Capítulo Trinta e Sete

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- Não falámos durante cinco anos, Theo. Não falámos até ao dia em que o meu artigo foi publicado. Tu falaste ao público de todas as tuas fragilidades e inspiraste-me a fazer o mesmo. Portanto, conduzi até à casa dos meus pais e falei com eles.

- Arden... - Theo estava orgulhoso e não sabia como o expressar. Ela sorriu-lhe suavemente. – Como correu?

- Melhor do que eu esperava! Conduzi até lá a pensar que eles estariam iguais, que provavelmente me fariam o ultimato de novo e que eu iria sair de lá ainda mais chateada. Quando cheguei, no entanto, fui confrontada com um mundo paralelo. A minha mãe tinha arranjado um trabalho, o meu pai tinha tido um acidente que o deixara paralisado – Theo arregalou os olhos – e portanto o impedira de trabalhar. Os papéis pareciam quase invertidos, embora não muito. Mas todos estávamos diferentes o suficiente para eu conseguir falar com eles durante horas. Falei-lhes de tudo...da Joslin, da Helen, de ti, até. Contei-lhes o que te tinha feito, a achar que o meu pai se iria rir da minha cara e me acusar de me ter tornado exatamente naquilo que ele tinha querido evitar.

- E? – Theo estava demasiado envolvido na história para lhe perguntar o que é que aquilo tinha a ver com eles, mas sabia que Arden iria eventualmente revelar o propósito daquela história.

- Ele pediu-me desculpa, Theo. – ele notou, com espanto, que ela tinha lágrimas nos cantos dos seus olhos, e quis abraçá-la. Não o fez. – Pediu desculpa por me ter feito pensar que eu tinha que escolher sempre entre a carreira e outra coisa qualquer. Eu saí de lá tão leve, tão diferente...mas também me sentia um monstro pelo que te tinha feito. Porque, querendo ou não, tu tinhas razão, eu fui pior do que qualquer um daqueles paparazzi. Explorei o teu sofrimento para subir na carreira, mas demorei a perceber de que não subi para lado nenhum porque estava...estagnada. Do meu cargo, não havia para onde ir. Por isso é que me despedi. Agora, sou uma simples jornalista que provavelmente nunca vai sair da mesa onde trabalha, mas não há problema. Foi o que eu escolhi.

Por uns segundos, ela não disse mais nada, e olhou para Theo com os olhos ainda brilhantes das lágrimas. Sorriu-lhe tristemente.

- Vim aqui para te pedir desculpa, para que tu possas ver que eu fui sincera na primeira mensagem que te mandei. – Theo desviou o olhar para as suas pernas, mas Arden continuou a falar. – Não me arrependo de ter escolhido a carreira em vez de ti, Theo, como te disse, mas arrependo-me de te ter feito sofrer. Só quando tu me disseste o que verdadeiramente sentias é que eu percebi que sentia o mesmo. E ter ido falar com os meus pais, resolver os assuntos inacabados que tinha com eles, deu-me espaço mental para eu pensar melhor no que tinha feito. Inconscientemente, tinha-me tornado numa pessoa que não gostava, numa pessoa demasiado parecida àquele monstro que o meu pai foi durante muitos anos. Caímos na mesma tentação de não deixar ninguém saber o que verdadeiramente sentimos. Passei uma vida a jurar para mim própria de que nunca seria como os meus pais...foi difícil para mim aceitar o facto de ter sido exatamente isso.

- Arden...

- Eu percebo que não me perdoes, aliás, eu só vim pedir desculpa, não vim obrigar-te a dá-las. Queria que soubesses que eu nunca quis magoar-te, embora inconscientemente o soubesse que o iria fazer. Nunca quis que acabasses no hospital mais uma vez, nunca quis nada disso.

- Eu sei, Arden. – Arden olhou para ele, com olhos arregalados. Ele sorriu-lhe.

Por uns segundos, nenhum deles falou. Arden parecia estar cansada de ter passado tanto tempo a falar e Theo não sabia o que lhe responder. Continuaram sentados frente a frente, como tinham estado desde que entraram na pequena tenda. A certo ponto, Theo voltou a sorrir mais abertamente para a jornalista; ela, pelo contrário, olhou-o com confusão nos seus olhos azuis. Quase por instinto, Theo levantou-se e deu a volta à pequena mesa redonda, e ajoelhou-se à sua frente. Pousou as mãos nas pernas da jornalista e sorriu mais uma vez quando ela não hesitou em agarrá-las, quase como que desesperada por conforto.

Equilibrar a VerdadeWhere stories live. Discover now