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Desde que eu era pequena, nunca consegui ter uma boa interação social com o mundo ao meu redor. Com o passar do tempo, me tornei o tipo de pessoa que não tem amigos e está sempre sozinha ou arrumando confusão.

Era a quarta escola de que eu havia sido expulsa em seis meses, e meus pais decidiram -sem mim- que me mandar para um internato no meio do nada seria uma boa idéia.

─ É um bom lugar. - Disse minha mãe enquanto eu lia o panfleto de lá.

─ É assustador. - Eu falei.

Minha mãe suspirou e pegou o panfleto de minhas mãos, seguiu até ao balcão da cozinha onde estava torradeira, pegou uma das fatias que tinha acabado de ficar pronta e colocou em meu prato.

Meu pai desceu as escadas logo em seguida carregando uma enorme mala.

─ Prontinho. Todos os seus livros e melhores roupas, apesar de eu achar todas iguais.

─ Que?! Por que você fez minha mala? Indaguei.

─ Sua mãe ainda não te contou?

─ Não contou o que? Desviei o olhar da mala para minha mãe, que apenas me encarou, nervosa. ─ Você disse que íamos discutir sobre isso, não que já estava tudo pronto pra eu ir.

─ Filha, é uma boa oportunidade pra você. - Ela falou sentando-se ao meu lado.

─ Boa oportunidade pra que?

─ Bem, pra fazer amigos.

Suspirei.
─ Eu não preciso de amigos.

─ Eu acho que precisa. - Meu pai riu. ─ Se não você não teria sido expulsa pela quart... - Ele parou de falar quando o olhar de reprovação de minha mãe caiu sobre ele.

Estranhamente, meus pais sempre levaram essa minha questão de um jeito bem tranquilo, eles nunca brigaram comigo por nem ao menos tentar me encaixar nas escolas pelas quais eu passava. Meu pai estava sempre tentando fazer alguma piada em cima disso, enquanto minha mãe o repreendia e tentava me entender.

Acho que depois de todas as tentativas eles decidiram recorrer a algo mais eficaz. (Pelo menos pra eles). De algum modo, eles achavam que se eu passasse um tempo em um lugar completamente isolado da sociedade, com pessoas "iguais a mim" (como meu pai havia dito uma vez) ajudaria.

─ Eu não quero ir. - falei.

E então eles passaram o resto do dia tentando me convencer do quanto aquilo seria legal, de como lá haviam tarefas que me ajudariam a passar o tempo, de como era um lugar calmo e diferente de qualquer outro internato. Eu tinha reclamado com minha mãe sobre o fato de eu nunca conseguir me relacionar com outras meninas, e então ela me disse que esse era um internato misto, o que não mudou muito a minha concepção, já que o que eu estava dizendo era apenas uma desculpa.

─ Você vai gostar. - Disse meu pai quando eu estava prestes a embarcar no ônibus. ─ E o melhor é que não tem como você ser expulsa.

Minha mãe lhe deu uma cotovelada, o que me fez rir.

─ Vai ser bom, você vai ver. - Ela disse me dando um abraço.

Sentei ao lado da janela e observei a imagem de meus pais acenando sumir aos poucos. Depois, foi a vez dos prédios da cidade grande serem substituídos por árvores e mais árvores.

O ônibus tinha partido as nove da manhã de uma sexta feira 13, e quando finalmente cheguei eram quatro e meia da tarde. 

Desembarquei em frente à uma casa enorme e bonita, apesar de eu ainda manter meu pensamento de que ela era realmente assustadora. Logo em seguida uma mulher amigável veio me receber, ela se apresentou como Mary e me ajudou a carregar minhas malas.
Ela disse que seria minha tutora durante o tempo que eu passaria ali. Depois ela me levou para que eu conhecesse a diretora, que ao contrário dela, não parecia nada amigável.

Meu tempo naquela sala passou em câmera lenta, e provavelmente foi uma das conversas mais chatas que já tive em toda minha vida. Ela falou todas as 82 regras que eu deveria seguir de agora em diante, e o pior de tudo era o uniforme obrigatório. No final de tudo isso ela entregou pra mim o número do meu quarto, que eu dividiria com duas outras garotas.

Room 822

A janela era grande. Foi a primeira coisa que reparei ao entrar no quarto. O sofá sob ela me fazia ter pensamentos bons por algum motivo. O quarto também era grande, e apesar de por toda parte ter posters e coisas de garotas, não fazia com que o lugar parecesse menos assustador para mim. Nele haviam três camas, e o lado mais "apagado" do quarto, ou seja, aquele sem adesivos e coisa grudadas em volta das camas provavelmente era o meu.

Me senti aliviada por não ter encontrado nenhuma das minhas colegas de quarto ao chegar, elas provavelmente estavam ocupadas bem longe dali, e isso era bom. Larguei meus livros na escrivaninha ao lado da minha cama, e joguei minhas roupas no baú aos pés da mesma.

─ Adeus, amigas. - falei sabendo que não voltaria a usá-las tão cedo.

Fui até a janela e observei os garotos lá em baixo jogando bola no gramado, e outros xadrez na escadaria. À beira do riacho haviam duas garotas sentadas, uma delas fazia tranças no cabelo da outra. Talvez não fosse tão ruim assim, pensei.

─ Talvez eu possa me acostumar. Falei sem perceber.

Meus pensamentos foram afastados rapidamente quando senti um enorme calafrio percorrer meu corpo. Talvez fosse só o vento, mas logo ouvi um barulho vir do lado de fora do meu quarto. Caminhei lentamente até a porta e girei a maçaneta com delicadeza. Abri, e então, não havia nada. Apenas um corredor vazio. 

Dei as costas para a porta e caminhei em direção à minha cama novamente, eu tinha que terminar de arrumar minhas coisas. Mas logo fui interrompida com um "olá"  que me fez estremecer. (mas não me assustar, eu não me assustava facilmente)

Ao virar, me deparei com um garoto alto de cabelos longos e cacheados me observando com um sorriso no rosto. Ele vestia o que deveria ser o uniforme masculino do internato : um terno preto com um emblema amarelo que me fazia lembrar o emblema de Hogwarts, de Harry Potter. Sua gravata estava para fora do terno meio aberto de um jeito desleixado. Suas mãos estavam em seus bolsos da calça, e suas mangas estavam erguidas, o que me fez reparar sutilmente o quanto aquele garoto era pálido.

─ Quem é você? Respondi.

─ Ah. - Ele disse tirando uma das mãos do bolso, o que me fez recuar. ─ Eu sou Finn. - Falou terminando seu movimento e estendendo-a

Não cheguei mais perto para cumprimentá-lo, mas ele continuou ali coma mão esticada.

─ O que você está fazendo aqui?

─ Só vim te dar as boas vindas, soube que chegaria hoje. - Ele disse recolhendo a mão. ─ Acho que seremos bons amigos.

─ O que te faz pensar isso?

Ele ficou em silêncio por um momento, e então de repente pareceu menos amigável.
─ Por que você não vai querer não ser.

─ Tá... legal. Falei. ─ Olha, eu não tô muito no clima pra pegadinhas agora. Sabe, casa assustadora, garoto assustador na minha porta... dá pra você deixar isso pra outra hora?

Ele sorriu, viu as horas em seu relógio de pulso e então olhou pra mim novamente.

─ Tenho que ir. Espero que nos encontremos outra vez por aí, (s/n). E então, seguiu seu caminho para longe do meu quarto.

─ Garoto esquisito. - susurrei pra mim mesma enquanto ia até a porta para fechá-la.  Olhei para os dois lados do corredor antes de fazer, porém não havia ninguém lá. No lugar disso, pude perceber uma pequena placa na parede que dizia : "proibido garotos nos dormitórios das meninas"

Ri sozinha.

"Espero que nos encontremos outra vez por aí, (s/n)" Repeti a frase dele na minha cabeça. Mas então me dei conta, como aquele garoto poderia ter dito aquilo, se eu não havia dado meu nome a ele?

Internato | Finn WolfhardWhere stories live. Discover now