03 - Valentin

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Após explicar (mais uma vez) para tio Stefano que preciso de meu próprio carro acabo me atrasando para a aula. Não é nenhuma surpresa que eu esteja atrasado, mas é surpreendente que haja café da manhã servido na mesa quando desço as escadas e passo pela cozinha.

— Valentin. — Meu tio chama de algum lugar na sala de estar.

Antes de ir até ele pego uma torrada em um dos dois pratos e tomo um longo gole de um dos capuccinos servidos. Ele grita por mim mais duas vezes e acabo desistindo de tomar a bebida, talvez eu consiga parar em algum lugar durante o caminho para a escola e compre uma boa xícara de capuccino. Como não quero apostar na sorte porque sei que Valentina não vai esperar por mim hoje com café em mãos, pego alguns trocados no pote cheio de moedas que fica ao lado da porta e finalmente vou até a sala de estar. Ao atravessar a porta imediatamente tenho vontade de sair de fininho e fingir que não estou vendo meu tio beijando uma loira no sofá. Não sei quem é a mulher, ontem quando deixei o restaurante ele ainda estava trabalhando e disse que ficaria até tarde, então acho que deve ter sido alguma cliente que acabou ficando depois do expediente. Ela não seria a primeira. Um pouco envergonhado, eu forço uma tosse e os dois adultos se separam. A mulher passa os dedos pelo cabelo enquanto meu tio exibe um sorriso largo e satisfeito.

— Você me chamou. — Explico após perceber que os dois estão esperando que eu fale algo.

— Sim. Essa é Linda. Ela queria te conhecer. — Ele se levanta e caminha em direção à cozinha. Ao passar por mim pisca um dos olhos e ergue as sobrancelhas como quem diz "a mulher que passou a noite comigo é muito bonita".

— Ele é uma graça! — A tal Linda diz de onde está, forçando—me a lhe encarar. Ela deve ter metade da idade de meu tio, mas acho que não se importa. Segundo Valentina, meu tio é bonito o bastante para que uma mulher de vinte e poucos anos queira ficar com ele. Secretamente, acho que minha amiga também tem uma queda por ele.

— Muito prazer Linda. — Tento sorrir, mas nesse exato minuto reparo que ela está vestindo uma blusa de meu tio que não esconde muito bem suas pernas longas e torneadas. Imagino o que eu veria se o tecido subisse mais um pouco e logo toda a minha atenção está em suas coxas.

— Você é tão bonitinho. — Ela contorna o sofá e vem até mim. Quando eu penso que a situação não poderia ficar mais esquisita ela envolver meu rosto com as duas mãos e aperta minhas bochechas. Aparentemente o fato de eu ser uns dois palmos maior que ela e termos idades próximas não é o suficiente para que ele não me trate como um bebê. — Stefano me falou tantas coisas sobre você. Ele é um ótimo pai.

— Ele é meu tio. — Minha voz acaba saindo dura e Linda automaticamente recua. Suas sobrancelhas se franzem em confusão e eu me sinto forçado a contar parte do que aconteceu para que eu acabasse morando na casa de meu tio. — Meus pais me deixaram com tio Stefano quando eu completei três anos. Eles estavam passando por dificuldades e precisavam de ajuda para me criar.

— Oh! Eu sinto tanto. — Seus olhos castanhos ficam embaçados e ela me puxa para seus braços. Linda me aperta com vontade e eu me pergunto de onde ela tirou tanta força, mas não me importo muito ao sentir aas curvas de seu corpo encostado ao meu. — Pobrezinho, deve ter sofrido tanto longe de seus pais.

— Você nem imagina. — Dou meu melhor olhar de inocente e Linda puxa meu rosto até que eu encoste em seu ombro. Perfeito! Esse momento não poderia melhorar em nada, a não ser que ela decidisse trocar meu tio por mim.

— Valentin, pensei que você estivesse atrasado para a escola. — Meu tio fala atrás de mim, fazendo Linda me soltar. Eu viro para ele, porém antes que eu consiga falar qualquer coisa meu tio levanta uma mão e aponta para a porta. — Não quero ouvir desculpas, pigrone. Vá logo.

O romance épico de Valentin & ValentinaWhere stories live. Discover now