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Katniss Everdeen, Capital

Finnick foi o último a descer, o piloto puxa as escadas e não se move com o aerodeslizador, parece ter ficado com medo, creio que tenha medo de nós, muito provável já nos viu matar pessoas e não quer se juntar a elas. Faço sinal para seguirmos e entramos pela porta, descemos as escadas e sou atingida por memórias repentinas. Vejo Peeta sentado no sofá com apenas as luzes da Capital iluminando seu rosto, Cinna discutindo com Portia sobre as roupas que usaremos, Haymitch sentado à mesa junto com Effie que tenta lhe ensinar bons modos, Willow dando um pequeno sorriso para mim e Phoenix contando uma piada. Realmente as vindas a Capital sempre foram terríveis, porém as pessoas deixaram suas marcas em minha memória, de certa forma. Finnick toca meu ombro e pareço acordar para o mundo, Cressida faz sinal para Castor e Pollux ligarem as câmeras e nos dirigimos para a porta.

- Vamos pelas escadas, no térreo há salas as quais nunca pude ter acesso, acredito que estejam lá - cutuco Finnick - Ela, Effie, esteja lá.

Ele abre a porta com cautela e me disponho a andar na frente, não trocamos palavras para não formar eco algum e nossos passos provocam barulhos praticamente inexistentes. A cada degrau que piso penso em quem posso encontrar em breve, Peeta, Effie, Annie, pensar neles faz meu estômago revirar de esperança, ansiedade e medo. Muito medo. Posso arruinar tudo e fazer com que todos fiquemos presos aqui para receber uma morte lenta planejada por Snow, essa ideia me destrói, porém ao mesmo tempo já me sinto destruída sabendo que eles possam estar aqui sofrendo nas mãos dele.

Com a luz vermelha que há na arma de Cressida ela ilumina as poucas partes que consegue para enxergarmos. Passamos por diversas placas, andar 11, 10, 9, 8... até chegar no 1. Finnick passa pela porta e fica em alerta, deixa seu tridente preparado e prende a respiração, cerrando os olhos e não deixando nenhum detalhe passar despercebido. Não aguento ficar de fora e passo por sua frente, ele me acena com a mão e sem claridade mal consigo o enxergar, está tudo um breu total, não há uma luz sequer. As veias em meus pulsos parecem que vão explodir a cada momento em que aperto firme uma flecha no arco, avançamos aos poucos, mas isso já é o suficiente para me manter alerta. Passamos por mais uma escada que nos leva ao que parece ser o térreo, por aqui as coisas parecem estar mais danificadas, o chão é coberto por destroços, contudo há pouca poeira, parece ser um lugar que está sendo frequentemente usado. Finnick entende o meu recado feito por apenas um olhar e seguimos rentes. Seguindo pelo corredor conseguimos ouvir passos próximos, agarro a flecha forte e continuamos, Finnick abre a porta com força e imediatamente atiro uma flecha no peito de um pacificador, Cressida e os outros não ficam parados, os atacam também mas ela mantém a dianteira junto comigo e Finnick, os atacando com tiros fortes bem treinados. Estão em um grupo de sete homens, não estamos em vantagem por número de "soldados" mas muitos não percebem que estão sendo atacados a tempo e os golpeamos antes que se defendam. Entro em uma briga acirrada com um deles que me agarra pelos braços, chuto suas canelas e o jogo para frente, socando seu rosto para ganhar tempo, pegar uma flecha e acertar seu pescoço. Me desvinculo do corpo e encontro Finnick atacando mais um, logo que ele consegue acabar com isso seguimos correndo por um corredor, atravessamos mais uma porta e nos deparamos com uma sala fechada, quebramos a fechadura depois de umas cinco tentativas e finalmente nos deparamos com uma cena deplorável que doeu da minha cabeça aos meus pés.

A Effie colorida e exuberante que conheci se tornou uma prisioneira isolada no canto do exilamento sozinha e assustada, usando vestes ralas e imundas, não há um fio de cabelo em sua cabeça e os pés estão roxos de tão gelados.

