Capítulo 1 - Hack(er)

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Poucos no mundo conseguem realizar as coisas que eles estão fazendo hoje. Se houve alguém ambicioso assim, realmente é  desconhecido, talvez seja o ego iludindo suas mentes como um vírus que invade o sistema e corrompe arquivos fundamentais e importantes.

Cada passo com a equipe para conhecer a estrutura enquanto os últimos detalhes tomam forma preenche seu peito de um entusiasmo quase surreal, todos aqui trabalharam mais do que ele podia imaginar, além de terem dedicado muito suor e tempo na conquista de suas vidas.

É realmente impressionante, mas o maior prêmio do jovem executivo caminha lentamente em sua direção, a pele negra e os cabelos volumosos em cachos assumidos criam um contraste com o vestido de fundo azul enquanto algumas flores de sapucaia estampam o tecido.

Sorrindo ele caminha entre acenos e sorrisos de alguns que estão ali.

- Amor, onde você estava?
- Fui buscar água no bar e acabei cumprimentando algumas amigas.
- Mas você está bem?
- Sim, estou. Pode ficar tranquilo.

Um afago lisonjeiro aquece parte de seu rosto e todo o coração.

O momento não dura muito, a voz forte de um homem quebra o silêncio enquanto uma de suas mãos apoio o ombro do rapaz.

- Aqui está o casal mais bonito da festa.

Ele sorri timidamente, enquanto ela ilumina o rosto com alegria de um sorriso largo e acentuado.

- Filho deixa eu apresentar um dos nossos investidores, esse é Carlos de Oliveira, e estes são meu filho Eduardo e minha nora Alessandra.
- Como estão? É bom finalmente conhecer vocês.

Ele exala o aroma forte de charuto, suas mãos são grandes e ásperas, assim como a barriga avantajada e a pele avermelhada deixam claro que a preocupação com sua aparência é de longe a prioridade.

- Quantos meses?

Carlos aponta a barriga aparente sob o vestido de Alessandra.

Eduardo envolve a esposa com um abraço e divide o olhar entre ela e Carlos.

- Ela está no terceiro mês. Estamos muito felizes.
- Sim, meu primeiro neto está crescendo forte e saudável. Certo?
- Não se preocupe senhor Augusto, estamos cuidando bem dele.
- Sim pai nós estamos. Mas o senhor quer tratar daquele assunto agora?
- Sim filho, por favor, Carlos e eu gostaríamos de reunir os executivos e investidores por dez minutos, antes de fazer o anúncio para a imprensa e nossos convidados.
- Claro. Amor, você vai ficar bem?
- Sim, fiquem a vontade. Eu vou me sentar um pouco.
- Certo, vamos então.

Quando saíram cada um para seu lado, o trio de executivos caminhou para uma sala com vista panorâmica logo após um lance de escada branco.

A música ao vivo preenche harmoniosamente o ambiente, o palanque pronto aguarda sobre o a parte onde o piso se eleva gradualmente.

Logo que entram um grupo de trinta homens e mulheres recepciona com aplausos, Eduardo une os braços a frente do corpo sorri com os lábios fechados e a pele de seu rosto aquece.

- Esse é meu irmão! Aplausos pra ele pessoal.

O jovem fala aproximando seu corpo e abraçando Eduardo apoiando sua cabeça, três tapas amigáveis completaram o carinho.

- Obrigado, muito obrigado... senhoras, senhores, eu realmente agradeço. Hoje estamos aplicando nossos recursos em muito mais do que um negócio, nós estamos moldando o futuro. E nada disso seria possível sem o apoio da minha família, pai, meu irmão Maurício aqui presentes, minha esposa e claro a confiança que cada um de vocês depositou neste projeto desde o início. Muito obrigado, e agora eu vou parar de falar porque sou tímido demais para fazer longos discursos.

Sorrisos e aplausos preencheram a sala, enquanto perguntas e respostas acrescentavam clareza sobre o anúncio desta tarde. Maurício manteve o paletó aberto tomou uma taça com espumante enquanto seus olhos passeiam nas curvas do corpo de uma das investidoras. Ela por outro lado não corresponde.

- Você não muda.

