12 - Eu sou o seu filho.

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A primeira vez que o Davi, e seus seguidores me humilharam, eu tinha seis anos, e estávamos fazendo uma apresentação para o dia dos pais, e ele disse que eu não poderia fazer parte da apresentação porque eu era filho de chocadeira, e eu claro não entendi nada, não fazia ideia do que ele estava falando.

Quando minha mãe foi me buscar, eu perguntei a ela o que era filho de chocadeira, ela me explicou o que era, e me disse para eu orar pelo Davi, porque ele precisava da sabedoria de Deus.

E desde então só Deus para me confortar quando ele aprontava das dele pra cima de mim. E na medida em que eu crescia mais difícil ficava para eu orar por ele.

Lamentavelmente quando somos crianças é mais fácil orarmos por aqueles que nos ofendem, somos mais ingênuos e também temos mais facilidade para perdoar, conforme vamos crescendo, parece que nosso ego também cresce, e fica difícil levarmos as ofensas na esportiva, e compreender que o outro também é pecador como nós.

- Mamãe, porque eu tenho que orar pelo Davi, se nós não gostamos um do outro? - Eu perguntei a ela, quando eu tinha onze anos. Ela sorriu para mim.

- Meu filho, Deus não quer que você goste de ninguém, Ele quer que você ame as pessoas, como a si mesmo, que você ore por elas, que você as veja como Deus as vê, Ele deseja que você leve o amor dEle aos outros, que você seja a diferença na vida das pessoas que já não têm esperança mais em nada, que você seja instrumento da Vontade dEle.

E assim, eu tenho tentado honrar a Deus com a minha vida, e quando as coisas ficam difíceis, só Deus, para alegrar meu coração.

Então oro, leio a bíblia e me sinto renovado, cantar é outra coisa que me alegra a alma, e me conecta com Deus, e naquele início de noite eu estava fazendo minhas atividades da escola, quando minha mãe apareceu no meu quarto para ver se estava tudo bem, e me dizer que estava indo para a igreja, e eu desci para fazer alguma coisa para eu comer.

Nas terças-feiras, era o dia do encontro das mulheres na igreja, e nós adolescentes, íamos para o parquinho que havia no condomínio, cantar e ler a bíblia. Naquela noite nem a Bia, e nem o Davi apareceram.

Voltei para casa, por volta das oito e meia. Fiquei sem saber se ligava para o meu pai, ou esperava minha mãe chegar. Mas como ela estava demorando, resolvi ligar, e graças a Deus o telefone estava ligado.

- "Oh, Senhor! Que tudo aconteça, conforme o que o Senhor tem reservado para todos nós, nos abençoe para que possamos nos amar, e que nossa história, seja uma bênção um para o outro, e que nos amemos e nos respeitemos, e que possamos te honrar como a família que o Senhor espera que sejamos." - Pensei nervoso.

Eu já estava pensando que ele não iria atender, quando ouvi uma voz forte e firme do outro lado da linha, meu coração deu um salto de nervoso.

- Alô? - Ele atendeu firmemente.

- Boa noite. Eu falo com o Pedro? - Eu perguntei nervoso.

- Sim? - Perguntou desconfiado, como se temesse estar recebendo um trote.

De repente eu não sabia mais o que falar, e se a Bia e a minha mãe estivessem certas, e ele tivesse uma família a quem amasse, e não quisesse nem saber de mim? E se ele tivesse desistido de me procurar, por que não me quisesse mais na vida dele? Quinze anos é muito tempo, e amor é convivência.

- "Senhor, eu estou em Suas mãos"! - Pensei antes de responder. - Eu sou o Paulo, o seu filho... - Digo rápido.

Esperei que ele me falasse algo, mas ele ficou mudo. Verifiquei o celular, a chamada ainda estava em andamento.

- Oi, o senhor ainda está aí? - Perguntei tímido.

Conversar com uma pessoa que não queria falar comigo, não era bem isso o que eu esperava, se bem que na verdade, eu não sei bem o que esperava dessa ligação.

- Desculpe-me! Eu estou aqui. Você tem certeza que você é quem está me dizendo que é? - Ele perguntou emocionado, eu tinha certeza meu pai estava emocionado por falar comigo.

- "Obrigado Senhor!" - Pensei emocionado também, só faltava eu começar a chorar. - Sim eu tenho certeza, meu nome é Paulo, sou filho da Ariane Priscila, nasci em São Paulo no dia vinte e dois de março de mil novecentos e noventa e seis, meus avós...

