Fascínio - Capítulo II

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[...]

     Aos poucos, sua mente voltava ao passado. Tudo havia mudado quando ouvira uma discussão entre seus pais. Estava com doze anos na época. Henrique havia saído com alguns amigos, sendo quatro anos mais velho que ela, já havia conquistado um pouco de liberdade.

     Júlia assistia televisão em seu quarto, quando resolveu descer para tomar um copo de leite. Foi então que ouviu vozes alteradas vindas do escritório de seu pai, que ficava ao lado da sala de estar.

     _ Responda! Júlia é minha filha?

     _ Como pode me fazer essa pergunta? Claro que ela é sua filha!

     _ Mentira! Eu descobri tudo sua... vadia!

     _ Pelo amor de Deus, Osmar, fale baixo...

     _ O próprio André me confessou tudo! Meu melhor amigo e minha mulher...

     _ Ele mentiu para você, Osmar; na verdade, ele tentou várias vezes...

     _ Cale a boca!

     Como no passado, Júlia cerrou os olhos ao lembrar que, naquele momento, seu pai desferiu um tapa em sua mãe.

     _ Estúpido!

     _ Cada vez que eu olhar para Júlia, lembrarei da sua traição! Por isso já me decidi... ela irá para um colégio interno, na Suíça!

     _ Não! Está louco?!

     _ Você deve matar a saudade daquele miserável quando olha para Júlia... E é devido a isso que eu quero que ela suma!

     Duas semanas depois, Júlia era arrancada do seio da família. Somente após quatro longos anos, ela retornava ao convívio familiar, mas, agora, com carga concentrada de mágoa e raiva. Júlia nunca deixou transparecer que sabia de tudo, somente por este motivo é que ainda o chamava de pai.

     Ao sair do devaneio, murmurou para si:

     _ Não... não vou me condoer pelas dificuldades financeiras do meu "pai"... ele nunca teve pena de mim... que continue colhendo o que plantou!

     Batidas na porta chamaram sua atenção:

     _ Júlia! É o Henrique; você está bem?

     Ela respirou fundo, ergueu os ombros criando coragem para encarar a realidade.

     Henrique estava em frente à porta. Ao vê-la, resmungou:

     _ Desta vez você exagerou, maninha.

     Júlia passou ao lado dele, caminhando ao centro da sala. Ao notar a ausência de Nathan, aproveitou para perguntar:

     _ Por que não me falou sobre o... sócio?

     _ Papai pediu para que eu não comentasse nada até que as coisas se ajeitassem.

     _ Ainda corremos o risco de falirmos?

  _ Não, Nathan entrou com boa injeção numerária e fez mudanças significativas na administração.

     _ E como acharam esse santo milagroso?

     Nesse momento, ouviram um ruído vindo da porta, anunciando o retorno de Nathan.

     _ Mais tarde conversaremos sobre isso. _ disse Henrique, encerrando o assunto.

     _ Espero não estar interrompendo...

     Júlia assustou-se com a forte emoção provocada pela voz marcante.

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