Uma lembrança que nao se esquece

295 1 0
                                    

Terça-feira, 3 de Abril – Não faz sol, mas está um bom tempo. Sei porque as folhas das arvores não se mechem e porque estou apenas com a minha t’shirt preferida verde.

Hoje não saí de casa.

Acordei, saquei o telemóvel de baixo da almofada e quando caí em mim não só dei conta de que eram 12 horas e 24 minutos como que tinha uma nova mensagem. “Deve de ser da operadora a fazer campanha” pensei, mas ao abrir antes de ler o nome do remetente li a palavra “saudades”. (Se naquele momento estivesse a ser filmada, aposto que o meu vídeo seria um dos mais vistos no youtube, com o titulo de monstro porque tinha cara de idiota, apaixonada, cheia de ramelas e com um sorriso em que num dos cantos da boca havia a marca de baba seca e mais o cabelo despenteado). E como eu estava a dizer, abri a mensagem que era do rapaz com quem tenho uma relação meio estranha. Vou ter de contar porque hoje estou para o romance. Então é o seguinte: antes de vir para Espanha, tinha um namorado e quando vim para cá terminamos. Toda a gente diz que é estupido e de fracos, incluso bombardeiam-me com a ideia mais dolorosa de que se ele aceitou que terminássemos foi porque na realidade não gosta de mim. Odeio quando as pessoas sabem da minha vida e por isso metem-se com perguntas e palpites sobre ela. Isso leva-me ao mais profundo estresse e descontrolo sentimental, sem estar a exagerar. Ele chama-se Fred e já a um ano e três meses que o conhecíamos e a três meses namorávamos pela segunda vez. È uma longa historia que de momento não quero contar, porque não só me emocionará, como também é uma história para ser contada em outra ocasião, numa outra obra, quem sabe… se é que me percebem. Antes que eu tivesse de me mudar para cá, ainda que já soubesse que viria desde que voltamos,  não dei o braço a torcer para que tivéssemos uma boa relação. Estávamos sempre a discutir por causa de infantilidades da minha parte então decidimos dar um tempo. Até hoje me pergunto o porquê desse tempo se a distância se encargaria dela por si só. Não deixei de gostar dele nunca. Mas algo mudou, que foi a intensidade com que eu o queria. Passei de gostar muito a amar imenso, como ao estar junto a ele nunca me havia dado conta. O tempo em que estamos separados de verdade me faz ver o quanto desvalorizei tudo o de bom que tinha.

Através da internet e do telemóvel, os que marcam a nossa distância, conversamos e decidimos que estaríamos separados mas deixando uma porta aberta para ver o que o futuro nos proporcionaria, sem ter de esconder sentimentos nem palavras. É como uma relação aberta a distância. Eu confio nele e acho que ele também confia em mim de tal modo que haja o que houver, magoe ou não terá de ser dito com toda a humildade e sinceridade.

Bem a mensagem diz: “Estou a pensar em ti. Tão longe mas tão perto, quase que te toco. Bem gostavas, assim como eu. É ter paciência, para isso tenho muita. Saudades jeitosa, beijo grande.”

Cada palavra, cada mensagem… vou comer e logo ligo para ele.

Fui preparar o meu pequeno-almoço e comecei a comer, mas não consegui terminar sem telefonar-lhe. Estive ao telefone quarenta e cinco minutos que me souberam tão bem, mas claro muito pouco para curar uma saudade de dez meses que não nos vemos sem ser através de fotografias subidas no facebook.

Hoje passei o dia todo a pensar no Fred e a lamentar o facto de eu não ter sabido aproveitar todo aquele ano em que tive a oportunidade de estar junta e dar-lhe todo o meu amor. Mas como o velho ditado diz “Não devemos chorar sobre o leite derramado” e como eu penso “Dias grandes e melhores virão” e então eu terei a oportunidade de remendar todos os meus erros. Deus queira.

B.C: Nunca acreditei no amor até vivê-lo como agora vivo. Tenho a certeza que com a distância a que estamos um do outro, com os rapazes bonitos que por aqui e por lá andam e com o tempo em que não nos tocamos nem nos vemos, se não fosse o amor quase que nos teríamos esquecido. Digo isto porque também existe o carinho e a amizade para manter alguém vivo nos nossos pensamentos. Tenho a certeza que é amor, porque não sei parar de pensar nele, não sei dormir sem sonhar, acordar sem lembrar ou imaginá-lo tocando-me o rosto como no passado aconteceu. É amor porque é correspondido com esperança, carinho e fé e em algumas vezes até mesmo telepatia. Hoje assim como não deixei de pensar nele o dia todo, vou me deitar a pensar nele.

 “ É o amor que mexe com a minha cabeça e me deixa assim.”

Navegando e AfogandoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora