Harry suspirou cansado.

"Você vai acabar descobrindo cedo ou tarde, curioso como é." Ele lamentou, e não soava como um elogio. "Bordel é uma casa de prostituição, Draco. E prostituição é quando alguém vende o próprio corpo por dinheiro."

Encarei-o incrédulo.

"Co-como assim?" Demorei apenas alguns segundos para juntar dois mais dois. "O menino... o ruivo... ele... está... você o mandou para uma..." Minha voz tremia pela indignação. De repente, a Srta. Parkinson já não me parecia mais tão boa pessoa. Harry se levantou e caminhou até a cama, ajoelhando-se à minha frente, nossos olhos ficando na mesma altura, e segurando minhas mãos.

"Draco, ouça-me. Eu fiz de tudo para conseguir lares decentes para todos os jovens que estavam na casa de Avery aquele dia. Dois eu inclusive consegui localizar suas famílias e mandá-los de volta. Outros haviam sido vendidos pelos próprios pais..." Harry começou a me explicar com o semblante sério e abatido. "Três delas eu não tive escolha senão deixá-las com Pansy Parkinson. Apesar de dona de um bordel, sei que ela não prostituiria crianças. Ela adotou as crianças, e elas trabalham para ela ajudando com os afazeres domésticos da casa, em troca de moradia, comida e proteção."

"Poderia ser eu lá..." Falei, sem conseguir parar de pensar no garoto, mais novo que eu, que estava com Pansy. Ele ao menos parecia feliz aquele dia. Pansy deveria tratá-lo bem.

"Mas não é." Harry beijou uma de minhas mãos e eu o encarei com os olhos arregalados, sentindo um calor estranho espalhar-me pelo corpo com o contato. "Então esqueça isso."

"E os outros...?" Sussurrei, sentindo-me extremamente egoísta por estar ali, aproveitando tudo que a vida poderia oferecer: boas roupas, boas comidas, uma cama confortável e aconchegante, empregados ao meu dispor, enquanto os outros, que haviam sofrido tanto ou mais que eu, precisavam trabalhar a fim de receberem menos de um terço do que eu dispunha com um simples estalar de dedos.

"Dois viraram aprendizes de artesões. Outro foi adotado por uma família humilde de mercadores. Duas meninas gêmeas foram adotadas por uma família mais abastada, cuja senhora nunca pôde ter filhos. E outro foi adotado por uma família, não tão rica, mas que vive bem. Três faleceram, devido aos maus tratos..." Harry acariciou gentilmente minha mão.

Eu abaixei o olhar e mordi o lábio inferior, sentindo um mal-estar terrível, que parecia torcer algo dentro de mim. Poderia ter sido eu, no lugar de qualquer um deles, inclusive dos três que haviam morrido. Afastei-me de Harry, pegando meu coelho no colo e acariciando suas longas orelhas. Era um coelho obediente, que não fazia muita sujeira e ficava sempre quieto e encolhido quando eu o banhava em uma bacia na cozinha. Anna e Romilda eram especialmente apaixonadas por ele.

"Você já escolheu um nome para o seu coelho?" Harry perguntou suavemente, levantando-se. Eu assenti fracamente, afagando o queixo do coelho, que jogava as orelhas para trás e fechava os olhinhos, satisfeito.

"Vou chamá-lo de Mordred." Disse.

"Mordred?" Harry perguntou, arqueando uma de suas sobrancelhas. "Você andou lendo a lenda do Rei Arthur?"

"Sim. Remus insistiu para que eu lesse, disse que eu iria gostar. Não foi fácil, ainda entendo muito pouco do italiano."

"Mas por que não Lancelot, ou Arthur? Mordred é o traidor da história." Harry mirava-me com evidente curiosidade. Eu senti meu o mal-estar aumentar, enquanto pensava em quem havia morrido, e em quem eu havia ignorado a morte, pois não havia sido capaz de encará-la antes.

Era uma vez em veneza Where stories live. Discover now