Capítulo Vinte e Cinco

42 10 36
                                    

Theo conduziu, disfarçado de Peter, até ao apartamento de Arden mesmo depois de ela lhe ter dito que se iria atrasar um pouco mais no trabalho. No entanto, na semana anterior, ela tinha-lhe dado uma chave suplente da porta do prédio e da porta do apartamento a contar com situações daquele género. Aparentemente, ela tinha conseguido um artigo bom o suficiente para a sua chefe e, portanto, estava a dar o seu máximo nele para que a tal Emily Roberts nunca mais duvidasse das suas capacidades ou a testasse. Theo estava obviamente orgulhoso e não se importava de estar no seu apartamento sem ela, porque era algo refrescante, estar sozinho numa casa que não a sua. De qualquer forma, ele estava a planear cozinhar para eles os dois, para que Arden não tivesse trabalho algum quando chegasse.

Recebera uma mensagem da jornalista, no momento em que ele saíra do elevador, a avisar que demoraria duas horas, no máximo, apenas porque tinha que ter a certeza de que aquilo que ela queria terminar ficava terminado naquele dia. Depois de olhar para um relógio e ver que as duas horas eram mais que suficientes para cozinhar a refeição que queria preparar para Arden, Theo começou as suas tarefas. Procurou, pela cozinha da jornalista, por todos os ingredientes, depois de lhe pedir autorização para fazer o jantar. Arden estava tão ocupada que mal resistiu, pedindo apenas que ele não tivesse demasiado trabalho e prometendo que depois lavaria a louça. Theo não se preocupara em refutar, porque estava mais que familiarizado com a teimosice da rapariga.

Depois de colocar os fones do seu telemóvel nos ouvidos, escolheu o álbum que andava a ouvir mais naquela semana e colocou o dispositivo no bolso de trás das suas calças. Enquanto separava todos os ingredientes, mexia as suas ancas ao ritmo da música, perfeitamente contente com o estado da sua vida no momento. Após encontrar a tábua de cozinha num sítio completamente óbvio – porque Arden não era nada se não pragmática – começou a cortar os ingredientes, quase sem se preocupar com o que estava a fazer. Com cuidado para não se cortar, foi cortando todos os ingredientes necessários e deslizando-os até à panela que ele tinha colocado no fogão, tudo enquanto dançava pela cozinha.

Theo demorou a perceber que estava a cantar e, quando percebeu, isso foi o suficiente para ele paralisar e quase deixar cair a faca no seu próprio pé. Deu um passo súbito para trás, calando-se imediatamente, e fechou os olhos, tentando acalmar-se antes de se baixar para apanhar a faca do chão. Sentiu o seu coração a bater incrivelmente rápido, numa adrenalina que ele já não sentia conhecer – a adrenalina que simplesmente cantar, sem expetativas ou audiências, lhe dava. Começou a sentir a sua respiração ficar mais ofegante e agarrou com força na bancada à sua frente, tentando encontrar algo que o mantivesse no sítio onde estava. Na cozinha da Arden, a cozinhar-lhe o jantar. Tu estás bem, Theo.

Num instante, ele estava a ser envolvido por braços que conheceu automaticamente como os de Arden. Virou-se para a enfrentar e apertou-a nos seus braços, gostando do conforto que a suavidade dos seus cabelos e o aroma do seu perfume lhe proporcionavam. Aos poucos, por sentir o seu peito a mover-se com a velocidade da sua respiração, conseguiu acalmar os batimentos do seu próprio coração. Passado perto de cinco minutos, ele conseguiu finalmente levantar a cabeça e olhar Arden nos olhos. Ela estava tão preocupada que ele quase começou a chorar, mas não o fez. Limitou-se a levar as suas mãos às bochechas da rapariga e, acariciando-as com os seus polegares, beijou os seus lábios com os seus.

- Theo. – e a maneira como ela disse o seu nome foi o suficiente para ele se sentir incrivelmente melhor. Ele sorriu-lhe tristemente.

- Há quanto tempo estás aí? – ela não respondeu e ele percebeu, então, que ela o tinha ouvido cantar.

Por uns minutos, nenhum deles falou, Arden permaneceu abraçada a Theo e ele aproveitou o conforto, físico e mental, que ela estava disponível para lhe dar. A sensação de saber que alguém o tinha ouvido cantar pela primeira vez em cinco anos era o suficiente para o fazer ter vontade de fugir do prédio e nunca mais olhar para trás. Mas permaneceu preso ao chão, com Arden entre os seus braços e a sua cabeça encostada à sua, aproveitando o facto de ela já ter tirado os saltos altos que deveria ter tido calçados durante todo o dia. Beijou os seus cabelos inúmeras vezes, quase como se estivesse desesperado por lhe tocar, até ao ponto em que ela começou a rir alto e a espernear para sair dos seus braços. Theo riu, largando-a aos poucos.

Equilibrar a VerdadeWhere stories live. Discover now