— Eu vi os frascos de perfume... Aliás, vi a renovação da loja. Sou obrigado a dizer que agora parece uma loja da modernidade. Talvez eu goste mais do jeito que está, já que não é tão difícil de circular pelo lugar agora. Não estás chateada, estás? Luna disse que a fizeste prometer que mudaria. Acho que acertaste, combina muito mais com ela daquele jeito.

Quebrou o caule de uma das rosas em um dos vasos sobre o túmulo da família La Frénière. Rolava-o entre os dedos enquanto continuava o monólogo:

— Luna disse que criou os perfumes. Tenho passado na frente da loja e visto que eles são um sucesso. Ela fará uma fortuna com suas criações. — Fez uma pausa quando ouviu passos sobre o cascalho.

Olhou naquela direção e a viu. O assunto de sua conversa com Amelia estava caminhando em sua direção, com um sorriso nos lábios finos e desenhados. Jean sentia que precisava respirar fundo toda vez que via aquele sorriso, como se não esperasse encontrá-lo ali. Confessou a Amelia que tinha medo que Luna se tornasse como a mãe, por isso ainda tinha dificuldade de ver nela a moça alegre que Helena tinha deixado de ser.

O vento soprou pela terceira vez naquele dia, desta vez vindo de trás de Luna e chegando até Jean com a promessa de um odor delicado e vibrante que transformaria o cemitério em um verdadeiro jardim.

— Daria tudo para sentir seu aroma — foi seu último sussurro para sua amiga naquele dia, pois Luna se aproximou logo em seguida, quebrando qualquer espécie de confissão que ele pudesse continuar fazendo.

— Pensei que não teria ninguém aqui — a jovem falou, interrompendo os pensamentos de Jean. — Costumo vir toda semana nesse horário e o lugar fica vazio.

Assim como na primeira vez, Jean sentiu dificuldade de se comunicar com ela. Não que não quisesse cumprimentá-la ou que fosse realmente difícil embarcar nos assuntos diversos que ela puxava, mas Jean gostava de observá-la, de ver como os fios pretos escorriam sobre seus ombros delgados, como o lábio superior se escondia levemente quando ela abria seu sorriso alegre e como ela levantava levemente o queixo quando tinha que olhá-lo nos olhos.

— É a primeira vez que vem aqui desde que aconteceu?

— Aconteceu o quê? — Na verdade, era a primeira vez que Jean se perdia em uma conversa.

— Desde a morte de vovó Amelia — Luna respondeu, rindo levemente da confusão dele. — Quero saber se é a primeira vez que a visita.

— Ah, sim. — Jean se afastou da pedra onde estava escorado, parando ao lado da neta de Amelia. — Tem muitos anos desde que vim aqui pela última vez.

— Quantas delas você visitou? — perguntou, apontando para os nomes gravados na lápide.

— Uma.

— Só uma? Só minha avó? Por quê?

— É uma boa pergunta. Talvez eu não goste de encarar a morte? Pode ter sido também porque aprendi rapidamente a continuar sem elas.

— Não sente falta de ninguém? Nunca sentiu até minha avó?

— Sinto saudade de todas elas, de todos eles. Fiz muitos amigos, conheci muita gente, cada um deles marcou minha existência de alguma forma. Eu só aprendi que não há motivos para lamentar o passado. O mundo continua girando depois que eles se vão.

O véu que nos separa (Degustação)Nơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