Um orfanato?

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John abrira os olhos, se punindo mentalmente por ter dormido novamente, estava numa cama confortável dentro de um recinto com vários beliches. Ele não sabia onde estava, a razão por estar ali e pior, ele não fazia ideia de como foi parar ali. Sua última memória era de entrar na carruagem para ir a Tenebri e então... nada.

Forçava a cabeça a se lembrar quando, de repente, a grande porta lateral que ele nem sequer reparou que estava ali se abriu bruscamente deixando entrar no quarto uma alta figura feminina (aparentemente já de idade) com um sorriso benevolente no rosto. "Será que ela sabe o que aconteceu? Se soubesse podia me contar." Pensou.

—Boa tarde meu bom garoto, aposto que está faminto depois dessas noites.

Tomou coragem e, sem responder à questão implícita desta nova conhecida, perguntou:

—A senhora sabe onde estão meus tios? Ou o que eu estou fazendo aqui? E melhor, como vim parar aqui?

A mulher pareceu empalidecer por um instante.

— Bem, esperava que você pudesse me contar, porém pelo visto nem você nem a sua amiga lembram-se do que aconteceu.

— Minha amiga? Como assim? —Questionou confuso.

— A menina que chegou com você na cidade, Mary. Não a conhece? Os dois vieram de mãos dadas e assim que chegaram, desmaiaram na calçada, por sorte foram acudidos por um guarda antes que uma carroça de suprimentos os atropelasse.

— Eu... não lembro disso. Diculpa. —Falou cabisbaixo. —Mas e meus tios? Eu quero voltar pa eles. —concluiu com uma feição de partir o coração.

— Bem, você foi identificado pelo seu colar onde tem seu nome, data de nascimento e localidade então há dois dias buscamos pelos seus responsáveis mas... só encontraram os corpos à beira da estrada junto com um elmo do exército luxiano, sinto muito... —Terminou tristemente.

Ao ouvir isso passaram pela sua cabeça todos os bons momentos que eles haviam dado a ele desde que seus pais tinham sido atacados. De todos os piqueniques no verão, passeios a cavalo de manhã, do cãozinho que cuidaram juntos ao encontrá-lo na rua até o dono aparecer, dos bolos de chocolate e cookies feitos com tanto carinho pela sua tia Nicole, e das histórias contadas com tanto ânimo por Ben.

Esses momentos ficaram passando por sua cabeça várias e várias vezes por longos instantes, com as lágrimas escorrendo como cachoeiras de seus olhos fechados e chegavam em seus ombros soluçantes; até que a senhora da porta (cujo crachá dizia-lhe que se chamava Antônia) o despertou para a realidade.

Ela passou o braço ao redor dos ombros dele e pousou a mão no seu ombro esquerdo, o que, curiosamente, o fez diminuir as lágrimas até que, após alguns minutos, (que lhe pareceram uma eternidade) pararam de escorrer.

Houve um breve silêncio que foi interrompido pela voz de Antônia, que disse a ele para descer e comer algo junto com as outras crianças.

Ao ouvir isso ele relutantemente se levantou da cama, seguiu-a pela porta lateral de onde ela viera e desceu a longa escadaria circular até três andares abaixo de onde estavam.

Quando finalmente pararam, ele ouviu pela primeira vez após a saída da vila, o som inconfundível de várias crianças que falavam e batiam os talheres sem parar na sala cuja porta estava logo à frente deles.

Ao abrir a porta de madeira, o som repentinamente parou, e todos, devia haver cerca de trinta, voltaram seus olhos para John, o que o fez ficar rubro de vergonha.

Em seguida todos continuaram a comer com o mesmo barulho de antes, talvez um pouco mais alto, e a Sra Antônia indicou-lhe um lugar vago ao lado de uma garota, talvez da mesma idade dele, uma característica bem marcante era o contraste que se fazia entre seus longos cabelos negros e os olhos verde esmeralda. Então ele se sentou ali, onde lhe foi indicado em uma das grandes mesas retangulares que estavam dispostas na grande sala.

A frente dele havia algumas panelas, todas com o mesmo ensopado de frango com legumes e uma colher de concha para pegá-lo.

A questão era que a colher parecia estar muito longe dele e, pela primeira vez em muito tempo ele estava com vergonha de ser o primeiro a falar, especialmente se ia pedir algo, porém a menina que estava do seu lado, parecendo notar sua apreensão, pegou a panela e chegou-a mais para perto dele dando um sorriso contido e fazendo um sinal com a cabeça para que ele se servisse.

Isso pareceu deixá-lo mais confortável porque sussurrou um obrigado, retribuiu o sorriso e logo se serviu de um pouco de ensopado.

Após alguns minutos, eles começaram a conversar, ele descobriu que ela era a garota que apareceu com ele na cidade, a chamada Mary, que ela gostava de desenhar e de observar os arqueiros da República, também lhe revelou que aquele era um orfanato na capital, Tenebri, para jovens e crianças que perderam os pais para o Império Luxiano. Por fim, e não menos importante, contou que ambos chegaram nas portas da cidade há quatro dias e que ele dormira desde então, dois dias a mais que ela.

Passada meia hora do almoço, as aulas vespertinas começaram, os horários eram:

—Leitura e escrita, História, Matemática e Geografia.

E entre as aulas de História e Matemática um intervalo de 25 minutos que a maioria usava para jogar Hiperboll

Após as aulas, havia um horário extra em que podiam escolher entre algum esporte para praticar, novamente a maioria escolhia Hiperboll, mas Mary optou por Arquearia, e John, por Esgrima, em que já tinha certa pratica; Outros esportes eram, Equitação, Natação e Alkheim, um tipo de arte marcial em que há muitas acrobacias e golpes inusitados.

À noite, após outro intervalo e um horário de banhos, havia o jantar, que era servido por alguns empregados com roupas em preto e branco os quais John achou bem divertidos.

Como se não tivessem se cansado nada durante os treinos e aulas, o barulho que as crianças faziam era praticamente o mesmo do almoço.

Após uma divertida hora, foram todos mandados para suas camas pela Sra. Antônia, que, como John descobriu mais uma vez por Mary, gostava de ser chamada de governanta.

John, ao deitar-se, pensou em tudo que lhe havia acontecido nesses últimos dias e decidiu que, ao se formar, seria um Espadachim da República e lutaria contra aqueles que lhe tiraram sua família. O ardiloso Império Luxiano.

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