trinta e quatro

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— Sim, tudo bem — minha voz vacila um pouco. — A senhora precisa de ajuda para retirar a mesa? 

Não espero resposta e passo por ela rumo ao quintal. Sinto que não posso aguentar nem mais um segundo na presença de Tyler, mas não posso simplesmente ir embora assim. Essas pessoas me acolheram da melhor forma possível, e o mínimo que posso fazer por elas é aguentar um pouco mais. 

Dona Alana surge momentos depois, e logo após também vejo Tyler surgir da cozinha. Nossos olhares se cruzam por um segundo, mas logo trato de olhar para outro ponto e tento não parecer muito trêmula enquanto empilho alguns pratos nas mãos. 

— Querida… — sinto um toque no meu ombro e me viro, encontrando o olhar apreensivo de Alana. — Deixe isso comigo, está bem? Por que não se senta um pouco? 

Ela parece estar tentando me confortar. Sou incapaz de contradizê-la, e apenas a deixo pegar a louça suja das minhas mãos. Ando até um banco de madeira nas extremidades do quintal, sempre mantendo o meu olhar baixo. Não quero deixar transparecer toda a minha tristeza para essas pessoas, não quero ter que dar explicações… 

Sento-me. Por algum motivo, meus olhos se encontram novamente com os de Tyler. Ele faz menção de se aproximar, mas balanço a minha cabeça negativamente, fazendo-o parar no mesmo lugar. O mesmo parece estar tentando me dizer alguma coisa pelos olhos, mas me recuso a tentar decifrar o que quer que seja. Apenas olho para um ponto distante do seu rosto, ignorando-o. 

As horas parecem se arrastar. Eu só quero ir embora. Torço para ninguém notar o meu isolamento, mas Melanie acaba se aproximando em algum momento. Engulo o choro e a tristeza e coloco o meu melhor sorriso no rosto. Ela parece não perceber nada, felizmente, pois está tagarelando sobre moda e roupas; sinto vontade de chorar toda vez que ela toca no nome do Tyler. 

Felizmente não vejo mais Olivia. 

— Teri. 

Ergo a cabeça e dou de cara com Tyler. Não posso ignorá-lo quando a sua irmã está sentada ao meu lado. Apenas o encaro, esperando que ele diga algo. 

— Acho que já está na hora de irmos embora — emenda ele, olhando dentro dos meus olhos. 

Engulo em seco. Não posso fugir dele para sempre. Pelo menos ele soube respeitar o meu espaço por algumas horas antes do sol se pôr. 

— O quê? — exclama Melanie. — Vocês já vão embora? 

— Nosso vôo é bem cedinho amanhã, Mel — explica-se Tyler. — Precisamos deixar tudo pronto para a viagem. 

Ela parece prestes a chorar. E então começa as despedidas. Pelo menos eu posso chorar um pouco e usar como desculpa a saudade que sentirei de todos — o que não é mentira. Abraço Alana por último, então ela diz baixinho apenas para eu ouvir: 

— Ele gosta muito de você, querida. Sei que é difícil pensar com clareza quando estamos com raiva, mas tente ouvir a versão dele da história. 

Afasto-me e olho para ela. Isso não soa como um pedido, mas sim como um conselho. Tudo o que eu consigo fazer é forçar um sorriso. 

— Foi um prazer, dona Alana. 

A pior parte é ter de esperar um táxi do lado de fora com Tyler ao meu lado. Mantenho-me em uma distância segura, e ele parece estar sempre cheio de coisas para falar, mas não tem certeza se deve ou não fazer isso. Eu achei que a situação não poderia ser pior até ter que dividir o banco traseiro de um táxi com ele. Mantenho o meu rosto virado para a janela o tempo todo, e até mesmo a música que toca no rádio parece triste e me toca profundamente. 

Amor à segunda vista • COMPLETOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora