Capítulo Um

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Ao olhar à minha volta, mal conseguia focar-me na música suave que enchia todos os cantos do grande salão. Estava sentada na mesa que me tinha sido designada e, embora não estivesse sozinha, não estava certamente acompanhada. Como em tudo o que envolvia a minha carreira, não conseguia raptar ninguém para me fazer companhia. Mesmo em situações como aquela, com passadeira vermelha, sessão de fotografias, e todo um baile decorado pela melhor equipa de designers que o mundo fornecia. Nem bailes daquele género, repletos de caras famosas e internacionais, conseguia cativar os meus amigos – não quando comparados a noites passadas em pijama e a ver más comédias românticas. Eu própria desejava estar com eles e não ali, mas não podia fazer nada.

Quando recebera o convite para a gala em questão, o meu instinto foi recusar. Não gostava de me submeter ao estereótipo de escritora eremita e tentava, ao máximo, não ser daqueles escritores que nunca apareciam ao público a não ser quando lhes convinha publicitar um livro. Eu tinha a minha vida, e os meus fãs sabiam quem eu era, mas também sabiam que eu gostava da minha privacidade – a privacidade que um pseudónimo pedia, afinal – e nunca tinham feito com que eu me tornasse numa sensação da literatura juvenil ou de outra coisa qualquer. Estava feliz com o meu quase anonimato, mas a minha agente estava convencida que eu deveria sair mais e talvez isso se devesse ao facto de ela também ser uma ótima amiga e de estar sempre a tentar que eu saísse mais ao público. De qualquer forma, eu não a poderia contestar, mesmo que ela trabalhasse para mim.

Então, estava ali. Numa gala organizada em prol de uma organização ambiental que eu sabia que apoiava, mas cujo nome não me lembrava. Por ser um bom motivo para uma gala, eu não me tinha importado de ir e contribuir com uma grande parcela da minha pequena fortuna, dinheiro que certamente não me iria faltar. Ainda assim, nem mesmo os melhores motivos do mundo iriam abalar a sensação de solidão que eu sentia naquele momento, mesmo rodeada pelas pessoas que se sentavam perto de mim e por todas as outras pessoas que dançavam, conversavam, ou se sentavam nas suas mesas designadas.

- A decoração é linda, não achas? – ouvi uma voz suave perguntar, mas demorei a perceber que era para mim que estavam a falar.

- Oh, sim! – sorri, piscando os olhos algumas vezes para me focar completamente na pessoa do meu lado direito. – Ainda não consegui parar de olhar à volta.

- Exato! Sinto que isto é tudo areia demais para a minha camioneta, se é que me entendes.

Não consegui evitar rir, e assenti. Estiquei o meu braço para beber um pouco do vinho branco que um empregado tinha colocado no meu copo, há uns minutos.

- Acho que vi a Maia Mitchel a passar, há pouco. – senti os meus olhos arregalar, mas rapidamente relaxei as minhas expressões.

- Já vi o Matt Damon, também.

- Não! – voltei a assentir, observando atentamente a rapariga para quem já tinha virado todo o meu corpo.

Com olhos azuis arregalados e cabelo pintado de um loiro quase metálico, ela era muito bonita. Sorri para a sua expressão estupefacta; as suas bochechas tinham ganho um vermelho suave e os seus olhos todo um outro brilho. Na verdade, ver um ator como o Matt Damon não era uma ocorrência rara na minha vida; a minha agente já me tinha obrigado a ir a infinitas entregas de prémios e a novidade de ver pessoas que outrora tinha considerado inacessíveis a apenas metros de distância já tinha passado. Não me foi, por isso, difícil perceber que ou a pessoa à minha frente era apenas a acompanhante de um dos convidados para a gala, ou apenas era mais recente naquele meio. De qualquer forma, apanhei-me a gostar dela, principalmente porque partilhávamos um sentimento muito forte.

Aquela gala também era areia demais para a minha camioneta.

- A tua cara não me é estranha também... És uma atriz, ou assim? – abanei a cabeça para a pergunta curiosa.

Caminhos Cruzados // harry stylesWhere stories live. Discover now