Eduardo sorri enquanto fala com o irmão. A conexão entre eles é constante.

- Não sou cego, basicamente. E além do mais ela fica linda com essa roupa, imagina se...
- Do que estão falando?

A presença do pai desconstrói a interação, olhares cúmplices são trocados, o progenitor não entende, mas a intuição logo aponta o tema e os termos da conversa entre irmãos.

- Espero que você não esteja tramando mais uma de suas aventuras Maurício.

O som da voz é baixo, controlado e não traz notas amistosas. A vibração é de uma repreensão.

- É claro papai.
- Estou falando sério.
- Eu também estou, que fique claro, aqui não é o seu salão de jogos, onde você pode brincar e esquecer das consequências.
- Tudo bem pai, o Maurício já entendeu,  não precisa disso.

Eduardo tenta manter a paz, ele traz essa virtude no caráter, o apaziguador.

- Precisa sim filho, seu irmão deve assumir responsabilidades. Você precisa crescer, e eu não vou permitir que estrague o dia de hoje. Entendeu?

Maurício está em silêncio, Eduardo o encara e percebe as mágoas acumuladas, com aquela somando mais uma. Ele não responde, deixando a taça vazia sobre a mesa, ele sai a passos largos, rígidos e pesados.

O que fica para trás é mais um perdão que não foi pedido, outra culpa que aumenta o peso.

- Não precisava disso pai.
- Eu sei meu filho... Eu sei.

A voz arrependida de Augusto chega quase a ser um choro silencioso, o olhar pesado fica mais expressivo com as pequenas rugas ao redor.

-  Se a mãe de vocês fosse viva, ela saberia lidar com seu irmão. Eu amo vocês, ela porém sabia ser paciente, compassiva e repreender à medida certa.
- Pai... Deixa que depois eu converso com ele... Vai ficar tudo bem, eu tenho certeza. O Maurício é assim mesmo, impulsivo, rebelde a maneira dele, mas ele está tentando provar o seu valor.
- Ok, filho me perdoe, não quero estragar esse dia.

Não houve tempo para seguir a interação familiar, a porta se abriu automaticamente e uma mulher anunciou que todos aguardavam para a coletiva e o discurso de lançamento.

*******

Maurício esta no bar, logo a frente percebe sua cunhada conversando com outras mulheres em uma mesa privilegiada para estar perto do marido quando este for aplaudido. Ela sorri diversas vezes, leva a mão a barriga e acaricia enquanto fala e recebe toda atenção.

O gim desce seco em sua garganta, os olhos marejam, até agora ele está sóbrio, o terno escuro em tom azul petróleo permanece alinhado, a pele bronzeada de sol e os olhos claros herdados da mãe não deixam de fazer sua presença ser notada e mesmo a distância assediada.

Levantou da banqueta, logo que pensou em sair alguém o surpreendeu.

- Senhor Lima, finalmente encontramos tempo para aquelas poucas palavras que deveríamos trocar.

Maurício não sorriu, sua linguagem corporal anunciou aflição e intimidação.

- É claro, prefere conversar aqui?
- Não senhor Lima, é de praxe que certas negociações aconteçam em um ambiente mais... Seguro. Não acha?
- Com certeza.
- Ótimo, meus amigos e eu vamos acompanha - lo até nosso carro, nos fundos do prédio. Por favor.

Deixou o copo sobre o balcão. Enquanto caminhava escoltado por aqueles de quem tão pouco sabia seus olhos cruzaram com o olhar de Alessandra.

Ela ouvindo sua interlocutora, percebe a estranheza, por alguma razão nota o ar tenso. Maurício tenta esboçar um sorriso para trazer tranquilidade, mas sob pressão desaparecem logo que abrem as portas corta fogo.

Inquieta Alessandra volta seu olhar para as amigas à mesa, mas a mente questiona o que viu.

Seus pensamentos são arrebatados pela voz ao microfone que anuncia.

- Senhoras e senhores, com vocês o senhor Eduardo Pedro de Lima.

O jovem caminha rumo ao púlpito, sua amada o observa, é tudo o que ele precisa para manter a calma, enquanto ela durar.

ATHOS Where stories live. Discover now