O romance épico de Valentin & Valentina

10 - Valentin

Assim que entro pela porta dos fundos do restaurante sinto uma mão se enrolar em meu braço e abaixo o rosto para encontrar Anne me encarando com os lábios apertados e um olhar não muito amigável no rosto.

— Você chegou. — Ela me puxa para o escritório antes que eu alcance o salão. Como hostess do Constatini's ela tem acesso a quase todas as áreas, mas acho que a permissão para entrar no escritório ela ganhou depois que se tornou uma das antigas namoradas de meu tio. Diferente das outras garotas com quem ele saiu, Anne se tornou uma boa amiga e, para a surpresa de todos, ela tem mais de trinta anos apesar de não parecer.

— O que eu fiz? Não estou muito atrasado. — Olho o horário na tela de meu celular e vejo que cheguei meia hora antes do normal, mas isso não é muito animador porque nunca há muitos clientes no início da tarde e eu não tenho nenhuma expectativa de ganhar mais gorjetas.

— Não é nada disso. — Ela franze as sobrancelhas e se prepara para perguntar o que aconteceu, como se só tivesse notado que cheguei cedo agora que mencionei, mas balança a cabeça para afastar o pensamento. — Uma garota veio aqui procurar por você. Ela parecia estar irritada, por isso acho bom você estar preparado caso ela volte.

— Uma garota? — Odeio a forma como minha voz sai cheia de expectativa.

Parte de mim torce para que seja Valentina. Não nos falamos desde a tarde de sábado, quando praticamente fugi depois de perceber que as chances dela se apaixonar são quase nulas. Eu pensei em ligar e pedir desculpas, porém toda vez que eu estive prestes a fazer isso lembrei que ela está empenhada em continuar com o plano louco de procurar caras através de uma lista e me recusei a fazer a chamada. Eu deveria ter negado seu pedido desde o início, deveria ter falado que aquilo era insano, mas não o fiz e agora não sou capaz de continuar fingindo que estou bem com tudo. Eu deveria ter feito muita coisa que não fiz ao longo desses anos.

— Não é a Val?

— Se fosse eu já teria puxado sua orelha por pensar que você fez algo errado com ela. Essa garota eu nunca vi. — Sem permitir que eu faça mais perguntas, Anne me deixa sozinho.

Antes que eu saia do escritório reparo que há um envelope em cima da mesa de meu tio igual aos que ele recebe uma vez por mês e os esconde dentro de uma caixa. Por mais que eu sinta uma curiosidade enorme para saber o que há nestas cartas e o motivo para nunca abri-las, consigo me conter. A tentação de saber que posso finalmente descobrir quem é Ellie e o que ela quer com tio Stefano é muito grande, por isso deixo o lugar às pressas.

Não vejo ninguém no salão principal além de Mario, um homem de quase cinquenta anos que volta e meia aparece no restaurante para comer lasanha e beber o máximo de cerveja que consegue sem perder as consciência. Ele é um homem bem engraçado, mede cerca de um metro e meio tanto em altura quanto em largura e sempre que Val o vê ela diz que Mario deveria ter sido um lutador de sumô quando era jovem.

Após atendê-lo e notar que não tenho mais nada para fazer eu me sento atrás do bar e aproveito para fazer o dever de casa. Meu tio sempre ameaça cortar minha mesada se eu deixar de fazer as lições e como eu quero ter o suficiente para comprar um carro antes de me formar na faculdade, prefiro não arriscar receber uma advertência por isso.

No meio da tarde Zander liga para jogar conversa fora, assim como eu, ele está tendo um dia extremamente parado no café em que trabalha. Depois de contar tudo que fez durante o final de semana e chorar um pouco por um idiota ter arranhado a lateral de Sue em um estacionamento a conversa acaba. Eu entendo sua dor, afinal se eu tivesse um carro também seria bem ligado à ele.

— Você pode atender o cliente da mesa sete? O salão encheu enquanto você estava no celular. — Anne pergunta ao me ver desligar o mesmo.

Levanto a cabeça para observar o homem sentado na tal mesa. Ele não parece ser muito mais velho que eu, talvez tenha a idade de Zander. Estudo seu cabelo escuro e os ombros largos, mas acabo desistindo de tentar adivinhar quem ele é e me aproximo.