Um whisky, um cigarro, um café e em todos eles você

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Um whisky, um cigarro, um café e em todos eles você

Hoje é mais um dia daqueles em que acordei com você habitando meus pensamentos, a longa noite de sono não pode saciar o meu descanso em gostar de você e enquanto vou abrindo lentamente os olhos, a consciência fica mais ampla e então vou me dando conta ao olha pela janela do apartamento; amanheceu um dia cinzento. As nuvens estão bloqueando o passar da luz do sol, a pouca iluminação que observo ainda é a dos postes acesas pelas ruas, me viro para me aprontar para mais um de trabalho, na cabeceira da cama pego o controle e então ligo o som, uma boa música enquanto tomo banho, é o que preciso, Ella Fitzgerald é o que toca, uma das minhas melhores e preferidas, a música, Dream a little dream of me:

"Doces sonhos até os raios de sol te encontrarem

Doces sonhos que deixam todas as preocupações para trás

Mas em seus sonhos, quaisquer que eles sejam

Sonhe um pequeno sonho comigo"

Estranho ouvir isso com você no pensamento logo pela manhã, preparo-me rapidamente e a caminho do trabalho passo na cafeteria, a boa e velha "Black Coffee", amo essa cafeteria, o ambiente rústico e atraente com um tom de elegância e simplicidade fazem ela se destacar das demais e o café, é delicioso.

Franklin: Bom dia Jackson, o de sempre por favor.

Jackson: Claro Sr. Franklin, saindo um café tradicional puro extraforte e sem açúcar., apenas 2minutos.

Franklin: Obrigado Jackson, e como vai a família?

Jackson: Me deixando louco senhor, minha mulher estourou o cartão de crédito e ainda deixa as crianças a solta, um absurdo.

Franklin: Jackson, me chame apenas de Franklin, Senhor era o meu pai. Quanto a sua esposa jogue o cartão fora e coloque as crianças em uma creche.

Jackson: Nesse caso eu terei que cortar as mãos dela e fazer lavagem cerebral para que ela esqueça a senha, aqui está seu café Sr.... desculpe, Franklin.

Franklin: Obrigado Jackson, aqui tome isto para ajudar com o cartão (dou a ele uma boa gorjeta), um bom dia Jackson.

Jackson: Obrigado Franklin, um ótimo dia.

Ao chegar no trabalho sento em minha mesa e a primeira coisa que observo é a sua foto no porta-retratos a minha frente, eu pego ele delicadamente e deslizo os dedos pela fotografia do seu rosto, você está sorrindo na foto, aquele sorriso tímido e acanhado que sempre me encantou e agora... está mais difícil seguir sem ele.

O dia passa lentamente e durante ele vez ou outra me pego pensando em você, como durante meu intervalo vou até o parque que você gostava de ir e fico observando a paisagem, a grama fica mais bonita na sexta-feira, mesmo com o dia nublado dando a entender que as gotas começarão a cair a qualquer momento, até que seria uma boa uma chuva agora, eu me deixaria molhar para me lavar de tudo que sinto aqui dentro, desse vulcão prestes a explodir, mas tentando manter o controle, como se a erupção não surtisse efeito em cada batida no meu peito, é estranho não é? Nos apegamos mesmo sem perceber e quando nos damos estamos totalmente viciados. Acendo um cigarro e dou uma tragada profunda, pegando meu celular e olhando nossa última conversa, uma mistura de tristeza com felicidade me invade, é tão rever você, mesmo sendo apenas uma foto de perfil, você está linda com esse cabelo curto e essas mechas, o desenho do bigode e orelha de gato te deixa incrivelmente fofa e atraente, principalmente porque os seus olhos são encantadores (eu sempre mergulho quando os vejo) e combinam perfeitamente com o teu jeito sútil, amável, mas ainda reflito nas palavras que você escreveu, não imagina que algo assim, tão fútil, podia me fazer mudar tão profundamente.