Paro de falar ao ouvi-lo chorar, e claro que eu também começo a chorar, sabia que iria chorar, só não imaginara que ele também se emocionaria dessa maneira.

- Desculpe-me, não sei o que falar, mas se o senhor preferir, eu posso ligar outra hora. - Digo constrangido.

- De jeito nenhum! - Ele responde rápido, e eu sorrio com a rapidez da resposta. - Eu estava justamente me preparando para ir ao Tocantins o mês que vem, queria ver se agora eu conseguiria convencer seus avós a me dizer onde você está, e você me liga, isso é... - Ele se interrompe, creio que procurando a palavra ideal.

- Isso é Deus agindo. - E eu o completo, percebendo o riso dele. - É Deus agindo em nossas vidas, pois nós também iremos para o Tocantins o mês que vem. - Eu digo feliz.

- Sério? - A voz dele estava embargada pelas lágrimas. - Então eu vou conhecê-lo! Meu Deus eu vou conhecer meu filho. Me fala de você! - Ele estava eufórico, parecia que andava de um lado para o outro.

- Não sei o que falar, o que o senhor quer saber? - Pergunto sem jeito.

- Tudo. Não sei é tanta coisa! Fala-me o que você quiser. - Ele diz aflito.

- Deixe-me ver, eu tenho quatorze anos, estou cursando o nono ano... - E comecei a contar a minha vida para o meu pai, 'meu pai', só Deus para entender a emoção que eu estava sentindo.

Ele me disse que era engenheiro civil, estava morando em Brasília, e que estava ansioso para o momento em que estaria frente a frente comigo, ele demonstrou muita felicidade, ao saber que sou cristão, e me disse que infelizmente esteve afastado dos caminhos do Senhor, mas estava buscando voltar aos braços do Pai, e que com fé em Deus quando nos encontrássemos no Tocantins, ele já teria acertado sua vida com o Pai Supremo. Falamo-nos, por vários minutos, e ele me pediu fotos, e claro que eu também pedi.

Choramos, sorrimos. Infelizmente não tive coragem de perguntar se ele tinha outra família, mas terei tempo para isso, e como ele não falou nada sobre isso, eu deduzi que ele continuava solteiro, acho que essa é uma informação séria, e não creio que ele esconderia algo assim, mas também não tem como eu ter certeza, então o jeito é esperar.

Quando desligamos, eu mandei várias fotos para ele, e ele me mandou várias fotos dele, minha mãe tinha razão, eu parecia demais com ele, e eu iria ficar um homem muito lindo, porque o meu pai é muito bonito, e sorrindo fiquei olhando as fotos dele, repetidas vezes, e mais uma vez pensei no sofrimento da minha mãe me vendo crescer tão parecido com o homem que ela amara imensamente e ele a magoara deixando um buraco que talvez só ele pudesse preencher novamente.

- "Senhor meu Deus eu confio em Ti, e sei que o Senhor tem o melhor para a minha família, o vazio que há no coração da minha mãe, as mágoas que a impedem de ser feliz, Senhor, ajude-a a se curar, e que ela se abra para o perdão para que assim ela possa buscar a felicidade. Eu sei que ela é feliz, pois ela tem o Seu Amor, ela se doa para a sua Obra e ela ama trabalhar para o Seu Reino, mas ela é solitária e a Sua Palavra diz que é bom que sejam dois, para que um ampare o outro, e infelizmente Senhor, chegará o dia em que deixarei o ninho e minha amada mãe ficará sozinha, e eu tenho certeza que o Senhor tem planos maravilhosos para a vida dela, mas a mágoa é uma pedra que nos afasta das Suas bênçãos, em nome de Jesus Senhor, ponha o perdão no coração da minha mãe para que ela esteja livre para te amar ainda mais, e receber de coração aberto, todas as bênçãos que o Senhor tem reservadas para ela. Obrigado, pelo meu pai pois o Senhor preparou este momento para nós dois, obrigado, por cuidar de nós. Obrigado, por todo o amor que o Senhor tem colocado no meu coração. Em nome de Jesus amém". - Eu orei tão feliz, que a minha alegria transbordava.

Ouvi quando minha mãe chegou, e corri para a garagem, ela estava encostada no carro, com o celular na mão, e não falava nada, estranho ela parecia em choque, de imediato fiquei parado sem saber o que fazer então finalmente eu saí daquela letargia e corri para ela...

Continua...

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