MORRA POR MIM

5. Minha rosa

Eu sempre admirei rosas, especialmente quando ainda são apenas um botão, uma promessa da beleza que virá ao desabrochar. Gosto de pensar que meus corações puros são como rosas, são delicados demais para durar por aqui por muito tempo, mas enquanto estão por aqui encantam com toda sua pureza e brilho.

Eu considero que fui abençoado de ter convivido com mamãe por sete anos e depois dela por ter podido conviver com todos os corações puros que apareceram em minha vida. Isso tudo, sem dúvida, me faz perceber que sou agraciado por Deus.

Talvez você tenha arregalado os olhos, mas não deveria. Eu vivo aquilo que existe dentro de mim, vivo de acordo com a minha natureza, vivo do jeito que fui criado para viver. Sim, pelas nossas regras sociais não é certo eu ajudar as pessoas a se matarem e existe também a questão do livre-arbítrio, mas eu acredito que existe uma lei divina maior e é com ela que eu trabalho, essa lei dita que corações puros não pertencem a esse mundo de horror e eu considero minha missão encaminhá-los para o lugar celestial de onde vem quando é chegada a hora.

Sinceramente, pense comigo, se eu fui criado desse jeito por Deus, se eu vivo exatamente aquilo que existe em mim, como eu poderia estar agindo errado? Eu não estou. São as pessoas que ficam aprisionadas em meio a tantas regras e leis que sufocam quem realmente são de verdade. São elas que agem contra Deus e não eu que vivo exatamente conforme minha natureza. Sei que há escuridão em mim, mas se ela está aqui comigo é porque Ele quis assim.

Eu não tenho que me justificar para você nem para ninguém, isso me enfraqueceria. Tenho aceitar que todas minhas imperfeições são úteis e necessárias ao meu Criador. É o que eu acredito de verdade. Sou quem sou porque ninguém menos que Ele desejou assim. Já pensou como isso é sério? Por isso sou fiel a Ele e não fujo de quem sou ou do destino que Ele colocou no meu caminho. Eu ajudo Suas almas puras a retornarem à Sua fonte. Respondo ao chamado que clama dentro de mim desde que me conheço por gente.

Reflita sobre tudo o que eu falei a você, talvez eu possa ajudá-lo a tirar aquele esqueleto do armário, talvez você perceba que há algum significado maior na sua vida, exatamente como eu. Eu vou contando minha história a você e uma hora você perceberá que, no fim das contas, sou um sujeito sincero e leal a mim mesmo, só isso. A história de hoje mostra bem essa lealdade que eu tenho à minha causa. Sou um bom soldado da minha própria natureza.

Minha rosa foi uma garota que eu conheci no primeiro ano da faculdade de enfermagem. Ela era doce, pura e brilhante como só os corações puros são capazes. Eu a apelidei de minha rosa, por que ela tinha as bochechas rosadas, a pele era tão branca e sua boca de um vermelho tão vivo que ela me lembrava a perfeição das rosas.

Como rosa que era não durou por aqui. Sua escuridão apareceu pouco tempo depois de me conhecer. Vocês podem achar que é coincidência, mas eu não acredito em coincidências. Ela foi colocada no meu caminho por um motivo que eu sabia bem qual era: ajudá-la a partir.

Nós éramos da mesma sala e isso facilitou bem as coisas. Eu me aproximei como outro colega qualquer, falava coisas das aulas, das matérias, enfim, nada que possa interessar a você, por isso vou poupá-lo dessas conversas vazias.

Eu fiz questão de me enfiar em todo grupo que Pamela estava. Viramos, além de colegas de sala de aula, companheiros de todo e qualquer trabalho da faculdade. Eu me esmerava nos trabalhos para me destacar e chamar de alguma forma sua atenção. E chamei. Pamela logo percebeu que eu tinha uma inteligência acima da média e eu virei uma espécie de consultor particular para ela. No início ela vinha com questões relacionadas à faculdade, mas não passou muito tempo e começou a me trazer problemas da sua vida pessoal.

Conforme convivíamos, eu percebia que sua tristeza crescia e eu não fazia nada para impedir seu crescimento. Se tinha chegado a hora, meu coração puro tinha que ir. Por isso, toda vez que vinha chorar suas desgraças, eu não aplacava a dor, deixava que irradiasse para os cantos mais remotos do seu coração.