Navegando e Afogando

Diz-me que é mentira :O

Dia 9 de Abril

Para hoje tenho uma saída combinada. São ainda dez horas da manha, mas saio e vou até a igreja para conectar-me a internet e falar com o Saúl sobre como será a nossa saída. Mais uma vez não estava online. Pensei por um momento e decidi enviar-lhe uma mensagem no MSN ainda que ele estivesse offline pois quando se conectasse apareceria a mensagem. Enviei o meu número de telemóvel para se no caso ele quisesse levar adiante o convite que me tinha feito, poder dizer-me alguma coisa.

São apenas onze horas e já tenho o meu quarto arrumado, agora penso em mais coisas para fazer porque não quero que a minha mãe me tente impedir mandando-me fazer algo que não me passou pela cabeça. O Saúl ainda não me disse nada, fico um pouco nervosa porque se ele for muito tarde a ‘net… Na verdade estou com muita vontade de sair hoje pois está bom dia, o sol brilha forte, faz calor e o céu está tão lindo!

Enquanto espero que me dê algum sinal, uma vez que estou cheia de esperanças, começo a fazer o almoço. Um arroz de marisco que fica pronto mesmo as duas e meia. Só me falta tomar banho e vestir.

Quando estou prestes a entrar no banho o telemóvel começa a tocar.

 Hoje quero ficar bonita. Vou vestir as minhas calças justas cor de tropa, umas botas pretas e uma blusa branca com um decote em forma de “V” e como está um bom tempo levo apenas um casaquinho de algodão de cor negra. O cabelo, como o tenho com tranças compridas, levo-o atado vejo-me umas quantas vezes ao espelho e acho que estou bem.

- Mãe, vou dar uma volta e ver se encontro uma colega minha que mora por aqui. – A desculpa foi acabada de inventar, mas por sorte foi acreditada.

- Está bem. – Disse continuando a olhar para a televisão. Quando eu estava já a abrir a porta ela chama-me.

- Mãe?! – Começo a rezar para que não me faça mais preguntas e por sorte só me pede que desça com o lixo. – Até logo!

Encontro-me com o Saúl no mesmo sitio que da primeira vez. Cumprimentámo-nos com simples beijos na face.

-Então onde vamos? – Perguntei.

-Vamos ao bar de um amigo meu, bebemos qualquer coisa, conversamos… Topas?

- Sim, na boa!

Durante o caminho conversamos um bocado sobre como tinha sido a Pascoa, contei-lhe principalmente do meu tio o que fez com que se risse. “Com um tio desses não precisas ver humor na TV” disse ele. – Sim mais ou menos isso. – Respondi rindo-me com ele.

Estava a acha-lo uma pessoa fixe.

Quando chegamos ao bar do seu amigo sentamo-nos numa explanada pedi-mos bebidas e ele oferece-me um cigarro. Já a muito tempo que não tocava em nenhum, tinha aproveitado a minha vinda para Espanha para deixar os maus vícios.

- Não fumas?

-Não deixei quando vim para cá.

-Oh então não faz mal que fumes um para descontrair.

Acabei por ceder e fumar um. Dez minutos depois de estarmos na explanada apenas eu e ele,  chegam amigos seus. Duas raparigas e um rapaz. As raparigas chamam-se Elena e Lorena e são para surpresa minha são lésbicas. Nunca tinha conhecido lésbicas mas não dei a entender que estava surpresa, uma vez que aqui em Espanha há montes de Homossexuais. Elena era linda, tinha olhos verdes, cabelo escadeado e liso negro e parecia ser mais feminina. Lorena era mais maria rapaz, levava o cabelo rapado e três rastas na parte da nuca. Tinha um piercing no lábio e um alargador na orelha. Apesar da sua aparência um pouco pesada era bem divertida e simpática. O rapaz era o Mario, um pouco forte e alto e com uma cicatriz na sombra selha do olho esquerdo.

O Mario chamou o Saul para que fossem para dentro do café ter com o Xavi, o amigo dono do bar, enquanto eu ficava um pouco acanhada lá fora com as raparigas.

- Como vai Portugal? – Fiquei surpresa quando a Lorena me perguntou, porque não lhes tinha dito de onde era. Na verdade mal trocamos palavras.

- Como sabes que venho de lá?- o nosso amigo Saul já falou-nos de ti.

- Ai sim? E que foi que ele disse mais? É que conhecemo-nos a pouco tempo duvido que vos tenha contado muito.

-Contou-nos o básico e algo mais que nós contamos-te mas que não lhe podes dizer que te contamos se não chateia-se connosco. – Disse Elena aproximando-se da minha cara e falando num tom mais baixo. – Disse que se tinha apaixonado por ti desde o primeiro dia em que estiveram juntos.

Fiquei surpresa e engoli em seco. Não podia ser, eu só me queria divertir, ele nem eu nos podíamos ou devíamos apaixonar. Ia a dizer algo quando ele entrou com o Mario e com o Xavi que me foi apresentado agora como Boss para os amigos. Começaram a tirar pacotes da mochila que continham Marijuana. Iam fumar aquilo, comecei a preocupar-me porque o Saul tinha de levar-me para casa e eu não o conhecia a tempo suficiente para saber como seriam os seus atos depois de fumar. Ofereceram-me mas eu não aceitei. Insistiram, mas eu não podia aceitar porque ia para casa e não tinha a mesma liberdade que eles e a minha mãe se aperceberia. Eram oito horas da noite.

Estávamos todos a conversar ainda que eu fosse a única lucida, tinha apenas bebido duas cervejas de copo. Eles tinham bebido litros e mais fumar e o Saul não era exceção.

- Saul, podes levar-me já? – Perguntei depois de guardar o telemóvel ao ver as horas.

- Espera um pouco. – Disse-me continuando a conversar de seguida.

Comecei a ficar quente de nervos, eu tinha de ir para ca, se não a minha mãe matava-me.

As nove e meia levou-me.

Ai, estou lixada, completamente lixada. Fiz o sinal da cruz antes de tocar a campainha.

- Estavas a onde? – disse a minha irmã ao abrir a porta. – A mãe saiu mas disse para lhe dizer-mos quando tu chegasses.

-Saiu a que horas? – perguntei um pouco receosa e com esperanças de que tivesse sido antes das oito.

- A duas horas para aí.

- Estava com uma amiga. Fomos a um bar e perdi-me um pouco com a hora. – Entrei e fui para a cozinha. Abri a panela e perguntei se já tinham jantado. Não, estavam a minha espera, a minha irmã e o meu irmão. – Então venham jantar!

-Liga para a mãe.- Disse o irritante do meu irmão enquanto entrava na cozinha.

Liguei, dei a mesma desculpa que tinha dado antes a minha irmã e apenas recebi ordens de pô-los a dormir cedo por causa das aulas do dia a seguir e porque os meus pais chegariam tarde.

Até agora tenho estado com sorte!

B.C: Hoje foi um bom dia. Pela primeira vez saio e conheço gente nova. Apesar das descobertas que fiz hoje, a que mais me choca nem é o facto de o Saul consumir drogas, mas sim estar apaixonado por mim. Bem, dizem que está. Mas desde o primeiro dia que esteve comigo? Então foi essa a razão do beijo no carro? Não pode ser! Ai o que é que eu faço agora? Vou rezar para que seja mentira porque senão vou ter de me afastar dele. E agora? Devo perguntar-lhe e esclarecer as coisas mas correndo o risco de que sobre para a Elena e Lorena ou calo-me permanecendo na duvida e correndo o risco de que essa sua paixão aumente?

*A coisa está preta para a preta L!* Vou dormir para esquecer.