Completo minha jornada de trabalho, saio com alguns rapazes para um momento de descontração, mas cada copo de bebida carrega uma lembrança boba que tenho com você, o seu sorriso, as nossas conversas, os nossos bichinhos, nosso amor em comum, o toque dos meus lábios na sua pele quente, suas unhas cravadas nas minhas costas, o seu pescoço infinitamente cheiroso que eu adoro morder, os passeios e piqueniques nos parques, as risadas bobas das nossas piadas idiotas e em cada gota, cada átomo, cada gole de cada copo derivado de cada garrafa, trazem você ao meu pensamento.

Abro os olhos, acordando com uma terrível dor de cabeça em minha cama e sem saber como cheguei ali, percebo que estou limpo, e não estou com minhas roupas do trabalho, quando me viro para o outro lado vejo você sentada na cadeira me observando.

Franklin: Lari? Lari, o que faz aqui?

Lari: Não consegue se lembrar? Deve ter bebido muito...

Franklin: Eu te liguei? Porque você veio? Quer dizer... Lari é muito bom te ver.

Lari: Você estava bêbado, muito embriagado, seus amigos me ligaram então eu fui te buscar e te trouxe.

Franklin: Então, você, você tirou minhas roupas?

Lari: E limpei você, não tenha nada ai que já não tenha visto, tem café na cômoda ao seu lado, forte como você gosta e sem açúcar, se quiser tem deixei cigarros na gaveta, já que está bem eu vou indo embora. -Ela se levanta e se dirige a porta em direção a saída do quarto, rapidamente me levanto indo em sua direção.

Franklin: Lari, Lari espera! Olha, não vai, fica, por favor, eu, eu gosto muito de você, eu gosto mesmo e não diga que nunca notou, eu sempre deixei isso bem claro, eu estou aqui agora olhando nos seus olhos que eu amo tanto e dizendo, pedindo, eu gosto de você, por favor fica? – Ela me olhou confusa com aqueles olhos castanhos profundos capazes de rasgar a pele de quem observa, como se um pensamento rápido estivesse em sua mente, perturbando seus pensamentos, bagunçando o que estava ali dentro.

Lari: Eu não quero me envolver agora, desculpa... é que não dá sabe.

Franklin: Lari, não faz isso, você veio até aqui, cuidou de mim, não me diga que isso não significa nada.

Lari: Desculpa, eu... realmente não dá... – Outra vez ela vai em direção a porta, ela está partindo, outra vez eu a vejo escapando entre meus dedos, do limiar da alma, da minha vida –

Franklin: Lari antes de ir, só me responde uma coisa, você gosta, você sente algo por mim? – ela para, honestamente pensei que não pararia, pensei que sairia sem parar, mas não se devo ter esperança nesse gesto, quando a paixão acompanha o amor tudo fica intenso, confuso, até mesmo os mais calmos e simples sentimentos, tornam-se turbilhões furiosos dentro de nós. De repente ela vem em minha direção e me abraça, eu a aperto contra meu peito e sinto o cheiro dos seus cabelos, ah são como os perfumes que as flores exalam na primavera.

Lari: Eu não tenho uma resposta agora, desculpe.

Eu a beijei na testa e então ela partiu, sentei na cama pensando em

tudo que havia acontecido, também não conseguia ter uma resposta

para o que ocorreu ou deixou de ocorrer.

Peguei o cigarro na gaveta da cômoda, Lucky Strike, ela ainda deixou os que eu gosto; liguei o som e fiquei ao som de Billie Holiday com "All of me":

"Tudo de mim por que não toma tudo de mim?
Será que você não vê?
Eu não me sinto bem sem você.
Tome meus lábios
Eu quero perdê-los
Tome meus braços
Eu nunca mais usarei eles..."

Me servi com um copo de whisky e então comecei o meu dia, sem Lari outra vez.

Franklin S. Monteiro – 26/09/2017 – 23:32

Escritos aleatórios de um quase bêbadoWhere stories live. Discover now