- Effie - minhas palavras saem com dor e um sentimento de falha comigo mesma.

Como deixei isso acontecer?

As marcas de tortura agora são nítidas, como se houvesse cicatrizes no interior de seu corpo que ficaram marcadas em sua pele.

- Vocês tem que sair daqui - puxa as pernas mais para si, contrai os lábios e os olhos se enchem de água - ele vai pegar vocês, assim como me pegou.

- Viemos te resgatar - me aproximo, meu toque se torna assustador e ela foge de mim, como se eu fosse ataca-la.

- Effie eu sinto muito pelo o que você passou, mas não temos tempo algum, então seria mais fácil você contar onde Peeta e Annie estão - Finnick pergunta.

- O que? - Cressida arregala os olhos.

- Não ha tempo de explicar, apenas diga Effie.

- Eu não sei do que vocês estão falando.

- Sabe, claro que sabe - ele começa a ficar nervoso.

- Peeta e Annie estão mortos.

Toda vez que insinuam que Peeta morreu eu tenho a mesma reação de dor, sofrimento, ódio, raiva, frustração e decepção.

- Ela não deve saber - digo a Finnick, temos que ter alguma esperança.

- Vamos atrás deles então, seguiremos por esse corredor.

- Effie, você tem que vir comigo, eu não vou te machucar - começo a chegar perto, ela para de se afastar e me permite a ajudar a levantar.

Mantenho o contato direto olhando no fundo de seus olhos, para que ela reconheça a pessoa que sou, ou pelo menos costumava ser até Snow me transformar em uma peça de seu jogo. 

Ela se solta assustada rápido de minha mão e faço um sinal para que siga conosco sem fazer barulho, todos saem a frente e me faço ficar atrás com ela. Cada cena que presenciamos é assustadora, salas vazias com equipamentos de choque, afivelamento forçado e coleiras de ferro. Effie estremece quando passamos por uma cadeira de aço estranha, ela chora em silêncio e parece sentir uma tortura imediata. Ninguém para, mas eu não aguento e fico ao seu consolo, tentando fazer com que ela siga andando, precisamos sair daqui.

A última porta que encontramos também está protegida, mas é apenas por dois pacificadores que são mortos em segundos por uma flechada e uma bala de Cressida, essa porta está sendo quase que impossível abrir, Finnick e eu já batemos na trava diversas vezes e não obtemos resultado algum, a mão dele chega a tremer de tensão e impaciência. Pollux bate em um vidro que fica pouco longe da gente e faz sinal com o braço, vamos para perto dele e vemos para onde seu dedo aponta. Há uma enorme placa de vidro que revela uma sala escura que possui duas enormes cápsulas que prevem conservadas uma espécie de gelo seco. Ele aponta com mais precisão para as cápsulas e finalmente consigo enxergar, nesse mesmo instante minha mão se contrai e agarra o vidro, a única parede que me separa dele.

- Peeta - meu sussurro sai junto de um choro incontrolável.

- Annie! - Finnick se junta a mim.

Eles estão dentro dessas cápsulas estranhas as quais há fios ligados nos corpos deles. Será que estão mortos e aqui estão apenas os corpos? Não, não posso pensar isso.

Um impulso me atinge e saio correndo disparado pelo corredor de volta a porta que dá acesso a essa sala. Com o meu pé bato ainda mais forte. Um cute, outro, mais um, nada. Solto um grunhido de raiva e me preparo para dar o último chute que eu consigo aguentar.

Pelo menos era o que eu pensava, até ouvir Finnick gritar meu nome, escutar passos correndo atrás de mim e sentir uma pessoa me imobilizando e me deixando desacordada imediatamente.

Em poucos segundos minha consciência some e meu corpo se torna apenas um peso.

Jogos Vorazes: Os mentores  Där berättelser lever. Upptäck nu