Brilhe

Capítulo Único

Já era noite, uma noite gelada e muito mais escura que de costume, bom, pelo menos era o que parecia ser pra mim naquele momento, mas talvez fossem apenas os meus sentimentos que estivessem me fazendo enxergar tudo mais escuro.

Havia acabado de chegar do trabalho, olhei para o relógio e marcava às 22:00 horas.

Me joguei no sofá e senti toda angústia que segurei ao decorrer do dia, toda pressão que tentei esconder atrás de um terno impecável e um sorriso bonito.

Minha cabeça parecia que iria explodir a qualquer momento, não, eu não estava sentindo nenhuma dor física, mas a dor emocional era tão forte que eu mal podia conter.

-Aaaaaaaaa- gritei completamente estressada e fatigada, não importando quem fosse me ouvir.

Mas acho que apenas as paredes me ouviram, sozinha era como me encontrava, era como eu sempre estava e, mesmo quando saía e ficava cercada por pessoas, era como sempre me sentia.

Me levantei e subi as escadas indo diretamente para o meu quarto.

Abri a janela sentindo o vento entrar e querendo levar consigo o meu tormento, mas era demais para um simples vento apesar de ser forte.
Em um único pulo subi na pequena janela de madeira e a atravessei indo parar no telhado onde me deitei para então fazer o meu ritual de desestresse.

Deitada no telhado de minha casa encarava a imensidão daquele céu negro que parecia dançar para mim com todas as suas luzes.

Olhei tudo de uma forma ampla. A lua, as estrelas, todas um coral em perfeita harmonia. Prontas para nos fazer apaixonar por elas se pudermos parar para admirá-las por um pouco mais de meros 5 segundos.
Bom, infelizmente as pessoas geralmente decidem dedicar o seu tempo para as coisas sem valor.

Mas isso, ou melhor, TUDO isso diante dos meus olhos é uma preciosidade.

1 minuto, foi apenas isso que bastou para que eu percebesse o quão pequena sou diante dessa imensidão.
1 minuto foi o que precisei para me sentir uma amante desse lindo céu e de toda a sua mágica composição.

Quando comecei não consegui mais parar de me apaixonar.

Neste exato momento eu não conseguia compreender o porquê de não existirem tantos amantes assim como eu me tornei.
As pessoas, sempre ocupadas com coisas banais, ah, mas se pudessem parar apenas 1 minuto, respirar fundo e se permitir sentir essa magia que agora eu sinto.

Talvez esse sentimento fizesse seus dias valerem a pena, talvez se sentiriam mais leves e aí perceberiam o quão seus problemas não são tão grandes quanto as vezes parecem ser. Perceberiam que há algo maior.
E talvez assim fossem mais gratas por essa coisa maravilhosa que de graça nos foi concedida.

Tirei meu celular do bolso da minha calça juntamente com os fones enrolados, coloquei os fones em meus ouvidos e coloquei uma música pra tocar.

Talking To The Moon- Bruno Mars

Eu me sentia completamente leve, como se meu corpo flutuasse a ponto de tocar o céu e como se minha mente estivesse lá por entre as estrelas.

Fechei meus olhos ao sentir o vento bater contra a minha pele macia que no mesmo instante se arrepiou.
Agora sim, ele foi capaz de levar consigo o que durante o dia em mim acumulou: estresse, cansaço psicológico, vazio.

Ah, que sensação gratificante, eu não saberia expressar com palavras a calmaria, a paz e o conforto de estar sob aquela constelação.

Então mais uma vez permiti que meus pensamentos voassem e abri o cadeado onde as vezes ficava presa a minha imaginação.

Milhares de estrelas brilhando, umas mais que outras, mas todas em perfeita sintonia.
Era como numa peça de teatro onde todas tinham os seus papéis, algumas tinham os papéis principais onde deveriam mostrar todo o seu potencial, já outras eram apenas personagens secundárias e, por isso, não tinham a chance de brilhar de verdade, mas de qualquer modo todas tem a mesma importância.

Cada uma possuía um brilho diferente, uma intensidade diferente, e cada uma atraia para si um olhar diferente, uma admiração diferente.

Por mais que as estrelas apagadas estivessem ali, era para as mais fortes que preferiamos olhar, eram as mais intensas que chamavam a atenção.

Até que eu percebi que os humanos são como uma constelação.
Alguns decidem mostrar todo o seu talento pro mundo, mostram o quanto são brilhantes e o quanto tem potencial, já outros infelizmente, por medo, falta de coragem ou por qualquer que seja o empecilho, decidem colocar num baú a parte brilhante de si.
Alguns são personagens secundários de suas próprias vidas, decidem colocar outros na frente da sua saúde, autoestima e bem estar.
Alguns não se permitem demostrar o seu valor e acabam se contentando com tão pouco.
Assim como as estrelas apagadas se contentam com os mínimos olhares, alguns humanos acabam se contentando com o famoso qualquer coisa.
Seja na profissão, no amor, na amizade, no amor próprio, na reciprocidade...
Alguns infelizmente acabam não buscando o melhor que podem e ficam com o melhor que lhes foi oferecido, mas talvez esse "melhor" não seja bom o suficiente.

Mas, no fim, todas aquelas estrelas, não importasse o quão brilhantes fossem, não conseguiam ser mais fortes e nem mesmo se comparar ao majestoso brilho da lua.
Ela, que hoje se encontrava cheia e ainda mais radiante do que todos os outros dias que passei na janela a admirando, parecia estar duas vezes o seu tamanho, como em filmes de fantasia. Com toda a certeza ela se encontrava em seu dia de glória.

Eu, como a amante da lua que sempre fui, a observava com toda minha admiração e amor.

Por fim, novamente cheguei a uma conclusão:
Talvez devêssemos ser mais do que apenas estrelas, por mais belas que sejam, mas talvez devêssemos desejar sermos luas.
Tem suas fases, mas não deixa que isso a impeça de brilhar e apesar de estar sozinha as vezes, de não ter nem nuvens e nem estrelas para enfeitar o céu juntamente consigo, ela não deixa de estar lá.

Brilhando e iluminando a tudo e a todos.
Aquecendo corações e me fazendo transbordar amor por ela.